Nem sempre o esgotamento vem do excesso. Às vezes, ele nasce do vazio. Da falta de desafio, da ausência de propósito, da rotina sem cor. Enquanto o burnout ganhou visibilidade nos últimos anos por expor os efeitos do excesso de trabalho e da pressão constante, o boreout ainda passa despercebido, mesmo sendo uma forma real e profunda de sofrimento.
Boreout é um termo que descreve um estado de esgotamento provocado não pela intensidade do trabalho, mas pela sua falta de sentido. Ao contrário do que muitos pensam, não é apenas “preguiça” ou “falta do que fazer”. É uma experiência emocional e mental que corrói a motivação, suga a vitalidade e mina a autoestima. E pode estar acontecendo com mais gente do que se imagina.
Na superfície, tudo parece tranquilo. A carga horária está sob controle, não há grandes conflitos, nem cobranças absurdas. Mas por dentro, existe um incômodo constante: a sensação de que nada do que se faz realmente importa. De que o próprio potencial está sendo desperdiçado, deixado de lado, ignorado. Aos poucos, a pessoa começa a se desligar, primeiro da tarefa, depois do ambiente e por fim de si mesma.
Alguns dos sintomas mais comuns incluem apatia, falta de entusiasmo, desmotivação, baixa autoestima, ansiedade e até sintomas físicos como fadiga persistente ou insônia. Como a origem do problema não está num excesso visível, ele pode passar por um longo tempo sem ser nomeado. Muitas pessoas demoram para reconhecer que aquilo que sentem tem uma causa legítima.
Esse esvaziamento pode ter impactos sérios na saúde emocional e mental. Quando não nos sentimos úteis, quando não vemos significado naquilo que fazemos, é comum desenvolvermos um sentimento de inadequação ou de fracasso. Mesmo com estabilidade ou segurança, a alma sente que está murchando. E isso pode gerar culpa: afinal, “não está tão ruim assim”, certo? Mas está.
A cultura do “sempre ocupado” também dificulta a identificação do boreout. Vivemos num mundo que valoriza a produtividade extrema, e por isso é mais aceitável dizer que se está sobrecarregado do que admitir que se está entediado. Existe uma ideia inconsciente de que o tédio é sinal de fraqueza, quando, na verdade, ele pode ser um caminho urgente à transformação.
Ninguém deveria viver num piloto automático onde nada desafia, emociona ou desperta vontade. Trabalhar apenas por obrigação, sem criatividade ou autonomia, não é sustentável a longo prazo. E não estamos falando de mudar de carreira muito rapidamente, mas de olhar com honestidade para o que está faltando, e se há espaço para cultivar algo que traga vida de volta ao cotidiano.
O caminho para sair do boreout começa com o reconhecimento. Nomear o que está acontecendo já é um grande passo. Depois, é preciso investigar: o que está sendo negligenciado dentro de mim? Existe espaço para propor mudanças? Posso me reconectar com algo que me entusiasme, mesmo que pequeno?
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Às vezes, é uma conversa com a liderança. Outras vezes, é buscar um curso, um projeto paralelo, uma nova forma de organizar o tempo. Em casos mais profundos, pode ser a hora de repensar o lugar em que se está. E tudo bem. Não é fracasso. É maturidade emocional perceber que o corpo e a mente estão pedindo algo diferente.
Cuidar da saúde mental não é só descansar. É também buscar um sentido que mantenha a alma desperta. Não é sobre trabalhar menos ou mais, mas sobre estar inteiro naquilo que se faz.