Autoconhecimento Comportamento Convivendo

Nosso amigo ego e as distrações bem intencionadas

Balão escrito "ego" prestes a ser furado por um palito de dente
Netrun78 / Getty Images / Canva
Escrito por Andrews Amoramar

E se eu iniciar este texto lhe dizendo que tudo o que você faz hoje é no fim uma distração?! Desde seus estudos até seu trabalho, por mais digno que possa parecer. Explico.

Você é uma pessoa que sempre trabalhou tentando “ganhar a vida” como todo mundo. Sei bem como é, todos sabem. Então, em algum momento da sua vida, frustrado, cansado de tudo ou mesmo doente, você decide procurar algo mais. Algo mais na sua vida, algo além da sobrevivência desgastante e sufocante do dia a dia.

Assim, em algum momento, se você estiver disposto e aberto o suficiente, você se depara com livros e vídeos lhe contando sobre autoconhecimento, filosofia, tratamentos alternativos, magias, conhecimentos ocultos etc.

E isso, seja lá por onde você decida começar, lhe atrai a atenção, lhe puxa pela curiosidade.

Rapidamente você se envolve e mergulha neste Universo Novo da Espiritualidade Alternativa, no Oculto. Você deseja uma resposta para as perguntas que carrega desde cedo e agora elas parecem ser respondidas de um modo mais ou menos sensato para você.

Ao menos tudo faz mais sentido do que tudo que a sociedade acredita por aí até agora. E assim você se empolga, acreditando ter encontrado um novo caminho.

É um novo caminho, sem dúvida, mas aonde vai te levar é outra história.

Bem. Agora que você se encontra em um novo caminho, um ânimo novo surge e parece que a vida se colore em outros tons. Sua mente está ativa, energizada e você quer conhecer tudo que há para saber. Há uma nova esperança.

Você compra livros, inscreve-se em cursos, inicia tratamentos alternativos e de fato muita coisa muda na sua vida.

Pessoa escolhendo livro da prateleira
Levent Simsek / Pexels / Canva

E você continua devorando mais e mais livros, assistindo a palestras, fazendo cursos e mais cursos. Sua cabeça agora está repleta de novas informações acerca de tudo. Muitas respostas, cada vez mais respostas, porém elas nunca são o suficiente e você continua e continua.

Logo você se torna um expert na área escolhida, ou nas várias áreas, como é mais comum. Muitas vezes se sente tão superior a todo o resto, afinal você tem mais respostas, você conhece uma verdade diferente. Uma verdade que todo seu estudo lhe deu argumentos suficientes para você defender como a Verdade.

Talvez você tenha tocado ou raspado a Verdade, talvez tenha conhecido um fragmento dela, talvez você diga isso a todos. Sim, talvez você afirme em seus debates que você apenas arranhou a Verdade, mas no seu íntimo o que você acredita é diferente.

No íntimo todo esse estudo te elevou. Mas elevou que parte de seu ser? Sua Consciência ou seu bom amigo Ego?

Claro que o estudo aumenta nosso conhecimento sobre as coisas, e isto nos traz ciência, em certo grau, sobre o nosso entorno e como a dinâmica da vida funciona. Agora você possui, gravados em sua memória, histórias e dados que talvez lhe expliquem melhor a realidade última de tudo. Talvez.

Porém no fim a verdade é que mais do que elevar a sua consciência, estar ciente de tantas novas “verdades” certamente inflou ainda mais seu velho Ego, que agora tem um bom motivo para bradar por aí, mesmo que modesta e discretamente, sua superioridade. No fim você juntou informações sobre tudo e quanto mais você tem melhor você é.

Papel escrito "ego" de canetinha azul com a caneta ao lado e vários papeis amassados
Artur / Getty Images / Canva

Esse é o jogo do Ego.

E, claro, isso tudo você não percebe. Pois você até começa com um objetivo nobre, mas no meio do caminho a sua velha identificação com o Ego torna tudo uma bagunça. O verdadeiro foco do autoconhecimento se confunde em um emaranhado de velhos comportamentos compulsivos que no geral só alimentam sua antiga necessidade de valorização.

Isso explica por que temos tantos peritos espirituais e tão poucos dos chamados “Iluminados” de fato.

Se tudo o que você aprende não sai da sua cabeça, em algum ponto ela não servirá para mais nada além de exibicionismo intelectual. Será apenas mais acúmulo. E acúmulo é acúmulo, não importa que seja valioso ou não.

Agora se o que se aprende é trazido para a experiência do seu Ser. Se este conhecimento é sintetizado em ações consistentes em seu dia a dia, se você se dedica aos sadhanas (práticas espirituais), se você se percebe na necessidade de mudar tudo em sua vida, desde relacionamentos até a alimentação, então de fato você deve estar avançando em algum caminho.

E como nosso amigo Ego é ardiloso. Ok, mentira, ele não é ardiloso, é só que você se confunde com ele e acha que sua vontade é a dele e vice e versa. Por causa dessa identificação é muito fácil se perder em qualquer caminho.

Você inicia dizendo:

“Nossa, com este novo conhecimento poderei ser uma pessoa melhor”.

Mulher arrogante usando uma coroa de rei
Deagreez / Getty Images / Canva

E o Ego continua:

“Sim, uma pessoa melhor que as outras”.

Assim seguimos dando um passo para frente e dois para trás, como já ouvi alguém dizer.

Por isso, enquanto não alcançarmos a Consciência Real, seguiremos com nossos textos e discursos retirados dos textos e discursos de outros. Talvez você coloque as palavras ao seu modo, mas no fim tudo o que diz é apenas um emaranhado de ideias de outros e outros e outros. Assim como este artigo.

Bom, espero que possamos perceber que no fim tudo que nos propusermos a fazer, se fizermos sem ou com pouca Consciência, será apenas uma distração, uma distração de si mesmo. Pois mesmo lendo mil livros eles não nos levarão a nossa real Essência. Nunca chegaremos à natureza de nossa Existência.

Apenas as práticas espirituais certas e estilo de vida saudável somados ao total comprometimento com o caminho nos levarão a uma existência mais próxima da Verdade. Então talvez possamos deixar os livros um pouco de lado e nos dedicarmos mais a esta Vida que somos.

Que alcancemos não os desejos que temos agora, mas que a Vida nos alcance e assim percebamos que tudo que desejamos já temos.

E se este artigo te incomodou de algum modo, talvez ele seja exatamente para você. Até uma próxima e fique bem.

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Para finalizar, este artigo é tirado dos aprendizados que tenho tido através dos estudos da Yoga com práticas oferecidas pelo yogi Sadhguru fundador da Fundação Isha, uma organização sem fins lucrativos comprometida a disseminar a sabedoria dos antigos yogis pelo mundo moderno. Você pode conhecer um pouco clicando no botão abaixo:

Namastê!

Sobre o autor

Andrews Amoramar

Anos atrás surgia por estas terras um pequeno garoto, um garoto que amou logo de cara o que viu. Um pequeno sonhador, explorador do quintal de casa, curioso pelas coisas afora. Esse pequeno amava desde cedo criar, e explorava sua criatividade com uma folha e lápis na mão, desenhando seus personagens preferidos.

Os anos passaram e o pequeno esticou em tamanho, porém a curiosidade e a ânsia em criar se mantiveram as mesmas. Hoje o garoto tem novas ferramentas e conhecimento para explorar mais e mais. Hoje o quintal é maior, relativamente maior. As experiências muito mais desafiadoras e às vezes assustadoras, mas o desafio maior é manter viva a alegria do garoto, mesmo em meio a tantos obstáculos.

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