Autoconhecimento Empoderamento Feminino

A história do movimento feminista

Sergey Nivens / 123RF
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Alguma vez você ouviu a expressão “feminismo”? Pode ter sido na televisão, em um livro, em uma conversa com seu grupo de amigos ou até em uma publicação na internet. Com a popularização das redes sociais como ferramenta de informação e de disseminação de movimentos sociais, “feminismo” é uma palavra que está cada vez mais presente no nosso cotidiano.

Se você não sabe o que essa palavra significa, não há motivo para sentir vergonha. Nunca é tarde para aprender! Para se atualizar sobre os movimentos sociais que ocorrem no mundo e para ficar por dentro de tudo que é discutido na esfera pública, abandone o senso comum e desenvolva uma opinião crítica sobre feminismo, empoderamento feminino e sororidade. Confira!

O que é feminismo?

O feminismo é um movimento social ocidental que tem como objetivo promover a igualdade entre homens e mulheres na sociedade, para que uma pessoa tenha as mesmas oportunidades e as mesmas condições de vida, independentemente do gênero.

Um outro movimento social importante, mas ainda pouco discutido, é o mulherismo. Diferentemente do feminismo, o mulherismo é um movimento social africano que analisa as opressões de gênero e de raça que as mulheres pretas sofrem, sendo ainda mais abrangente que o feminismo.

É importante ressaltar que, embora seja muito apontado em muitas discussões virtuais, não há qualquer tipo de movimento “feminista”, que colocaria as mulheres como superiores aos homens. Não existe um movimento social que tem como objetivo ser o oposto do machismo, que garante que os homens são superiores às mulheres em todos os aspectos.

Como o foco do artigo é o feminismo, a seguir você irá entender quais são as origens desse movimento, como ele se manifesta no Brasil, as principais vertentes do feminismo e como expandir ainda mais os seus conhecimentos. Atualize-se!

Imagem de vários cartazes de um movimento de marcha feminista realizado nos Estados Unidos.
Foto por Rhysara no Pixabay

Origem do movimento feminista

O feminismo enquanto movimento social, como o conhecemos hoje, é uma manifestação recente. No entanto, desde antes da organização do movimento feminista já existiam mulheres que discutiam questões como empoderamento feminino e sororidade. Por não integrarem o movimento propriamente, elas são chamadas de protofeministas.

Cristina de Pisano é um exemplo de protofeminista, visto que ela denunciou as diferenças na relação entre os gêneros nos livros “O Livro da Cidade das Damas” (1405) e “Epístola ao Deus do Amor” (1401), antes mesmo de o feminismo ter sido definido dessa forma.

Em XVII, o feminismo ainda não era um movimento social consolidado, mas era possível observar algumas ideias em benefício das mulheres, como a defesa de direitos para elas, na época do Iluminismo, quando prevalecia a valorização da razão em detrimento da religião.

Mais tarde, em XIX, o movimento feminista passou a ser organizado e reconhecido. Até o começo do século XX, dessa forma, acontece a primeira onda do feminismo, na qual as mulheres defendiam o sufrágio feminino (direito de mulheres votarem em seus representantes políticos) e os direitos trabalhistas e educacionais para esse gênero.

Uma vez que o direito ao voto por parte das mulheres foi conquistado, e que muitas delas já poderiam estudar e trabalhar, ainda havia um longo caminho a percorrer. As mulheres eram vistas como cidadãs e a sociedade passava a entender que elas não serviam apenas para cuidar dos filhos e da casa, mas também tinham a capacidade de estudar, de aprender e de trabalhar. O que precisava melhorar?

A segunda onda do movimento feminista começou em 1960 e terminou em 1980, quando o feminismo passou a analisar as diferenças entre as mulheres e os homens na formação cultural, na legislação e no papel que exercem perante a sociedade. Não bastava conquistar direitos, era necessário que a população mudasse a forma como enxergava as mulheres, para que elas pudessem exercer as próprias vontades sem sofrerem retaliação.

A terceira onda feminista aconteceu dos anos 1980 aos anos 2000, como uma forma de reparar os problemas já existentes na sociedade e para estudar ainda mais o que deveria ser conquistado para as mulheres. Até os dias de hoje ainda há uma série de estereótipos sobre como uma mulher deve ser, o que indica que a luta não acabou.

Imagem de várias mulheres em uma marcha pelos seus direitos em um evento no dia internacional das mulheres comemora com março.
Foto por Patricio Hurtado no Pixabay

Movimento feminista no Brasil

No Brasil, o movimento feminista que se desenvolveu na Europa começou em também no século XIX. Durante o Império, as lutas para que as mulheres pudessem frequentar escolas deram resultado, com a primeira escola para meninas no Rio Grande do Sul, dirigida pela escritora Nísia Floresta Augusta.

