Convivendo

Não precisa de algoritmo para decifrar o espírito do natal

Silhueta de família, com homem, mulher e três crianças, de mãos dadas olhando o pôr do sol.
Escrito por Benedito Milioni
Precisa não, podes crer, vós que sois envolvidos nesse melê que tem sido a comemoração do Natal, nesses tempos em que o marketing se desespera para que todos consumam mais e mais, subvertendo o significado do que ainda possa nos vincular à distante infância de muitos sonhos, risos e imaginação que faz de um simples risco num papel o caminho que leva ao mundo do faz de conta, no qual só há riso e sorrisos e ninguém se importa em dissecar o que precisa apenas ser sentido. No mundo do faz de conta, tudo é possível e não é necessário reagir a estímulos programados por bobalhões que insistem em escarafunchar os sentimentos para ver se neles há fiação, engrenagens, fórmulas e especificações que aceitem a manipulação.

imagem da tela de um notebook com um anuncio grande de promoção.

Dia desses recebi mensagem de um inoportuno site que vende isso e aquilo, afirmando que eu “seria o mais feliz dos homens” se me cobrisse com os fiapos de nada sem sentido e valor, travestido em moda de ponta, que era o que me vendia. Alegava o patético site que nem eu sabia o que ele descobriu, navegando pelos espaços por onde passei no mundo virtual, quase sempre olhando só para saber o que tanto interessava às pessoas ditas normais e não me arrancava nem suspiro arrastado: meu perfil, segundo o mal-educado e insolente site, era de um descolado de vanguarda e eu PRECISAVA enfiar meu corpitcho naqueles panos cheios de nada que me cativasse a alma. E eu percebi ter sido esmiuçado por uns analistas de-não-sei-o-quê, aprisionados pelos parâmetros de um arrogante algoritmo. Detestei a invasão e tasquei o tal site naquele espaço das porcarias que podemos bloquear, antes que nos infestem a caixa de entrada, espaço que prefiro consagrar para os que me tocam o coração e fazem sorrir a alma.

Vida que segue, mesmo que nela saibamos ser mais perseguidos que seguidos e, sem saber, eu estava de olho no monte de frases e imagens e de músicas até bonitas algumas, que se nos é despejado pela volúpia das mídias, regurgitando tentações jamais vistas nem nos desertos dos relatos bíblicos: do prosaico “Feliz Natal” até uma douta explicação de um intelectual que sabe tudo sobre tudo, escorregando no quase blasfemo na sua vinculação do espírito do Natal à alma dos carentes por um dia apenas de piedade divina. Vi mais, nesse seguir da vida, já que me foram abertos olhos ainda virgens das contradições e absurdos humanos: vi um sujeito vociferando raivas contra o preconceito racista contido na alva pele e branca barba do desditoso Papai Noel. Nunca acreditei em Papai Noel, é verdade, mas nunca acreditei que cor de pele fosse a diferença para merecer o reencontro com doçuras que seguem mantendo infantis as crianças que ainda não se afogaram nos pixels e não se perderam nos gigabites das telinhas das engenhocas eletrônicas que um dia foram simples e úteis telefones.

Vendo e sentindo mais um tanto de fatos e coisas sobre o espírito do Natal, segundo os novos alquimistas da felicidade humana e seus intrincados algoritmos, andei tropeçando no que confesso não ter prestado mais a atenção, se é que um dia aprendi, se cabe aqui um doloroso “mea culpa”:
 o espírito do Natal segue vivo e luminoso, indiferente às mortalhas dos seus muitos inimigos e suas tolas tentativas de nelas envolvê-lo e pondo-o a ferros nos limites das suas explicações que nem confundem mais, quanto mais ousam explicar alguma coisa. O espírito do Natal segue sendo o que sempre foi: seu maior presente é a porta que dá acesso aos corações dos que apenas querem os afagos dos ternos abraços durante os quais seria ótimo se o tempo parasse, em respeitosa concessão de eternidades para seres para quem o momento de pura entrega em amor fraterno por menos que dure é uma eternidade de alegria. O danadinho sabe das coisas! Ele é um espírito criança que carrega em si todas as sabedorias da existência e o traduz em construções de simples compreensão e nutritiva capacidade de despertar nos viventes a sensação de que o Natal pode ser uma nuvem de paz e fraternidade a acompanhar a existência em todos seus instantes, livre da tirania de calendários e sobretudo dos planos de marketing para novo recorde de vendas de tudo de que, na verdade, não nos faz falta alguma. Ele, o danadinho, humilde na sua imensa glória, apenas quer a permissão para tomar conta das células humanas e dos imensos espaços mentais em cada indivíduo, onde a alma e o espírito humano se encontram para fecundar um novo ser, melhor e mais luminoso, todos os dias e não apenas naqueles contidos…num calendário.

duas crianças pequenas, brancas e loiras, deitadas em um tapete branco, cercadas de enfeites vermelhos de natal e presentes embrulhados.

O espírito do Natal não cabe em algoritmos. Ele não precisa ser delineado e muito menos definido em equações e resenhas estatísticas: uma criança pode muitíssimo bem defini-lo, basta que nela sejam colhidas as expressões que combinam alegrias, ofertas de abraços com começo mas sem preocupação com finais, encontro de faces em beijos lambuzados de ternuras e muita, mas MUITA MESMO gratidão pelo privilégio de ainda lembrar ser possível deixar-se conduzir pelas densas torrentes de amor sem preço. 

Desejo ao (à) leitor(a) mais que um FELIZ NATAL! Desejo, ardentemente, que cada um(a) seja motivo de feliz natal todos os dias para aqueles a quem ame e em quem veja razões para ser imensamente grato(a)! 


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Sobre o autor

Benedito Milioni

Graduado em Sociologia e Administração, 46 anos de carreira executiva e técnica em Desenvolvimento de Pessoas, autor de 32 livros, autor de 5 e-books, co-autor de 15 livros e autor de 25 manuais técnicos.

Dirigiu treinamento para mais de 3.349 grupos (cerca de 81.000 treinandos), dos quais 36.760 da área de RH, cerca de 24.736 Gestores e Líderes, 18.610 na área Comercial e 3.318 em Competências de Negociações . Formou cerca de 2.450 Instrutores e Multiplicadores Internos e 610 Consultores Internos Participa, regularmente, como conferencista sobre Tecnologia de Gestão em T&D em eventos nacionais e internacionais.

Apresentou mais de 2.104 conferências e palestras para mais de 200.000 pessoas. Prestou serviços a mais de 440 empresas, no Brasil e no exterior (América Latina, América Central, África e Europa). Júri de prêmios de Excelência na Gestão de Pessoas.

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