Comportamento

Homem não chora? Por que devemos quebrar esse estigma?

Homem branco com as mãos no rosto chorando.
Ayo Ogunseinde / Unsplash
Escrito por Eu Sem Fronteiras

“Estou indo embora agora, por favor não implora, porque homem não chora”. Quem não viveu numa caverna nos anos 2010 certamente se lembra desse hit, “Homem não chora”, que fez tremendo sucesso na voz do cantor baiano Pablo. Mesmo que de maneira sutil, como muitas obras de arte, essa canção reforça um dos maiores preconceitos e imposições da sociedade moderna: homem não pode chorar.

Mas quem disse que homem não pode chorar? Se choramos no momento em que extravasamos e “transbordamos” felicidade ou alegria, por que uma mulher pode chorar e um homem não pode fazer o mesmo? Preparamos este artigo para entender um pouco mais sobre por que aos homens é proibido o direito de manifestar seus sentimentos, enquanto as mulheres têm mais liberdade para fazê-lo. Entenda:

Masculino vs. feminino

Azul é cor de menino, enquanto rosa é cor de menina. Carrinhos? Brinquedo para menino. Bonecas? Brinquedo para meninas. Meninas extravasam chorando. Meninos extravasam sendo agressivos. Bem, seria possível listar pelo menos uma centena de preconceitos de gênero que nos são empurrados goela abaixo desde que somos inocentes crianças, ou seja, somos ensinados desde muito cedo que há coisas que meninos ou meninas podem e não podem fazer.

A psicologia, porém, já provou que nenhuma dessas supostas características é inerente, isto é, algo que nasce com a pessoa, que surge natural e espontaneamente. Essas limitações e preconceitos são fruto da sociedade em que vivemos, que impõe, por exemplo, que meninas não podem gostar de futebol ou que meninos não podem se interessar por maquiagem.

Quando entendemos, porém, que nada disso faz sentido, que somos criaturas individuais e que, por exemplo, extravasar chorando é algo que pode ser feito por homens e mulheres, já que não é natural de nenhum dos gêneros, mas do ser humanos, vamos começando a desconstruir preconceitos e a entender que podemos, sim, fazer o que quisermos, independentemente de o senso comum considerar aquilo “de menininha” ou “de menino”.

O arquétipo masculino

Homem branco limpando lágrima.
Tom Pumford / Unsplash

Há na sociedade, portanto, um arquétipo masculino, ou seja, um comportamento que se espera que o homem reproduza. Qualquer desvio nesse comportamento é mal avaliado e faz os homens ficarem com vergonha ou com medo, por exemplo.

Esse arquétipo masculino é bastante variável, mas poderíamos dizer que algumas características sempre estão presentes, tais como: a necessidade de se mostrar forte o tempo todo, porque homem não pode ser fraco; um desejo sexual ininterrupto, porque homem deve aproveitar toda e qualquer chance de fazer sexo; uma segurança inabalável, também para não demonstrar fraqueza; além de uma tendência a reprimir sentimentos e a descontá-los e extravasá-los em comportamentos agressivos como brigas, agressões físicas e bate-bocas.

Masculinidade tóxica

Esse conjunto de características bastante negativo que normalmente é associado ao homem é comumente chamado de masculinidade tóxica, isto é, um ideal masculino que, no fundo, é bastante prejudicial não só a si mesmo, mas aos outros no entorno. Quando sucumbe a essa masculinidade tóxica, por exemplo, um homem se fecha em si mesmo e compartilha pouco com outras pessoas, não demonstra sentimentos em momentos de fraqueza, como chorar, nem reconhece derrotas ou fracassos, porque estão a todo tempo tentando provar que são (os mais) fortes.

Combater essa masculinidade tóxica é o primeiro passo para levar uma vida emocional mais saudável. Ainda que esse seja um aprendizado diário, uma experiência individual entendida somente por cada homem, há uma dica que pode ser feita sempre que você estiver na dúvida se pode fazer ou não algo. Pergunte-se: eu estou fazendo/deixando de fazer isso porque sou homem? Se a resposta for “sim”, questione-se e decida o que é melhor para você, não o que vai fazer o homem considerar você mais ou menos homem.

Extravasando sentimentos

Homem branco chorando.
Christian Erfurt / Unsplash

Somos todos formados por uma série de sentimentos. Em poucos minutos podemos sentir felicidade, tristeza, expectativa e desilusão. Como seres humanos, somos dotados da capacidade de expressar esses sentimentos que sentimos, seja por meio da fala e do diálogo ou por meio de gestos e atitudes. Se somos todos, homens e mulheres, formados por sentimentos, por que um dos gêneros pode manifestá-los livremente e o outro não pode?

