Convivendo

Hannah Arendt e os refugiados venezuelanos

Muro com coração pintado com as bandeiras de Venezuela e Brasil pintadas escrito: Bem-vindos! E portão com pessoas entrando
Escrito por Luis Lemos

A questão dos refugiados, em qualquer parte do mundo, época, contexto e país, é sempre muito delicada. Em primeiro lugar, porque ser refugiado é uma condição que se impõe à pessoa, não é uma escolha do indivíduo. Nesse caso, não existe livre-arbítrio, ou seja, a pessoa não escolhe ser refugiada, ela é expulsa. Em segundo lugar, porque ser refugiado é uma condição impositiva, é externa à pessoa. Em terceiro lugar, ser refugiado é uma questão de vida ou de morte. Como em todas as condições, a vida deve prevalecer, o refugiado é um sobrevivente, deixa tudo para trás e vai sem saber para onde, rumo ao desconhecido. Por fim, o ser humano torna-se refugiado principalmente por questões ideológicas.

Conforme a Convenção da ONU de 1951:

“O termo ‘refugiado’ se aplicará a qualquer pessoa que temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país”.

O termo refugiado ganha destaque depois da II Guerra Mundial. Milhares de pessoas foram expulsas de seus países, jogadas à própria sorte. Longe de tudo e de todos, tornaram-se vulneráveis a todo tipo de ideologia. Nesse contexto, cabe aqui lembrar a história da filosofa Hannah Arendt.

Por sua ascendência judia, Hannah expõe sua ação política e com isso intensifica seu pertencimento ao mundo. Para ela, a condição humana, título de um de seus livros mais famosos, é o ponto de partida para a construção da consciência política do refugiado.

Segundo a filosofa, a ação política do refugiado é o acolhimento da sua própria condição de refugiado. Quando o refugiado toma consciência de que ele é um cidadão de fato e de direito, ele começa a desenvolver o sentimento de pertencimento à cidade, ao país que lhe acolheu.

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Quanto à quantidade de venezuelanos em Manaus, existem pelo menos três hipóteses confirmadas: a primeira é a proximidade com a fronteira; a segunda é a experiência negativa que Manaus teve nas acolhidas dos haitianos em 2014 e 2015; e, por fim, o tamanho do coração do povo amazonense. Por esse último motivo, Manaus vem se tornando a cidade queridinha dos venezuelanos no Brasil.

No centro da cidade, eles estão em todas as esquinas, seja como vendedores ambulantes ou como pedintes. No comércio, o idioma mais falado é o “portunhol”. Apesar das dificuldades que passa o povo venezuelano em Manaus, eles tentam manter sua cultura, trabalhando seus artesanatos e comidas típicas.

Dessa forma, Manaus tornou-se o reduto dos venezuelanos no Brasil.
 No entanto, como toda cidade brasileira, ela não possui capacidade para absorver tantos refugiados de uma só vez e os problemas sociais só aumentam. Infelizmente, violência, assassinatos e estupros começam a ser registrados em nome dos venezuelanos.

Assim, é preciso muito mais do que boa vontade para lidar com os refugiados venezuelanos em Manaus. É preciso compreendê-los enquanto cidadãos, conforme ensinava a filosofa judia Hannah Arendt.

Os refugiados venezuelanos de Manaus estão precisando de trabalho, comida, vestimenta, itens de higiene pessoal. Por fim, e não menos importante, eles estão precisando de toda forma de ajuda humana, principalmente de afeto, carinho e amor.

Sobre o autor

Luis Lemos

Luís Lemos é filósofo, professor, autor, entre outras obras, de “Jesus e Ajuricaba na Terra das Amazonas – Histórias do Universo Amazônico” e “Filhos da Quarentena – A esperança de viver novamente”.

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