Autoconhecimento

O Corpo como Caminho

Escrito por Priscilla Herrerias

Enquanto você lê esse texto, talvez já esteja há algum tempo no computador ou celular… Já parou para pensar (e sentir) como, nesse momento, estão os seus ombros? Sua coluna? Seus joelhos? Que partes dos pés tocam o chão?

“Vocês fizeram uma longa viagem…
Para chegar ao viajante!”

(A conferência dos pássaros, de Farid Ud-Din Attar)

Esse é o meu convite a você, leitor, entrar em contato com as suas sensações, nem que seja só pelo tempo que durar essa leitura…

Há exatos quatro anos eu me aventurava pelos Pirineus, divisa entre França e Espanha, iniciando algo que sempre soube que gostaria de fazer: o caminho de Santiago. Em abril de 2014, uma época bem conturbada em minha vida, percebi: se não for agora, quando será? Respirei, procurei coragem e, mesmo com medo, tomei a decisão de ir.

Para quem nunca ouviu falar, o “caminho” é uma rota de peregrinação existente há séculos com destino para Santiago de Compostela, Galícia, noroeste da Espanha. Só o nome “Compostela” já exercia um fascínio sobre mim, ao remeter-me inevitavelmente ao brilho das estrelas…

Dentre as várias rotas que levam para Santiago, a mais conhecida é chamada de Caminho Francês e está justamente debaixo da Via Láctea, uma latitude considerada mágica… Antes de existir Santiago, a peregrinação já acontecia e os caminhantes pagãos buscavam o fim da terra, “Finisterre” (“Fisterra” em galego), o lugar onde morria o sol. Dizem que os antigos peregrinos se guiavam pelas estrelas e, durante o dia, acompanhavam as cegonhas que, ao que parece, traçam a mesma rota no céu. Caminha-se olhando para a própria sombra (Aliás como estão as pernas, a coluna e sua respiração, leitor?).

O primeiro ensinamento que surgiu foi o de escutar atenciosamente o meu próprio corpo, me escutar. Questão de sobrevivência mesmo. Para evitar as bolhas nos pés e o cansaço excessivo, constantemente tinha que me perguntar: Do que necessito? Como estão os meus pés? Como estão os meus ombros (levava uma mochila com tudo o que precisava)? Necessito descansar agora? O que comi? Quanto de água vou precisar? 

A partir da escuta do corpo também começava a ouvir as minhas emoções e pensamentos. Histórias de passados recentes e distantes chegavam até mim, muitas vezes memórias e sentimentos me surpreendiam ao longo dos aproximadamente 25 km de caminhada diária… E eu me sentia fazendo uma grande faxina, deixando que tudo isso só passasse por mim, sem me apegar.

Os encontros com outros peregrinos também eram especiais… Ouvia e compartilhava histórias que se tornavam grandes presentes, trocas de afeto em forma de palavras, olhares, risos, suspiros e choros.

A paisagem estava em constante diálogo conosco: cidades, pequenas aldeias, áreas industriais, montanhas e rios. Diversos climas estiveram presentes: dias de arco-íris, chuva, sol, frio e até neve, houve dias de riso fácil, dias de tristeza e dúvidas, dias de muita conversa e dias de completo silêncio. Assim, o caminho se mostrava como metáfora da própria vida.

Me dei conta de que somos iguais porque somos diferentes, únicos. Cada um com a sua história, os seus aprendizados e as suas dificuldades. Mas todos em movimento… E a alegria pode ser uma simples decisão: permitir que a nossa natureza essencial se manifeste, que exista constante expansão dentro da gente.

O trabalho que realizo com a liberação miofascial energética (myofascial energetic release – MER), um trabalho de toque profundo e consciente, visa justamente relembrar ao corpo de seus espaços internos e ajudar-nos a nos conectar com as nossas sensações, a levarmos consciência ao que estamos sentindo, que estejamos acordados, presentes, sem esforço, críticas ou julgamentos, mas com amor, alegria e celebração.

Estar e habitar o presente, o único tempo que temos! Abrir o coração, desligar o automático, permitir a nós mesmos vivermos o nosso caminho e a nossa verdade.

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Assim, os 790 km que percorri em 34 dias foram um presente que dei a mim mesma para escutar-me, uma grande meditação ativa. Mas estar em retiro com si mesmo pode ser uma ação presente em cada momento do nosso dia a dia. E o corpo é um belo e transformador caminho para isso! Aliás, leitor, como estão os músculos de seu rosto, sua cervical? Como está, querido leitor, a sua alma? 

Conheça o que é a Liberação miofascial energética (MER)

Sobre o autor

Priscilla Herrerias

Sou formada em artes cênicas, pesquisadora das artes do corpo e do movimento. Seguindo esse caminho, comecei a me aproximar das terapias corporais. Sou formada em Myofascial Energetic Release (Liberação Miofascial Energética), uma terapia de toque profundo e consciente, pelo criador da técnica, Satyarthi Peloquin. Atualmente atendo em São Paulo, na Vila Mariana.

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