Nos anos seguintes, Nísia produziu artigos para jornais e revistas falando sobre a importância de combater as desigualdades entre homens e mulheres no país. Na Primeira República, no entanto, observou-se que as diferenças existiam também entre mulheres brancas, indígenas e pretas. Enquanto as brancas lutavam pelo direito de trabalhar, as indígenas e pretas não tinham outra opção senão a de trabalhar, muitas vezes em péssimas condições.

Em 1916, a mulher ainda era considerada dependente do marido, apesar dos esforços para que ela conseguisse emancipação. Sendo assim, ela não poderia se divorciar, se quisesse, e precisaria da autorização do marido até mesmo para fazer uma viagem.

Em 1917, porém, esse cenário começou a mudar, quando ocorreu uma Greve Geral. O Partido Republicano Feminino foi fundado para que houvesse a luta pelo direito ao voto feminino de forma incisiva e organizada. Somente em 1932, depois da pressão do movimento feminista, é que as brasileiras puderam votar.

Porém, com a Era Vargas, além de as eleições não terem acontecido, disseminou-se ainda mais a ideia de que as mulheres eram mães e esposas, exclusivamente, que cuidavam da casa e dos filhos, na contramão do que o movimento feminista pregava.

Imagem em preto e branco de vãrias mãos femininas e no centro uma mão com um dedo em destaque com a sua unha pintada na cor vermelha.
Foto por Karl-Heinz Gutmann no Pixabay

Em 1951, depois que a democracia foi retomada, as advogadas Romy Martins Medeiros da Fonseca e de Orminda Ribeiro Bastos enviaram um projeto ao Congresso Nacional que previa a liberdade das mulheres em relação aos maridos. Depois de dez anos, o projeto foi aprovado e os homens deixaram de tutelar as esposas, perante a lei.

Na década de 1960, enquanto o mundo todo passava a compreender a liberdade sexual que a pílula anticoncepcional promovia, o Brasil enfrentava a ditadura militar. Assim, as manifestações em torno dessa questão não poderiam acontecer em território nacional.

Em 1970, Therezinha Zerbini e outras mulheres criaram o Movimento Feminino pela Anistia, com o objetivo de libertar maridos e filhos que haviam sido presos pelo regime ditatorial. A partir de 1975, que foi considerado o Ano Internacional das Mulheres, as brasileiras passaram a se reunir com mais frequência para discutir questões como empoderamento feminino e sororidade, além de questões estruturais relacionadas ao gênero feminino.

Depois da década de 1980, as mulheres conquistaram ainda mais direitos com o movimento feminista. A obrigatoriedade de ocuparem 30% das candidaturas ao legislativo, garantindo a participação política, e a criação da Lei Maria da Penha, como forma de proteger as mulheres vítimas de violência doméstica, são exemplos das medidas que reduziram a desigualdade entre homens e mulheres.

Tipos de feminismo

Depois de entender o que é o feminismo e como ele surgiu no Brasil e no mundo, está na hora de assumir uma postura. Como em muitos movimentos sociais, o feminismo apresenta inúmeras vertentes teóricas, sendo que cada uma delas defende o combate da desigualdade de um jeito diferente. Conheça cada uma delas!

O feminismo negro

No princípio do movimento feminista, tanto no mundo quanto no Brasil, as manifestações pela igualdade de gênero estavam resumidas às mulheres brancas, de classe média alta e letradas, que tinham a possibilidade de estudar e reconheciam a opressão à qual eram submetidas.

Nos anos 1980, as mulheres pretas se deram conta de que o feminismo que tomava conta do mundo não abarcava as questões raciais que as afetavam. Como as mulheres não são iguais, as opressões que elas sofrem também são diferentes, mas nem todas as feministas tinham consciência disso.

Então, o feminismo negro se desenvolveu como uma forma de combater o machismo e o racismo, levantando pautas como o genocídio da população negra e a intolerância religiosa, com as religiões de matriz africana.

O feminismo interseccional

O feminismo interseccional tem como objetivo preencher a lacuna que há entre a luta das mulheres brancas e a luta das mulheres que fazem parte de uma minoria social. É um movimento que busca combater a opressão, as desigualdades de classe, de raça e de sexualidade.

Sendo assim, o feminismo negro, o feminismo lésbico e o transfeminismo fazem parte do feminismo interseccional, que é o mais abrangente e inclusivo. Além disso, é essa a vertente que apresenta mais abertura para a integração de homens ao movimento, enxergando-os como pessoas que podem se desconstruir e auxiliar na luta.

O feminismo radical

De acordo com o feminismo radical, a opressão das mulheres tem origem na atribuição de papéis de gêneros aos homens e às mulheres, desde o nascimento. A desigualdade se desenvolve, segundo a teoria, a partir do momento em que uma mulher aprende que deve ser gentil, delicada e submissa, enquanto um homem deve ser forte, poderoso e viril.

