Falarei um pouco, talvez apenas um por cento, dessa arte transformadora na vida de adultos e das crianças. Venho aqui, mais uma vez, relatar os fatos vividos por mim em sala de aula.
No início do ano, ao entrar pela primeira vez em uma turma de 5º ano com crianças de 10 e 11 anos, me deparei com um aluno com deficiência auditiva. Na hora me perguntei: “Como vou lidar com o meu aluno se não sei a linguagem de libras?”. Mas, com a linguagem da arte e da pedagogia sempre conseguimos.
Aos poucos, fui vendo como é gratificante oferecer a arte para que ele possa se expressar da melhor maneira possível. Nesse caso ele é um aluno bem discreto em suas atitudes, sempre fazendo as propostas de artes visuais, até que em determinado momento chegamos ao conteúdo de teatro.
Conversando com a psicóloga que atende o meu aluno, pois sim temos equipe multidisciplinar, fui expor as propostas que trabalharia com a turma. Por ser um aluno bastante tímido, ela me pediu para dar lhe um papel de autoridade, braveza, rigidez e poder.
Fiz isso e expliquei toda a proposta para a turma, informando o papel que cada um teria. Que alegria ver esse menino se empoderando de autoridade sobre os outros. Eis que desabrochou uma forma de expressão que acredito que ele não sabia ter. Uma forma que mesmo sem sons, com apenas gestos e postura o fizeram ter uma autoridade acima de todos os outros. Não que essa autoridade seja necessária na vida, porém é necessário que cada um saiba se impor, mostrar os seus desejos e saber de seus direitos como pessoa na sociedade.
É através dessa arte, o teatro, que podemos nos empoderar de nossas ações. Abaixo uma citação da Declaração de Salamanca na Espanha, onde teve início a concepção de escola inclusiva.
Em 1994, na Espanha, delegados de 87 países referendaram um conjunto de princípios e diretrizes, sob a designação de “Declaração de Salamanca”, cujo paradigma fundamental é a educação como direito, em uma concepção de escola inclusiva. Assim, as escolas devem acolher crianças com ou sem deficiência.
Educandos com necessidades educacionais especiais devem ser incluídos nos programas educacionais previstos, mesmo quando apresentarem desvantagem severa. A Escola Inclusiva deve adaptar-se às necessidades do alunado, respeitar o ritmo e os processos de aprendizagem, propondo uma pedagogia centrada nas potencialidades humanas, em contraposição à sociedade que inabilita e reforça os impedimentos:
“(…) as escolas devem acolher todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Devem acolher crianças com deficiências e bem-dotadas; crianças que vivem nas ruas e que trabalham; crianças de populações distantes ou nômades; crianças de minorias linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos ou zonas desfavorecidas ou marginalizadas (…) O desafio que enfrentam as escolas integradoras é o de desenvolver uma pedagogia centralizada na criança, capaz de educar com sucesso todos os meninos e meninas, inclusive os que possuam deficiências graves. O mérito dessas escolas não está só na capacidade de dispensar educação de qualidade a todas as crianças; com sua criação, dá-se um passo muito importante para tentar mudar atitudes de discriminação, criar comunidades que acolham a todos e sociedades integradoras”. (Salamanca: 1994 p. 18).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei 9394/96 de 20.12.96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. DF: Diário Oficial da União nº 248 de 23.12.96.
BRASIL: MEC/INEP. Plano Nacional de Educação e do Desporto. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, 1997.
DECLARAÇÃO DE SALAMANCA e Linha de Ação Sobre Necessidades Educativas Especiais. Brasília: CORDE, 1994.
Simone Rocha Matos é Pedagoga formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Mestranda na linha de Educação Especial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ e professora de Educação Infantil do Instituto Benjamin Constant.