Comportamento Convivendo Saúde Mental

Quando o tédio adoece: a exaustão silenciosa do Boreout

Imagem de um grupo de pessoas trabalhando. Todas estão com um semblante de esgotamento, olhando para a frente do computador. A foto traz o conceito da síndrome de Boreout.
Kzenon / Canva
Escrito por Giselli Duarte

O boreout é o esgotamento causado pela falta de sentido no trabalho. Silencioso, mina a motivação, autoestima e saúde mental. Não é preguiça, é ausência de propósito. Reconhecer o vazio e buscar sentido é essencial para viver com mais presença e alma desperta.

Nem sempre o esgotamento vem do excesso. Às vezes, ele nasce do vazio. Da falta de desafio, da ausência de propósito, da rotina sem cor. Enquanto o burnout ganhou visibilidade nos últimos anos por expor os efeitos do excesso de trabalho e da pressão constante, o boreout ainda passa despercebido, mesmo sendo uma forma real e profunda de sofrimento.

Boreout é um termo que descreve um estado de esgotamento provocado não pela intensidade do trabalho, mas pela sua falta de sentido. Ao contrário do que muitos pensam, não é apenas “preguiça” ou “falta do que fazer”. É uma experiência emocional e mental que corrói a motivação, suga a vitalidade e mina a autoestima. E pode estar acontecendo com mais gente do que se imagina.

Na superfície, tudo parece tranquilo. A carga horária está sob controle, não há grandes conflitos, nem cobranças absurdas. Mas por dentro, existe um incômodo constante: a sensação de que nada do que se faz realmente importa. De que o próprio potencial está sendo desperdiçado, deixado de lado, ignorado. Aos poucos, a pessoa começa a se desligar, primeiro da tarefa, depois do ambiente e por fim de si mesma.

Alguns dos sintomas mais comuns incluem apatia, falta de entusiasmo, desmotivação, baixa autoestima, ansiedade e até sintomas físicos como fadiga persistente ou insônia. Como a origem do problema não está num excesso visível, ele pode passar por um longo tempo sem ser nomeado. Muitas pessoas demoram para reconhecer que aquilo que sentem tem uma causa legítima.

Esse esvaziamento pode ter impactos sérios na saúde emocional e mental. Quando não nos sentimos úteis, quando não vemos significado naquilo que fazemos, é comum desenvolvermos um sentimento de inadequação ou de fracasso. Mesmo com estabilidade ou segurança, a alma sente que está murchando. E isso pode gerar culpa: afinal, “não está tão ruim assim”, certo? Mas está.

A cultura do “sempre ocupado” também dificulta a identificação do boreout. Vivemos num mundo que valoriza a produtividade extrema, e por isso é mais aceitável dizer que se está sobrecarregado do que admitir que se está entediado. Existe uma ideia inconsciente de que o tédio é sinal de fraqueza, quando, na verdade, ele pode ser um caminho urgente à transformação.

Imagem de uma mulher executiva, com semblante de esgotamento, olhando para a frente do computador. A foto traz o conceito da síndrome de Boreout.
Mlenny / Getty Images Signature / Canva

Ninguém deveria viver num piloto automático onde nada desafia, emociona ou desperta vontade. Trabalhar apenas por obrigação, sem criatividade ou autonomia, não é sustentável a longo prazo. E não estamos falando de mudar de carreira muito rapidamente, mas de olhar com honestidade para o que está faltando, e se há espaço para cultivar algo que traga vida de volta ao cotidiano.

O caminho para sair do boreout começa com o reconhecimento. Nomear o que está acontecendo já é um grande passo. Depois, é preciso investigar: o que está sendo negligenciado dentro de mim? Existe espaço para propor mudanças? Posso me reconectar com algo que me entusiasme, mesmo que pequeno?

Às vezes, é uma conversa com a liderança. Outras vezes, é buscar um curso, um projeto paralelo, uma nova forma de organizar o tempo. Em casos mais profundos, pode ser a hora de repensar o lugar em que se está. E tudo bem. Não é fracasso. É maturidade emocional perceber que o corpo e a mente estão pedindo algo diferente.

Cuidar da saúde mental não é só descansar. É também buscar um sentido que mantenha a alma desperta. Não é sobre trabalhar menos ou mais, mas sobre estar inteiro naquilo que se faz.

Sobre o autor

Giselli Duarte

Nunca fui alguém que se contenta em observar a vida passar. A inquietação sempre pulsou em mim, guiando-me a atravessar caminhos diversos, por vezes improváveis, mas sempre significativos. Não se tratava de buscar respostas rápidas, mas de me deixar ser moldada pelas perguntas.

Meu primeiro contato com o trabalho foi aos 14 anos. Não era apenas sobre ganhar meu próprio dinheiro, mas sobre entender como o mundo se movia, como as relações de troca iam além de cifras. Com o tempo, percebi que meu lugar não seria apenas cumprir horários, mas criar algo próprio. Assim, aos 21, nasceu meu primeiro negócio, registrado formalmente. Desde então, empreender tornou-se tanto profissão quanto paixão.

Mas, por trás dessa trajetória profissional, sempre existiu uma busca interior que muitas vezes precisei calar para priorizar o mundo exterior. Foi somente quando o cansaço me alcançou na forma de burnout que entendi que não podia mais ignorar a necessidade de olhar para dentro. Yoga e meditação não foram apenas escapes, mas verdadeiras reconexões com uma parte de mim que havia sido negligenciada.

Foi nesse espaço de silêncio que descobri o quanto a curiosidade que sempre me guiou podia ser dirigida também para dentro. Formei-me em Hatha Yoga, dentre outras terapias integrativas, e comecei a dividir o que aprendi com outras pessoas, conduzindo práticas e compartilhando reflexões em plataformas como Insight Timer e Aura Health. Ensinar, percebi, é uma das formas mais puras de aprender.

A escrita foi um desdobramento natural desse processo. Sempre acreditei que as palavras possuem a capacidade de transformar não só quem as lê, mas também quem as escreve. Meus livros, No Caminho do Autoconhecimento e Lado B, são registros de uma caminhada que não se encerra, mas que encontra sentido na partilha. Participar de antologias poéticas também me mostrou a força do coletivo, de somar vozes em algo maior.

Cada curso que fiz, cada desafio que enfrentei, trouxe peças para um mosaico em constante formação. Marketing, design, gestão estratégica – cada aprendizado me preparou para algo que, na época, eu ainda não conseguia nomear. Hoje, entendo que tudo se conecta.

Minha missão não é ensinar verdades absolutas, mas oferecer ferramentas para que cada pessoa possa encontrar suas próprias respostas. Seja através da meditação, da escrita ou de uma simples conversa, acredito que o autoconhecimento é um processo contínuo, sem fim, mas cheio de significado.

E você, o que tem feito para ouvir as perguntas que habitam em você? Talvez nelas esteja o próximo passo para um novo horizonte.

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Meditação para quem não sabe meditar

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