O que está presente no cerne do feminismo radical é a biologia. Se uma pessoa nasce com uma vagina, automaticamente ela será oprimida, porque lhe será imposto o papel de uma mulher. Se uma pessoa nasce com um pênis, por outro lado, ela será uma opressora, ao aprender qual é o papel que deve cumprir na sociedade.

Há alguns problemas que rodeiam o feminismo radical, como a falta de inclusão das pessoas transexuais, na vertente TERF (em inglês, feministas que excluem pessoas transexuais). Segundo essa teoria, um homem não pode se identificar como mulher e uma mulher não pode se identificar como homem, porque o conceito de gênero representa uma forma de opressão, e não uma identidade.

O feminismo liberal

O feminismo liberal defende a ideia de que as desigualdades entre homens e mulheres existem porque as leis são desiguais. Então, para superar essa diferença, seria necessário promover uma reforma política e legal.

Se as mulheres ocupassem mais cargos políticos e tomassem conta da esfera pública, teriam mais espaço na sociedade e poderiam propagar seus valores e suas ideias, reduzindo a desigualdade de gênero.

Lutar pela igualdade salarial entre homens e mulheres, incorporar os homens no movimento feminista e votar em representantes mulheres para cargos públicos são princípios que norteiam o feminismo liberal.

Imagem de uma mulher de cabelos longos avermelhados. Ela usa uma camise preta com os dizeres: Lute como uma garota!
Foto por Cândida Cunha no Pixabay

Símbolos feministas

Se você já sabe com qual vertente mais se identifica, antes de tudo é preciso estudar mais sobre cada uma delas. E para se inspirar a fazer isso, você pode conhecer as mulheres que são símbolos feministas, e que desenvolveram estudos essenciais para o combate do patriarcado e do machismo. Saiba quem são elas!

Angela Davis é uma das principais estudiosas do feminismo negro. Ela é um símbolo feminista por defender a importância de combater a dupla opressão que a mulher preta sofre.

No Brasil, Djamila Ribeiro é uma estudiosa que faz um trabalho semelhante ao de Davis. Em séries de livros, ela explica o que é feminismo, o que é feminismo negro e como ser antirracista, por exemplo.

Frida Kahlo foi uma artista plástica mexicana e uma mulher com deficiência que se destaca por ter enfrentado o conservadorismo a partir da arte e da manifestação de crenças e de ideias. Infelizmente, a cultura pop costuma representá-la à exaustão exclusivamente como um símbolo feminista, mas ela também foi importante na luta contra o capitalismo.

Simone de Beauvoir foi uma teórica de suma importância para o desenvolvimento do feminismo. É dela a frase “Ninguém nasce mulher, torna-se”, símbolo do feminismo e do combate à opressão masculina.

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São muitas as mulheres que atuaram e atuam na luta contra o patriarcado, mas ainda há outros símbolos feministas que não são necessariamente pessoas. Um punho fechado e erguido dentro de um espelho de Vênus, por exemplo, é uma imagem replicada para representar a luta feminina.

Outro símbolo feminista é a figura de uma mulher de camisa jeans e bandana erguendo a manga da blusa, como se mostrasse a força de seu braço. É uma imagem bastante conhecida e utilizada para falar sobre a força das mulheres, em um sentido metafórico.

Imagem de um livro aberto e no meio dele uma rosa nas cores vermelho e amarelo.
Foto por Daria Głodowska no Pixabay

Livros para entender o feminismo

Para ir além dos símbolos feministas e das definições superficiais de cada vertente do movimento, é importante que você explore as teorias que já foram divulgadas em livros. A partir delas você terá acesso aos estudos que baseiam o movimento, tendo uma base mais qualificada para lutar pelos seus direitos! Confira a lista a seguir!

1) “Feminismo — Perversão e Subversão”, de Ana Caroline Campagnolo.

2) “O Segundo Sexo”, de Simone de Beauvoir.

3) “Mulheres, raça e classe”, de Angela Davis.

4) “Quem tem medo do feminismo negro?”, de Djamila Ribeiro.

5) “O mito da beleza”, de Naomi Wolf.

6) “Problemas de gênero”, de Judith Butler.

7) “O feminismo é para todo mundo”, de Bell Hooks.

8) “Má feminista”, de Roxane Gay.

9) “Política sexual”, de Kate Millett.

10) “Um teto todo seu”, de Virginia Woolf.

Tenha consciência de que a luta pelo fim do patriarcado é constante e que ainda há um longo caminho a trilhar, mas, com união, esperança e determinação, ainda podemos conquistar mais do que já temos!

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