Comportamento Comunicação Não-Violenta

O que fazer com a dança dos opostos?

Homem de costas com duas flechas de escolhas e ponto de interrogação
Escrito por Alline Neto

Sempre fiquei intrigada em ter quer escolher um lado das coisas, em ter que opinar sobre tudo e escolher um lado para defender ou atacar, tomar posição, partido, ou mesmo a escolha de nenhuma das opções, que é outra escolha.

Desde pequena, sempre fui calada e observadora, quase nunca falava, preferia ver e ouvir a que emitir minha opinião. Quando criança, essa atitude era normal, digamos assim, aceita. Mas com o passar do tempo comecei a perceber que para ser “aceita” seria necessário falar mesmo quando eu não achasse relevante fazer isso. Para não parecer sonsa, “sem personalidade”, comecei a falar o que as pessoas queriam ouvir, a opinar, a dar conselhos e a escolher um dos lados, dizendo que isso é certo, aquilo é errado.

Durante muito tempo, eu estive em um desses lados, para me sentir confortável e protegida, para fazer parte de um grupo, fosse de amigos, da faculdade, do trabalho ou da família.

De um tempo para cá, comecei a estudar e a ver que não precisamos estar nesse jogo, escolher lado nenhum, nem opinar, nem criticar e muito menos julgar, por mais que uma situação pareça ir totalmente contra nossos princípios. Comecei a me sentir melhor por estar em uma neutralidade, ainda que mesmo assim as pessoas julguem e digam que você não pode ser assim. Afinal, não escolher, ficar no meio, ficar neutra ou ficar em cima do muro é para os fracos, para quem não quer se comprometer, para quem tem medo de opinar, para quem não sabe o quer. Boas são as pessoas que falam o que pensam, que são decididas naquilo que acreditam e vão ate o fim para defender seu ponto de vista, doa a quem doer, e ainda se intitulam como sinceras.

Eu mesma pensava isso de mim, e às vezes tomava atitudes para sair desse local de imparcialidade, visto, na maioria das vezes, como uma fragilidade.

Garoto de costas sentado em montanha de costas com sol refletindo
Foto de Stefan Stefancik no Pexels

Há uma diferença entre ser indiferente, que é uma mistura de desinibição e desinteresse, e procurar um ponto de intermédio entre os polos. É possível observar os acontecimentos ao nosso redor, sem definir um “sim” ou um “não”. Se preferir falar, tudo bem, mas não com a paixão de quem não vê o todo, as partes, o outro lado.

É extremamente importante, por exemplo, que as mulheres se apoiem, busquem seus direitos e espaços, nem vou entrar no mérito feminista. A meu ver, a mulher, acima de tudo, precisa buscar dentro de si autonomia, força, paz, beleza, e, a partir daí, tudo ao seu redor se modifica. A desigualdade ainda pode existir, mas essa diferenciação será vista sob outro ângulo. Ou seja eu não estou em nenhum dos lados desse embate quando eu tomo essa postura, e vida que segue.

Se a gente olhar bem, tudo pode ser observado de fora, pois quase na maioria das vezes em que tomamos parte de algo um indivíduo pode se sentir ofendido, insatisfeito, chateado, humilhado. Se a gente olhar com cuidado, as polaridades formam uma unidade. Por exemplo: o feio e o bonito são coisas “separadas”; porém, um não existe sem o outro. Se não houver o bonito, que parâmetro vamos ter para dizer que algo é feio? Um não existe sem o outro.

Mulher de perfil com mãos unidas em frente ao corpo e olhos fechados
Foto de Retha Ferguson no Pexels

Aprofundando mais esse assunto, eu diria que nosso Ego não permite ver a unidade, a consciência separa tudo em opostos e nos coloca em constante conflito, e por isso constantemente estamos optando por um dos polos. É aí que está o começo de uma grande transformação: começar a treinar nossa mente, a ver a vida, de forma a não classificar as situações como positivas ou negativas. É preciso vê-las aceitando o que elas trazem. Venho colocando isso em prática, principalmente nesse período do novo coronavírus.

Tudo isso traz uma mensagem para nós. Eu só lamento por quem não pensa nisso. Independentemente de estar ou não com o vírus, esse desequilíbrio tem algo a nos dizer, a doença, a eminência da morte, vem para derreter nosso Ego, para nos fazer calar, ouvir, pensar. As atitudes de muitos revelam o que esta dentro, o que precisa melhorar, mudar, agir.

Será necessário entrar em pânico e causar o pânico pra outras pessoas? Vejo que muitas vezes o pânico se manifesta em atitudes que aparentam inofensivas, mas que carregam medo e incerteza de pessoas que não sabem o que fazer. Se alguém não souber o que fazer, é melhor não agir. Por outro lado, permanecer indiferente à pandemia não é saudável, uma vez que isso implica na negação da situação. Esconder-se ou fingir que está tudo bem não vai derrotar o “inimigo”.

Mulher de perfil com árvores ao fundo e sol refletindo
Foto de Alan Retratos no Pexels

Quando estamos sob pressão, se permitirmos que a obscuridade, a dor e as dificuldades sejam os nossos mestres, podemos descobrir grandes dons. Daí as palavras de Joseph Campbell:

“Só mediante a descida ao abismo,

recuperamos os tesouros da vida.

Ali onde tropeças,

Está o teu tesouro.

A mesma caverna onde te assusta entrar

É a fonte do que Vive plenamente a tua vida”.

Assim, pode acontecer que muitos dos planos que fizemos na vida não se concretizem. Mas os lugares onde fomos acabarão por ser os mais adequados para nós. A confiança em algo maior que nos guia e nos sustenta é a base para nos apoiarmos perante qualquer dificuldade no caminho.

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Ver a dança dos opostos como algo que devemos integrar dentro de nós é um caminho a ser percorrido. Busco a cada dia dar menos poder às polaridades, principalmente quando está todo mundo dizendo que isso é certo ou errado. Desconfie, questione, pense, e observe.

O objetivo do ser humano é tomar consciência das coisas, não mudar as coisas. Não há nada a mudar a não ser a própria visão, essa visão que é capaz de observar diferentes polos: paz e guerra, saúde e doença, como sendo o mesmo.

Sobre o autor

Alline Neto

Meu nome é Alline, sou terapeuta transpessoal formada pela Escola de Desenvolvimento Transpessoal de Portugal.

Uma linha de terapia que faz ligação entre a psicologia e espiritualidade.

Ajudar o paciente a lidar com suas emoções é um dos primeiros passos dentro do processo terapêutico, porque melhorar a relação consigo mesmo é a chave para que o exterior seja transformado.

Mas vamos além das questões pessoais, em direção à expansão da consciência, com mudanças de crenças e uma nova visão da vida mais conectada ao Universo, a Deus e ao Sagrado.

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