Existem silêncios que não nascem da paz, mas do hábito de se esquecer.
A rotina, com suas demandas e urgências, vai ocupando todos os espaços. Os horários são preenchidos, as tarefas concluídas, as responsabilidades cumpridas. E enquanto tudo acontece lá fora, o que acontece dentro de você?
É fácil se perder nesse ritmo.
Fácil deixar para depois aquela conversa importante consigo mesma.
Fácil ignorar o cansaço que se acumula, a tristeza que se disfarça de impaciência, a ansiedade que passa despercebida porque já virou parte do cotidiano.
Em algum momento, talvez você tenha aprendido que o que sente pode esperar.
Que a prioridade é dar conta de tudo, resolver o que está por fora, manter a ordem visível, mesmo que o que está dentro esteja em completo desalinho.
O tempo passa e a ausência de si mesma pesa.
Você se acostuma a sorrir sem motivo, a seguir sem saber exatamente para onde, a calar o que gostaria de dizer para manter a aparência de controle.
Mas existe um momento em que o corpo começa a falar.
Ele fala através do cansaço que não passa, das dores que surgem sem explicação, do sono agitado, da falta de ânimo para coisas que antes traziam alegria.
Fala também quando a vida perde o sabor e os dias parecem iguais, mesmo diante de conquistas que um dia foram sonhadas.
Esse é o convite mais honesto para retomar a escuta.
Não precisa começar com grandes mudanças. Às vezes, tudo começa com uma pergunta simples: o que você está sentindo agora?
Permitir-se ouvir essa resposta sem pressa de resolver, sem a necessidade de encontrar soluções imediatas. Apenas abrir espaço para que a sua própria voz tenha vez, depois de tanto tempo abafada por exigências externas.
Resgatar essa escuta é um movimento de retorno. Um reencontro com quem você é para além dos papéis que desempenha, das expectativas que tentam te moldar e das pressões que insistem em dizer o que é prioridade.
É nesse espaço de silêncio verdadeiro que nasce a possibilidade de escolhas mais conscientes. Escolhas que não partem da culpa ou da obrigação, mas de um lugar de respeito por si mesma.
Você também pode gostar
A vida continua a acontecer, a rotina não desaparece. Mas quando você se coloca de volta na própria história, algo muda. O peso se distribui, a presença se fortalece e a sensação de estar viva, e não apenas existindo, começa a retornar.
Se escutar é o primeiro ato de cuidado.
E talvez seja esse o cuidado de que você mais esteja precisando agora.
Não adie mais esse encontro com você.