Talvez não haja uma resposta simples para essa pergunta, até porque não há motivo nenhum para um homem segurar suas emoções e se impedir de manifestá-las. Quando um homem se permite certa sensibilidade e se permite chorar e se emocionar, não está fazendo algo somente por si mesmo, liberando esses sentimentos represados ou que precisam ser manifestados. Quando faz isso, um homem, na verdade, ajuda a reforçar a muitos outros homens que sentir e demonstrar sentimentos são atitudes que podem ser adotadas por qualquer um, seja homem ou mulher. Homem chora. Homem fica triste. Homem se sente fraco também. “Ser homem” não é ser forte, portanto, mas transformar sua vulnerabilidade em força, até porque somente aquele que é mais corajoso tem força suficiente para assumir sua vulnerabilidade.

Conselhos

Mesmo quando está disposto a se abrir e a quebrar os preconceitos, é comum que o homem não saiba nem por onde começar a mudar o seu comportamento, por isso preparamos algumas dicas para ajudá-lo a dar os primeiros passos nesse combate à masculinidade tóxica.

Expresse os seus sentimentos: esse conselho serve para qualquer situação. Se você quer abraçar um amigo, abrace. Se quer dizer que ama a pessoa por quem está apaixonado, mas está com medo de demonstrar fraqueza, ignore isso e diga. Demonstre afeto e amor quando sentir. Não guarde para você. Não há problema nenhum em demonstrar sentimentos e sensibilidade. Se fizer isso, você vai perceber como as suas relações vão melhorar.

Converse com as pessoas: todo mundo tem problemas, todo mundo se chateia, se estressa e se entristece. Você não é mais fraco ou menor do que ninguém por estar se sentindo mal, então não tenha vergonha de conversar com alguém em quem você confie. Pode ser um amigo, a sua ou o seu parceiro, um familiar. Se você estiver precisando conversar, quiser um conselho ou quiser somente desabafar, converse com alguém de confiança e fale abertamente sobre o que sente. Pode ser difícil no começo, mas você vai ver como é ótimo contar com uma rede de apoio.

Chore, permita-se ser fraco: ninguém é forte o tempo todo. Insegurança, inclusive, é uma das características mais fortes naqueles que tentam demonstrar que são fortes o tempo todo. Se você precisar chorar, seja sozinho ou na presença de alguém, não tenha vergonha. Isso não o fará menos homem nem mais fraco. Deixe seus sentimentos fluírem. O que acontece com uma represa que não pode deixar sua água fluir? Um dia ela estoura de tanto líquido acumulado, certo? Não espere isso acontecer.

Seja você mesmo: você não tem o menor interesse em futebol? Você ama moda? Você gosta de assistir a um filme bem triste, daqueles que fazem chorar? Você odeia carros e filmes de ação? Dê ouvidos aos seus gostos, às suas vontades e à sua personalidade. Não faça algo do qual não gosta somente por achar que é o que um homem deve fazer, nem deixe de fazer o que gostaria de fazer apenas por terem convencido você de que “homem de verdade” não faz isso. Seja sempre você mesmo.

Procure terapia: muitas vezes, carregar o peso da vida e das dificuldades sozinho, sem ajuda, fica difícil demais. Tudo bem recorrer a alguma ajuda para “colocar a casa em ordem” e se entender um pouco mais. Se você sente que precisa falar sobre acontecimentos do passado, desconfortos do presente ou ansiedades do futuro, procure um profissional e dê início a uma psicoterapia. Isso vai te ajudar a se entender e a compreender por que você faz ou deixa de fazer isso ou aquilo.

Você também pode gostar

É consenso que a masculinidade tóxica não traz nenhum benefício aos homens, então por que deveríamos continuar nos comportando de acordo com ela? Reconhecer padrões e preconceitos impostos por algo externo a você é essencial para conseguir entender e aceitar o homem que você é, agindo de acordo com a sua essência e deixando os sentimentos fluírem. Homem, se der vontade, chore mesmo!

Sobre o autor

Eu Sem Fronteiras

O Eu Sem Fronteiras conta com uma equipe de jornalistas e profissionais de comunicação empenhados em trazer sempre informações atualizadas. Aqui você não encontrará textos copiados de outros sites. Nossa proposta é a de propagar o bem sempre, respeitando os direitos alheios.

"O que a gente não quer para nós, não desejamos aos outros"

Sejam Bem-vindos!

Torne-se também um colunista. Envie um e-mail para colunistas@eusemfronteiras.com.br