Autoconhecimento Espiritualidade

Por um FEMINISMO ético-espiritual

Mulher sorrindo deitada em um gramado com pétalas
Daniel Xavier/Pexels
Escrito por Eu Sem Fronteiras

No mês de março um assunto ganha importância: o Dia da Mulher e a repercussão do papel feminino nas esferas social, política, econômica e moral. Nas últimas décadas, houve grandes avanços na igualdade de direitos entre homens e mulheres; vimos que elas alcançaram grandes conquistas no cenário social, político e econômico, e cada vez mais mulheres ocupam posições de destaque e cargos de liderança.

Nos últimos anos vimos ascender um movimento pela igualdade de gêneros no campo material, mas será que no campo ético-espiritual podemos dizer que o feminino ganhou espaço? Não queremos estabelecer uma comparação entre homens e mulheres. Na verdade, o objetivo deste texto é promover uma conscientização, em homens e mulheres, sobre os potenciais femininos no campo ético-espiritual, isto é, no campo do relacionamento consigo mesmo e com os outros.

Mulher de braços abertos em um campo de flores
Olga/ Pexels

Para tanto, partiremos de uma premissa básica de que homens e mulheres são diferentes sob o aspecto emocional e psicológico. Assim, sabemos que as mulheres são naturalmente mais propensas à compaixão e à tolerância, enquanto os homens são mais propensos às regras, à justiça e à autonomia individual. A partir disto, este texto quer provocar uma reflexão sobre se ao invés de buscarmos uma igualdade de gêneros, quando se trata de si mesmo e dos outros, pudéssemos dar mais espaço para a manifestação das diferenças de ambos os lados.

Sobre este assunto é muito interessante observar uma teoria formulada pela psicóloga feminista Carol Gilligan, cuja obra “Uma voz diferente” deu origem ao movimento chamado “Uma Ética do Cuidado”. Para a psicóloga, há duas lógicas morais diferentes: a lógica masculina (a voz dos homens) centrada na autonomia do indivíduo, na justiça e nos direitos; e a lógica feminina (a voz das mulheres) que gira em torno dos relacionamentos, do respeito e da responsabilidade.

Segundo esta abordagem, os homens se interessam mais pela atividade, ao passo em que as mulheres buscam a união; os homens são mais propensos a seguir as regras, enquanto as mulheres estabelecem vínculos afetivos mais facilmente; os homens olham, as mulheres tocam; os homens tendem mais ao individualismo, as mulheres são mais inclinadas para as relações e para a integração social.

Mulher usando uma chave de fenda em uma mesa
cottonbro/ Pexels

Gilligan nos dá dois exemplos fabulosos dessas duas lógicas. O primeiro é um jogo entre meninos e meninas. Os meninos dizem: “Vamos brincar de piratas?”, as meninas respondem: “Ah, não, vamos brincar de ser vizinhos!”; os meninos dizem: “Não, vamos brincar de piratas!”, as meninas concluem: “Está bem, mas podemos brincar de piratas que são vizinhos?”. O segundo exemplo é um jogo de beisebol, cujo objetivo é rebater a bola e depois correr pelas quatro bases do campo.

Neste jogo, se o rebatedor errar a bola, estará fora até a próxima rodada. Quando isso acontece, os meninos geralmente choram ou ficam aguardando consternados por uma nova oportunidade. Mas nestas ocasiões, as meninas, em sua maioria, dirão algo do tipo “ah, tudo bem! Deixe que ele bata a bola de novo!”. Já os meninos seguirão firmes com as regras e dirão: “Não! Isso aqui é um jogo de verdade! Regras são regras, errou, tá fora!”.

A partir destes exemplos simples, Gilligan nos mostra que os meninos podem preterir os sentimentos para manter as regras, enquanto as meninas não vêem problemas em mitigar as regras para não ferir os sentimentos alheios, pois querem naturalmente ajudar, conectar e curar.

Mulher abraçando um caderno escrito "girlboss"
Polina Zimmerman/Pexels

Como dissemos, não queremos estabelecer uma comparação entre masculino e feminino, nem tampouco exaltar o feminino em detrimento do masculino e vice versa, pois sabemos que a vida real é bem diferente de brincadeiras de crianças, mas quem sabe com esta abordagem, homens e mulheres se tornem mais conscientes de seus potenciais naturais; quem sabe masculino e feminino se permitam manifestar e viver suas diferenças para enriquecer as relações e estabelecer mais respeito e compreensão entre si.

Quem sabe, no cenário social, onde ainda impera a lógica masculina, ao invés de buscar uma “igualdade artificial” entre homens e mulheres, pudéssemos dar mais espaço para o feminino se manifestar com suas diferenças, e quem sabe talvez pudéssemos conceber um novo modo de “jogar” o jogo da vida, onde os jogadores conheçam e sigam as regras, mas que cada um busque também cuidar de si mesmo e dos outros, que todos busquem se conectar efetivamente com o outro e estabeleçam relações mais empáticas fundadas na compaixão e na ajuda mútua.

Empoderamento Feminino

Mulher de costas usando uma jaqueta e boina
Maryia Plashchynska/Pexels

Neste momento em que queremos buscar a igualdade entre homens e mulheres, sabemos que as mulheres ainda estão em condições desiguais aos homens. Sendo assim, é preciso tomar atitudes para que haja um movimento de mudança diante disso.

