Convivendo

Precisamos falar sobre comparações

Escrito por Bianca Vieira

Quem nunca precisou escutar que deveria ser como outra pessoa? Em muitos casos, tal frase pode ser dita de forma despretensiosa, ou seja, sem a intenção de ferir o ouvinte, mas de qualquer modo, ele sempre será o alvo do pior sentimento que um ser humano pode absorver: Rejeição.

Porque diferente do que dizem por aí, ser rejeitado nem sempre diz respeito ao ato de ser excluído de algo, todavia, é relacionado ao desprezo às nossas qualidades, exaltando apenas os nossos defeitos, nos tornando vítimas de comparações que não possuem nenhuma relação condizente com as diferentes realidades das diversas vidas existentes. Porque veja bem, todos somos seres extraordinários e únicos. Se não fôssemos, por que não existe outro alguém com o mesmo código genético que o nosso?

Aliás, outro aspecto que precisa ser abordado é o “conhecer”. Você já se perguntou se realmente conhece as pessoas que julga ser íntimo(a)? Se a resposta foi algo como “sim, tenho absoluta certeza de que conheço todos os que julgo conhecer”, sinto muito, mas apenas os idiotas possuem certeza de algo.

Sabe de uma coisa? Quando eu era mais nova, tinha esta mania de me sentir igual aos outros, imaginando que existia algo em comum entre nós, contudo, ao reservar determinado tempo da minha vida para conviver rotineiramente com tais pessoas, aprendi algo muito importante: Só enxergamos aquilo que o outro deseja nos mostrar de si mesmo. 

Fiquei debaixo do mesmo teto que a pessoa durante dois meses e ao final do primeiro as máscaras começaram a desmancharem-se e percebi que não existia nenhum vínculo afetivo naquele relacionamento postiço. Era falso. Eu não era a dissimulada da história, mas o conjunto da obra era. E como sofri (para nunca mais)!

Veja bem, comparava os outros com tal pessoa, como se ela fosse um exemplo de características pessoais a ser seguido. Não podia prever tamanha falta de caráter oriunda da ternura manifestada. Sobrou até para mim. Quantas vezes me olhei no espelho e me perguntei o porquê de não ser como ela? Por que ela era tão melhor do que eu? Me sentia sua aluna, sempre disposta a aprender a ser um ser humano melhor, ignorando que não existia coisa alguma ali para ser absorvida, simplesmente porque não sabia reconhecer o meu próprio valor. Valor este que todos possuem, até mesmo aqueles que se acostumaram a viver na ilusão.

O hábito de comparar deveria ser substituído pela aceitação e pelo olhar poético, pois quando se busca compreender as belezas da realidade, sem aquela miopia, encontram-se os amigos e as pessoas reais, que honram a pele e os ossos que possuem. Não é obrigação de ninguém distribuir sorrisos para todos se eles não são verdadeiros, assim como não é lei esconder a realização pessoal e a alegria quando se está perfeitamente bem com si mesmo. É preciso entender isso e jamais comparar, porque você não sabe o que motivou aquele sorriso ou tal lágrima que lhe causa arrepios de solidão. Apenas enxerga o que desejam lhe mostrar.

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Logo, por favor, pare com isso! Pare agora ou se não se sentir capaz de retirar a venda que cobre a sua visão da profundidade humana, pelo menos tente. O mundo não é somente guerra, destruição, crise do século XXI, Donald Trump, famosos, youtubers, número de seguidores nas redes sociais ou seja lá o que mais existir de tendência (sou “vintage”, ultrapassada, uma idosa de 19 anos, perdoe se não sei de todas as novidades), mas é uma perfeita discordância de pensamentos, crenças, filosofias, biodiversidades, impressões digitais, personalidades, espécies e o que desejarmos que ele seja, porque é o nosso planeta, a nossa vida e a nossa existencialidade. O mundo é maravilhoso e toda luminosidade consiste na naturalidade do “seja você mesmo”, na forma como uma borboleta pousa próximo a nós, no modo como surgimos ao mundo, em um sono profundo ou no extasiante pranto, não importa. A beleza existe e depende apenas que você abra os olhos para contemplá-la.

Sobre o autor

Bianca Vieira

Nascida em 1998 em Muriaé, escreve desde que se conhece como gente e se sente filha da arte. Autora do livro "Me recordo dela" e deseja despertar o lado mais sensível das pessoas.

Instagram: @biancathewriter
Blog pessoal: merecordodela.blogspot.com.br
Youtube: Teor e Parnaso
Twitter: @biancapianist