O tempo é sempre incerto. Essa é a dificuldade primordial da mente. A mente quer certezas e o tempo é sempre incerto. Então quando a mente encontra um pequeno espaço de certeza ela se acomoda. Um casamento aqui, um concurso público ali, e aparentemente tudo está seguro. Isso parece bom, porque a mente sempre teme mudanças e por uma simples razão: quem sabe o que ela trará, o bom ou o ruim? Uma coisa é certa, a mudança perturbará seu mundo de ilusões, expectativas e sonhos.
A mente é como uma criança brincando na área da praia, construindo um castelo de areia. Por um momento parece que o castelo está pronto, mas ele é feito de areia, uma simples brisa e lá se foi seu castelo em pedaços. Mas começamos a viver nesse castelo dos sonhos. Começamos a sentir que encontramos algo que vai permanecer conosco. Mas o tempo segue continuamente tirando sarro de nossas certezas, parece implacável.
Assim, toda vez que o tempo derruba nossas maravilhosas ilusões, parece que ele extrai o que há de pior da vida das pessoas, mas na realidade ele traz à tona o que estava oculto por trás da falsa permanência de um sonho que você aceitou como sendo real.
As coisas estarão sempre mudando. Se essa lembrança penetrar bem fundo em seu ser, então você nunca ficará desapontado. Aceitação e paciência são as palavras chaves.
Finalizo com uma historia sufi bem conhecida.
Havia um mestre sufi já velho e pobre, mas ele tinha um lindo cavalo. Os burgueses ofereciam muito dinheiro pelo cavalo, mas o mestre dizia que jamais o venderia.
Numa manhã o cavalo tinha sumido. Seu amigo disse: Sempre tive o receio de que o cavalo seria roubado! Teria sido melhor vendê-lo, que fatalidade. O mestre disse: Não sei se é bom ou ruim, o tempo dirá.
O amigo riu do mestre, sempre soube que ele era um pouco louco. Mas alguns dias se passaram e, de repente, numa noite, o cavalo voltou. Ele não havia sido roubado, ele havia fugido para a floresta e não apenas isso, ele trouxe uma dúzia de cavalos selvagens consigo. Novamente, o amigo disse: Você estava certo, é uma benção!
O mestre disse: Você está se adiantando mais uma vez. Apenas diga que o cavalo está de volta. Quem sabe se é uma benção ou não?
Desta vez o amigo não podia dizer muito, mas interiormente sabia que ele estava errado, afinal, agora eram doze lindos cavalos.
O único filho do mestre começou a treinar os cavalos selvagens. Apenas uma semana mais tarde ele caiu de um cavalo e fraturou as pernas. O amigo mais uma vez julgou e disse: Você tinha razão novamente! Foi uma desgraça esses cavalos. Seu único filho fraturou as pernas e na velhice ele era seu único amparo. Agora você está mais pobre do que nunca.
O mestre disse: Não se adiante tanto! Diga apenas que meu filho fraturou as pernas. Ninguém sabe se isso é uma desgraça ou uma benção. A vida vem em fragmentos meu amigo.
Aconteceu que, depois de algumas semanas, o país entrou em guerra repentina e todos os jovens do local foram forçados a se alistarem. Somente o filho do mestre foi deixado para trás, pois se recuperava das fraturas. A cidade inteira estava chorando, lamentado-se porque aquela era uma luta perdida e sabiam que a maior parte dos jovens jamais voltaria. O amigo veio até o velho mestre e disse: Você tinha razão, o que aconteceu com seu filho foi uma benção!
É, o tempo é sempre incerto!