O advento pode se tornar um dispositivo importante para a constituição de uma saúde contemporânea, especialmente se o aproveitarmos para colocar nossas ações e sentimentos em perspectiva.
Neste processo, ao olharmos para o ano que chega ao final, descrevendo e relatando nossas experiências e seus efeitos, podemos preparar o território da alma para receber forças intuitivas que nos fortaleçam para o que “há de vir”.
Aproximam-se as férias escolares. Pelas ruas, vitrines e fachadas, começam-se a avistar os marcadores de tempo, a indicar que é chegada uma época propícia para se avaliar as experiências vividas no ano que termina e começar a pensar naquilo que virá ou que pode ser tentado de modo diferente no que se aproxima.
Acredito que a composição de marcadores, especialmente de marcadores temporais, pode produzir certa saúde na alma contemporânea, acostumada a correr, correr, ansiar, temer e ver o tempo escorrer sem parar, em um mundo líquido.
Esses ícones exteriores, muitas vezes inspirados nas lições da natureza, que sempre apresenta marcadores externos, são modos de representação inventados pela cultura para dar sentido à experiência do viver.
Aproveitá-los de modo intensivo, eis uma escolha. Pois, por agora, escolhi aproveitá-los e adotar um marcador de tempo, que me ajude a reavaliar meu caminho de vida, mais ainda, que me fortaleça a compor novas trilhas em meio a matas desconhecidas.
Apesar de não pertencer a nenhuma religião, sempre gostei da tradição cristã, ligada ao catolicismo, da coroa do advento. Este “há de vir”, mexe comigo.
Assim, ressignifico a tradição, dando-lhe um ar mais laico, mantendo sua externalidade e seus gestos, mas trazendo outra simbologia para cada uma das etapas do ritual.
Este ano, resolvi modificar um pouco mais a tradição e focar o ritual na percepção dos meus processos de composição si-mundo. Para cada semana pré-natalina, estou a selecionar uma dimensão da minha vida para meditar, com vistas à abertura ao que há de vir.
À organização costumeira das quatro velas da coroa, gosto de acrescentar uma ao centro.
Na concepção simbólica que adoto, de base antroposófica, as cores representam os quatro reinos da natureza: a vela azul, mineral; a verde, vegetal; amarelo, animal e vermelho, hominal. Na minha versão, a vela rosa ao centro simboliza o que há de vir.
Nesta base, componho minha coroa do advento meditativa com etapas investigativas. Quando a vela azul acende, verifica-se o corpo físico, a postura, o volume e o espaço físico em que o ser se encontra, as condições do espaço que se habita, até mesmo do carro em que se anda.
Bom é fazer listas, sem julgar, apenas descrever e relatar.
Na vela verde, pensam-se os ritmos diários, semanais e mensais, descreve-se a saúde vital, a alimentação. Na vela amarela, dá-se uma visada aos relacionamentos, inclusive com os demais reinos da natureza.
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Quando a vela vermelha acender, olhe-se para os ideais, objetivos e metas, sempre de modo descritivo, rente ao factual.
Se tudo der certo, torço para acontecer, quando a vela rosa brilhar, é possível que se sinta uma intuição que fortaleça a alma para o “há de vir” do próximo ano.
