Convivendo Crônicas da Vida

Reflexões no transporte público

Lonely young man shot from behind at subway station with blurry moving train in background
Escrito por Sol Felix

Em alguma estação do metrô, onde ainda há um pequeno sinal de internet no celular, Francineide leu o post de alguém: “A vida é uma festa: ou você dança ou se diverte”. Não sabia ao certo qual a diferença entre se divertir ou dançar, já que parte do seu sorriso fácil se deve a esta última noite de muita dança em uma festa divertidíssima.

Também teve preguiça de perguntar ao dono do post. Temia que uma resposta carregada de amargura (suspeitava fortemente que viria) atrapalhasse a leveza que sentia na alma apesar das dores em suas coxas. Descer até o chão, várias vezes na noite, dá nisso. E é lindo quando uma dor te faz sorrir. Nem o parto faz uma mulher sorrir, e ela entendia bem disso.

Neide acredita fazer parte de um grupo que está em processo de despertar espiritual. Atribui a isso o mal-estar que sente em alguns ambientes. Passou meses apenas frequentando lugares onde realmente era obrigada a frequentar, como o serviço.

Esta última noite era diferente. Além da lua cheia, haveria eclipse e uma alma gritando para vencer o medo e voltar a ser quem realmente é. Há almas que brilham meditando, há almas que brilham passeando com o cachorro no parque. Neide brilha se entregando ao mistério libertino da dança.

Pensive pretty girl sitting inside subway train

Com o orçamento justo e não podendo comprar um novo vestido para a ocasião, decidiu apostar em um penteado que nunca usou e um batom que estava esquecido no fundo de sua gaveta por ter uma cor diferente da que costuma usar. Por sorte, ainda dentro do prazo de validade.

Fran decidiu ir à festa e sabia que se pensasse muito desistiria. Pegou 1 ônibus, 1 metrô, 1 baldeação.

Enquanto caminhava rumo ao local, lembrou das palavras de uma espiritualista que afirma que esta região da cidade é muito “carregada” por ter muitos bares e, portanto, muitos “obsessores”.

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Esqueceu este pensamento tomando uma cerveja comprada na porta da festa. Dentro, além de ser mais cara, esta única latinha é o suficiente pra relaxar sem entregar sua coordenação motora e sua dignidade.

Neide ajeitou o cabelo e puxou o vestido. Deu graças pela proteção, “divou” na pista e reencontrou a Paz.

Sobre o autor

Sol Felix

Atriz formada pela Fundação das Artes de São Caetano do Sul e Designer Gráfico (Universidade Paulista). Nesta vida, resido em São Paulo desde sempre. Não sou viciada em tecnologia e amo chocolate amargo. Acredito, de forma encantada, que o ser humano é, por excelência, Arte e Artista.