Empoderamento feminino” é um termo comum nos tempos atuais, porém muitas pessoas que o dizem não entendem ao certo o significado e a importância de uma mulher se empoderar. Basicamente, é quando uma mulher assume o seu próprio poder ou quando o poder é dado a outras mulheres.

Certo, depois disso você pode pensar: “Ok, mas que tipo de poder?”. Não é possível dar um significado único à palavra, mas está relacionado a diversas ações tomadas por mulheres para que não sejam inferiorizadas por causa do gênero. Ter essa consciência coletiva entre mulheres é essencial para que mudem as dificuldades impostas pelo patriarcado.

Em outras palavras, o empoderamento feminino toca em atitudes e consciência contra o machismo e em ter poder em situações nas quais elas seriam inferiorizadas por causa desse comportamento.

Como os homens podem contribuir com a causa?

Nem todo homem compreende o feminismo, até porque, se entendesse e agisse a favor, não existiria mais machismo, não é mesmo? Os poucos que sensibilizam com a causa e entendem a importância dessa luta, de como as mulheres precisam se empoderar para, aos poucos reduzir, a desigualdade, ficam distantes de tomar alguma atitude por não estarem no “lugar de fala” e acreditarem que somente as mulheres devem se esforçar para mudar.

É claro que só as próprias mulheres podem entender o que elas passam, mas os homens podem contribuir de formas simples com algumas atitudes e também abrindo a mente de homens extremamente machistas. Segue algumas dicas para homens que estão dispostos a ajudar na luta pela igualdade de gênero:

1. Estude e escute

Mesa com caderno e caneta ao lado de uma xícara
picjumbo.com/Pexels

Antes de tudo, os homens que pretendem ajudar as mulheres na causa feminista devem estudar para entender a desigualdade, como dados sobre as mulheres no mercado de trabalho, abuso sexual, histórico da luta pelos direitos femininos, números de feminicídio, entre outros.

Além disso, é importante ouvir as mulheres que estejam dispostas a falar sobre como as mulheres sofreram por causa de seu gênero e até mesmo sobre a rotina dessas mulheres. Afinal, só mulher sabe como o assédio é recorrente ao andar pela rua e também sobre como existe desigualdade no trabalho, por exemplo. Como os homens não têm essa vivência, muitas vezes não percebem como é a realidade feminina.

2. Faça uma autoanálise

Como o machismo é passado de geração a geração, em comportamentos e atitudes que parecem simples, é comum que os homens as reproduzam sem nem mesmo perceber. Nada mais justo do que, depois de entender o feminismo e as atitudes patriarcais, observar as próprias atitudes no trabalho, na escola e até mesmo em casa.

É difícil exemplificar o que pode ser observado especificamente, mas você pode começar pensando em quem faz os afazeres domésticos da sua casa, a comida, quem limpa a sujeira do cachorro… No trabalho, quem costuma ter voz ativa? Será que as mulheres querem dar sugestões e são ouvidas? Aproveitando, quantas mulheres estão no ambiente de trabalho do seu serviço?

3. Converse com seus amigos/ conhecidos

Duas pessoas de mãos dadas
Anna Shvets/Pexels

Agora que já deve ter entendido o que é o feminismo e quais atitudes machistas que você reproduz, é uma boa hora para começar a conversar com amigos que agem inferiorizando as mulheres.

Pode ser que um sermão não seja bem-vindo, mas o famoso “toque” no seu amigo que assobia para as mulheres na rua, por exemplo, pode fazer com que ele comece a refletir sobre o assunto e, quem sabe, comece a mudar também!

4. Reflita sobre a masculinidade tóxica

Essa não é a pauta principal na luta feminista, mas é uma das consequências do machismo, porque inúmeros homens são prejudicados também. Com a inferiorização do feminino, todas as atitudes consideradas “de mulher” se tornam depreciadas, fazendo com que garotos, desde pequenos, sintam-se mal por fazerem coisas “de menininha”. Um exemplo disso é quando dizem que homem não chora, que homem deve ser forte e por aí vai…

Tente contribuir para que tudo isso mude, então não tenha medo de demonstrar afeto aos amigos e oriente quem reprime outros homens por não serem “machos” o suficiente ou afins.

Você também pode gostar

Um Feminismo Ético-Espiritual, portanto, não serviria para exaltar o feminino em detrimento do masculino, mas para promover um equilíbrio saudável entre os potenciais masculinos e os dons femininos em todas as relações, seja consigo mesmo, seja com os outros. Isso é importante para que a partir de suas diferenças, homens e mulheres possam contribuir para a formação de um todo (humano) homogêneo em que, obviamente, valham as regras, a justiça e a autonomia individual, mas estas sejam temperadas pela compaixão e pela tolerância.

Sobre o autor

Eu Sem Fronteiras

O Eu Sem Fronteiras conta com uma equipe de jornalistas e profissionais de comunicação empenhados em trazer sempre informações atualizadas. Aqui você não encontrará textos copiados de outros sites. Nossa proposta é a de propagar o bem sempre, respeitando os direitos alheios.

"O que a gente não quer para nós, não desejamos aos outros"

Sejam Bem-vindos!

Torne-se também um colunista. Envie um e-mail para colunistas@eusemfronteiras.com.br