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Dor crônica e a necessidade de ser perfeito: a conexão corpo-mente

Mulher praticando yoga na praia.
dimaberkut / 123RF
Escrito por Priscilla Herrerias

Recentemente li a obra “A Mente Dividida” (The Divided Mind: the Epidemic of Mindbody Disorders), do Dr. John E. Sarno, autor do best-seller “Dor nas Costas: Conexão Corpo e Mente” (“Healing Back Pain”). Embora os livros sejam de 2006 e 1991, respectivamente, o assunto sobre o qual eles tratam – a relação entre mente e corpo e dor – ainda continua sendo quase um total mistério (ou mesmo um grande tabu) para a medicina ocidental.

Dr. Sarno (1923-2017) foi um médico estadunidense, especialista em reabilitação, que desenvolveu suas teorias em mais de cinquenta anos de trabalho na Universidade de Nova Iorque. Ignorado – e muitas vezes desprezado pela classe médica –, Dr. Sarno ajudou milhares de pacientes com dores na lombar, cervical, ciático, dores de cabeça, fibromialgia, túnel do carpo, entre outros distúrbios, a se curarem.

A dor crônica é um problema de saúde pública e também uma das indústrias mais rentáveis do planeta.

Frustrado com o sofrimento contínuo dos pacientes, apesar de inúmeras tentativas de diferentes tratamentos, Dr. Sarno começou a notar que esses pacientes, além da dor, em geral apresentavam em seus históricos outros distúrbios: gastrointestinais (como a síndrome do intestino irritado e refluxo), enxaquecas ou ainda alergias. Então começou a se perguntar: “E se na verdade todos esses distúrbios forem a mesma coisa?”.

Após exames que descartassem problemas estruturais ou doenças mais graves como câncer, por exemplo, Dr. Sarno observava a personalidade do paciente e suas experiências de vida, para chegar ao diagnóstico de TMS (tension myoneural syndrome/síndrome de tensão mioneural), nome dado pelo médico às diferentes formas de dor crônica.

A TMS é causada por uma leve falta de oxigênio devido ao fluxo reduzido de sangue em certos músculos e nervos do corpo. E a grande descoberta de Dr. Sarno é que, embora não tenhamos consciência, isso acontece por uma ordem de nosso cérebro!

A única e exclusiva missão da dor, segundo Dr. Sarno, é nos proteger. A dor é uma estratégia da mente para nos defender de emoções que seriam muito dolorosas ou muito ameaçadoras, como se em nosso inconsciente houvesse um reservatório de raiva e fúria, para onde enviamos nossas emoções reprimidas ao longo da vida. Quando esse reservatório está prestes a transbordar, nosso sistema começa a produzir dor, como uma estratégia para desviar nossa atenção e manter nosso foco no corpo físico e não em nossas emoções, que são vistas pelo sistema como mais perigosas. Como se nossa mente entendesse que lidar com a dor é mais fácil, menos perigoso do que lidar com essas emoções.

Isso não quer dizer que a dor não exista, que seja “imaginária”; pelo contrário, ela é intensa, pode ser bastante limitadora, restringindo a vida em muitos aspectos. Ela também pode mudar de lugar – a lombar que melhora e o ombro que começa a doer; a cervical que se recupera e o túnel do carpo que passa a estar molesto; a dor também pode mostrar-se ou alternar-se com dormência ou formigamento.

Dr. Sarno fala da raiva como um sentimento poderoso, que muitas vezes tem origem na infância. As pessoas mais propensas a desenvolver TMS, ou seja, as que tendem a encher mais rapidamente esse “reservatório” são as perfeccionistas, as que querem agradar, as que estão sempre disponíveis para os outros, as que têm para consigo mesmas um alto grau de cobrança… Quando não lidamos com essas emoções, presentes em nosso inconsciente, elas passam a ser uma força ameaçadora para nossa mente, que desvia nossa atenção para a dor.

Mulher de cabelos presos em rabo de cavalo pressiona a coluna cervical com os dedos.
Karolina Grabowska / Pexels

O tratamento revolucionário do Dr. Sarno consiste em educar os pacientes sobre as causas emocionais da dor – livros, palestras e em alguns casos, psicoterapia. O convite é para que eles entrem em contato com as emoções; muitas vezes é o que basta para que elas se apaziguem e a dor cesse.

Como disse anteriormente, Dr. Sarno foi ignorado pela grande maioria da comunidade médica, embora seus livros tenham sido best-sellers e muitas pessoas tenham se curado apenas com a leitura deles. Gostaria de ressaltar a você que está lendo este artigo e que sofre de dor: busque um médico para se assegurar de que não há nenhuma doença grave, nem nenhuma anormalidade estrutural causando a dor. No Brasil, há somente um livro traduzido do Dr. Sarno – “Dor nas Costas: Conexão Corpo e Mente” –, que explica em detalhes a TMS e o que você pode fazer.

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Certamente Dr. Sarno foi um grande pioneiro ao abordar claramente a conexão corpo-mente na medicina ocidental, coisa que tradições do outro hemisfério já fazem há muito tempo. Talvez tenhamos que realmente entender que a saída não está fora, mas dentro. Embora desejemos uma pílula mágica, uma solução rápida e indolor, talvez o único caminho seja entrar em contato com nosso eu interior mais profundo. E a dor traz com ela esse convite.

E se realmente escutarmos nossa dor como uma amiga, por mais difícil que seja? Sinto que aí pode estar um grande tesouro; um tesouro tão potente que poderá transformar radicalmente as nossas vidas.

Sobre o autor

Priscilla Herrerias

Sou formada em artes cênicas, pesquisadora das artes do corpo e do movimento. Seguindo esse caminho, comecei a me aproximar das terapias corporais. Sou formada em Myofascial Energetic Release (Liberação Miofascial Energética), uma terapia de toque profundo e consciente, pelo criador da técnica, Satyarthi Peloquin. Atualmente atendo em São Paulo, na Vila Mariana.

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