Convivendo

Narcisistas como trapaceiros emocionais

Corpo masculino com peça de xadrez no lugar da cabeça e segurando outros peças nas mãos.
Jens Tandler / 123rf
Escrito por Silvia Malamud

No início do contato com um narcisista, invariavelmente ele se mostrará charmoso, sedutor e gentil. Essa é a primeira faceta que surge e que faz com que os desavisados logo se sintam envolvidos, encantados e muito à vontade com eles. Porém, um pouco mais adiante de todo esse mar de encantamento e sedução, outras instâncias começam a entrar em cena. Como são insaciáveis caçadores de aplausos e devoção, em geral a maioria dos seus movimentos são calculados com essa intenção, portanto, na segunda etapa de conhecimento, mesmo que não estejam exatamente conscientes sobre os seus atos, todas as suas ações serão nesse sentido. A confiança e o bem-estar ilusoriamente alçados gradativamente serão minados em função das sutis manipulações que visam fazer quem estiver por perto servi-los em suas infinitas demandas de magnanimidade. A partir desse momento, eles serão os únicos que terão espaço para aparecerem em cena, sendo que qualquer brilho que não seja o deles deverá ser imediatamente eliminado, mas não de modo que possa denegrir a sua imagem, e sim em meio a estratégias e jogos altamente sofisticados.

Um dos principais prazeres do adoecimento narcísico é a satisfação em sentir poder por meio do domínio e do controle.

A trapaça emocional do narcisista sempre está presente, mas depois da fase da conquista é que toda a suposta empatia de início ressurge de modo bastante diferente. Nessa etapa, as demandas provêm de cobranças, exigências, projeções negativas e ameaças de rompimento. Confusas e sem entender o que está acontecendo, as vítimas, atônitas, se sentem culpadas, responsabilizando-se pelas constantes mudanças de humor e insatisfações que vão chegando sem aviso e sem motivo aparente. A suposta empatia vai mostrando a sua real intenção, que não tem nada a ver com as propostas de início, apenas servindo como uma distorção barata de tudo o que pode significar esse termo.

Para o narcisista, a empatia funciona como uma poderosa manipulação que inventa no outro tudo o que ele não é, direcionando-o sobre como deve ser. São articulações acionadas de modo velado, em nome de satisfazer o abusador narcisista, em seus amplos desejos de liderança absoluta. Um traço de tirania que visa apropriação indevida da identidade do outro, transformando-o em objeto para uso próprio. Um verdadeiro sequestro de alma.

Mulher branca com rosto e mãos entre grades.
Andrea Piacquadio / Unsplash

Quando já se veem em território conquistado, os narcisistas, trapaceiros emocionais, frequentemente agem com hostilidade e fúria descomunal mediante qualquer atitude que sugira estarem perdendo terreno. Suas expressões de ira são devastadoras, sendo que na maioria das vezes os motivos por eles expostos, além de incoerentes, são totalmente incompreendidos, geralmente levando as vítimas a terem sentimentos de perplexidade e culpa, somados a autopercepções de menos valia. As violências costumam ser verbais e têm o poder de exercer o aniquilamento emocional de quem estiver por perto.

A descompensação narcísica baseia-se no alto receio de serem destronados. Como esquema de proteção, contam com um tipo de hipervigilância, sendo altamente reativos e muitas vezes vingativos, quando se percebem ameaçados.

As principais armas que usam como corretivo para deixarem as suas vítimas submissas são os conhecidos castigos de silêncio, o mau humor e os seus infinitos argumentos. Por meio de discursos infindáveis, objetivam a missão de provarem o quanto estão corretos, até se perceberem como vitoriosos a ponto de provocarem a paralisação e a anestesia da consciência de suas vítimas, uma verdadeira lavagem cerebral.

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Outros narcisistas conseguem seus intentos colocando-se como vítimas sofredoras, que tiveram ou que estão passando por histórias difíceis. A tática é colocar quem estiver próximo penalizado e a serviço para suprir as infindáveis queixas de automartírio. E como todo narcisista que se preza em meio a tais argumentos ficam mais e mais centrados em suas questões, posicionando-se como mais importantes do que qualquer demanda alheia.

Como não desenvolvem a capacidade de amar e de criarem vínculos, manipulam as situações apenas para tirarem proveito, transformando as pessoas em meros objetos utilitários, sendo que estes podem ser descartados a qualquer momento, se perderem o sentido de uso.

Costumam atrair fãs, pessoas devotas e todo tipo de gente que os alimentem em seus insuperáveis desejos de reconhecimento como pessoas especiais e grandiosas. Um observador não encantado e conhecedor facilmente poderá perceber em seu discurso um amontoado de falas vazias com falta de conteúdo palpável.

