Autoconhecimento Convivendo Espiritualidade Meditação

Experiência Meditativa #1

Mulher idosa em momento meditativo.
goodluz / 123RF
Escrito por Luiz Gomes

Acabo de sair de uma meditação intensa. A princípio era para ser uma breve meditação, com o intuito de simplesmente acalmar a minha mente para que eu pudesse dar continuidade aos estudos de “A Voz do Silêncio”, de autoria de H.P. Blavatsky. Mas uma despretensiosa meditação tornou-se algo que me proporcionou uma sensação que eu jamais havia sentido.

Estava eu sentado em meu sofá com as pernas cruzadas e com as mãos em Mandala Mudra, sendo a mão esquerda acima da direita. Não havia até então me aprofundado neste gesto. Apenas o fiz de forma instintiva, copiando as formas que já vi nas representações de Buda Sakyamuni.

Pois bem… comecei meu processo meditativo sentado já nesta posição, mas com os olhos abertos fixados na direção do meu televisor desligado. Sua tela escura refletia a mim e ao meu entorno. Ao mesmo tempo, Ciço, meu cachorro de pequeno porte, brincava ao meu lado no sofá, às vezes subia no meu colo, mordiscava as minhas mãos, e não parava de se mexer. Observava serenamente os movimentos de Ciço refletidos no meu televisor desligado. Assim como todas as sensações que tais movimentos me proporcionavam. Estabeleci que só me mexeria para repreendê-lo se o seu comportamento causasse algum perigo ou se suas mordidas me causassem dor insuportável. E em caso de precisar repreendê-lo, apenas o afastaria calmamente e retornaria à minha posição.

A partir dessa interação, pude compreender que naquele momento Ciço estava agindo como se fosse os meus pensamentos e emoções. O mesmo que eu fazia com ele naquele momento deveria ser feito com as minhas oscilações internas. A partir daí, fechei os olhos e pus-me a observar a mim. Primeiramente foquei nos meus sentidos, começando pela audição e focando em tudo aquilo que meus ouvidos captavam. Dos barulhos mais evidentes aos sons mais sutis. Passei para o meu tato e percebi o peso do meu corpo pressionando o sofá, o vento do ventilador sobre a minha pele, o corpo de Ciço fazendo o estofamento do sofá se mexer ao balaço de sua agitação… Para o olfato, sentia o perfume dos incensos que havia acendido até chegar na visão. Como eu estava de olhos fechados, observava a escuridão e suas nuances proporcionadas pelo cerramento de minhas pálpebras, assim como efeitos residuais da luz que não mais se captava pela minha retina.

Foto aproximada de olho castanho.
Mark Arron Smith / Pexels

A partir de então, passei a observar os outros planos em mim. Das sensações físicas, fui para o plano das emoções, observava como as emoções se comportavam. Em minhas divagações durante o processo, estipulei termos-chave que pudessem descrever meus planos mais internos. Dessa forma, defini as emoções como passivas, pois elas não agem por si só, elas dependem ou da percepção dos sentidos ou das formulações da mente, que, por sua vez, classifiquei como criativa. Entendi que as emoções estão sempre em seus devidos lugares, mas só se manifestam conforme as circunstâncias captadas pelos nossos sentidos ou pelas criações que a nossa mente formulou, de acordo com as nossas experiências pretéritas ou por conteúdos do nosso inconsciente.

As emoções, pois, manifestam-se quando recebem estímulos de fora, seja por um susto, um medo, uma raiva instintiva, um desejo carnal… ou por estímulos da mente criativa, que geram sentimentos mais complexos como o sentimento de perda, a saudade, complexos de inferioridade, fobias sociais…

Após certo tempo em meditação, contemplando e compreendendo o jogo do dentro e do fora, senti uma energia (descrevo como energia, pois não alcanço outra palavra que chegue mais perto do que senti) que me fez perceber tudo à minha volta integrado a mim. Por toda a extensão do meu corpo, sentia-me preenchido pelo espaço à minha volta e da mesma forma sentia esse espaço entre as minhas mãos, ainda em Mandala Mudra. Foi a primeira vez que pude chegar perto da experiência contida em uma das máximas herméticas “O que está dentro é como o que está fora”. Pois a mesma energia que eu percebia em volta do meu corpo, trazendo uma sensação de algo infinitamente maior, era sentida no interior de minhas mãos em Mudra.

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Essa sensação, que eu queria que durasse para sempre, durou apenas alguns instantes. Após tais sensações, mantive-me mais um tempo com os olhos fechados, mentalizei algumas afirmações positivas para todos os seres e abri os olhos.

Ao abrir os olhos, avistei Ciço dormindo profundamente em frente ao sofá.

Sobre o autor

Luiz Gomes

Considero-me um buscador desde muito cedo. Não sou capaz de afirmar que nasci com essa inclinação, mas desde criança já mostrava entusiasmo para com os assuntos do alto. Passei por muitas religiões e filosofias ao longo da minha vida, e sem me prender venho conhecendo as mais variadas perspectivas dos que se atrevem a procurar por formas alternativas de significar a vida. Considero toda a minha jornada, como o próprio nome diz, uma jornada. Uma busca constante pela autorrealização, que no final das contas se traduz pela própria jornada.

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