Mulher branca com cabelos longos e loiros de costas.
Ava Sol / Unsplash

Ainda como trapaceiros emocionais, muitos narcisistas, independentemente de terem capturado seus reféns, alimentam os seus desejos de magnanimidade criticando tudo e todos, e mais especificamente aqueles que não compactuam com suas crenças e dogmas. Fazem uso desses termos como se fossem verdades absolutas e como ferramentas de menosprezo.

Para finalizar, toda a trapaça dos abusadores narcisistas visa preencher o enorme vazio da necessidade de amor que lhes foi negada no antes e que agora eles próprios negam em relação aos outros. O acesso está fechado, rompeu-se o elo e o narcisista não é capaz de se satisfazer com mais nada, por mais que almeje. Um poço sem fundos que nunca fica cheio, uma demanda que os faz agir como vampiros emocionais em suas incessantes buscas do amor ideal. E embora saibam que existe o amor verdadeiro sequer conhecem o gosto.

Para atender essas necessidades, precisariam entrar em contato com a dor da falta daquilo que não tiveram, fazer o luto dessa falta e a partir desse momento começarem a sua jornada com mais humanidade para si e para os outros.

Quanto mais despertos, melhor!

Sobre o autor

Silvia Malamud

- Psicologa
- Especialista em temas relacionados ao Abuso Emociona com narcisistas perversos em relacionamentos afetivos, familiares, mãe/pai filhos, escolares, sociais e de trabalho.
– Especialista em Terapia Individual, Casal e Família /Sedes
- Terapeuta Certificada em EMDR pelo EMDR Institute/EUA
- Terapeuta Certificada em Brainspotting - David Grand/ EUA
- Terapia de Abordagem Direta a Memórias do Inconsciente.

EMDR e Brainspotting são terapias de reprocessamento cerebral que visam libertar a pessoa do mal estar causado devido à experiências difíceis de vida, vícios, traumas, depressões, lutos e tudo o mais que é perturbador e que seja uma questão para que a pessoa queria mudar. Este processo terapêutico, por alterar ondas cerebrais viciadas num mesmo tipo de funcionamento, abre espaço para que a vida mude como um todo, de modo muito melhor, surpreendente e inimaginável anteriormente.

Mais sobre Silvia Malamud: Além de psicóloga Clínica, é também formada em Artes plásticas- Terapia Breve - Terapia de Casais e Família pelo Sedes Sapientiai. Terapeuta Certificada em EMDR pelo EMDR Institute/EUA e em Brainspotting David Grand/EUA. Desenvolveu-se em estudos e práticas em Xamanismo, Física Quântica, Bodymirror. Participou e se desenvolveu em metodologias de acesso direto ao inconsciente, Hipnose, Mindskape, Breakthrough e outras. Desenvolveu trabalho como psicóloga Assistente no Iasmpe, Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual, com pesquisa sobre o ambiente emocional de residentes durante o período de suas residências, de 2009 até 2013. Participou do grupo de atendimentos de casais do NAPC de 2007 à 2008. Autora dos Livros "Projeto Secreto Universos", uma visão que vai além da realidade comum e Sequestradores de Almas, sobre abuso emocional que podemos estar vivendo, sem ao menos saber, sobre como despertar e como se proteger.

· Conhecimento terapêutico: Cenários e imagens: Já presenciei diversos pacientes fazerem "viagens" às vidas anteriores, paralelas, sonhos e mesmo se reinventarem em cenas reais ocorridas ou não. Vi-os saindo do túnel do reprocessamento, totalmente mudados e transformados, inclusive em suas linhas de tempo. Para mim, fica uma pergunta de física quântica... O que acontece com a rede de memória da pessoa se a matriz do acontecimento muda totalmente não o afetando mais? A linha do tempo e todos os significados emocionais transformam-se simultaneamente. Todos os eventos difíceis que a pessoa teve em relação ao tema ao longo da vida perdem o sentido e até parece que nem existiram, embora se saiba. A pergunta que fica é: O que é o tempo quando podemos nos transformar e nos auto-superarmos nesta amplitude?

· Coexistimos em inúmeras camadas de realidades que são atemporais. Por exemplo, o seu “eu” criança pode estar existindo e atuando em você até hoje... Outros aspectos desconhecidos também podem estar, sem que você suspeite.

Silvia Malamud
Psicóloga clinica Especialista em Terapias Breves individual, casal e
família/Sedes - CRP: 06-66624
Terapeuta Certificada em EMDR pelo EMDR Institute/EUA
Terapeuta Certificada em Brainspotting – David Grand PhD/EUA.
Terapia de Abordagem Direta a Memórias do Inconsciente.
email.: malamud.silvia@gmail.com