Toda empresa que se pretende saudável fala de cultura. De propósito, clima, comunicação. Muitas, inclusive, contratam programas de bem-estar, investem em treinamentos e criam iniciativas para cuidar da equipe.
Mas ainda há um ponto delicado que segue sendo pouco olhado: a saúde mental de quem lidera.
O líder, muitas vezes, é tratado como um eixo fixo. Aquele que sustenta, orienta, resolve. A pessoa que, mesmo sob pressão, deve manter firmeza, clareza e estabilidade para todos os lados. E, nessa construção, é comum que sua vulnerabilidade fique à margem, como se a função ocupada anulasse o direito de fraquejar.
Pouco se fala sobre o cansaço que não passa. Sobre as decisões tomadas sob ansiedade crônica. Sobre a dificuldade de desconectar mesmo fora do horário. Sobre o peso de ser exemplo, mesmo quando por dentro tudo está desorganizado.
O que é chamado de alta performance, em muitos casos, esconde esgotamento. O que é interpretado como foco, às vezes, é apenas alguém em modo de sobrevivência. O que se entende como liderança natural pode ser uma tentativa contínua de provar valor, mesmo sem fôlego.
Quando a saúde mental de quem lidera não é pauta, a organização constrói seus pilares em uma base instável. Porque quem lidera influencia silenciosamente. O tom emocional do líder reverbera. Como ele se trata, é sentida. O que ele não diz contamina o ambiente com ausências e pressões que ninguém consegue nomear.
Negligenciar isso custa caro. E não apenas em números. Os impactos aparecem na perda de confiança, na rotatividade, na produtividade inconsistente, no clima organizacional que se esvazia aos poucos. A longo prazo, empresas que não cuidam de quem cuida perdem vitalidade. E líderes que não se sustentam, não sustentam resultados.
Uma organização só cresce de forma íntegra se olha com honestidade para seus vazios. E um dos maiores é fingir que líderes não adoecem. Ou que, se adoecem, devem lidar sozinhos, em silêncio, enquanto continuam a entregar, motivar, conduzir.
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Saúde mental é sustentação. E começa com permissão. Permissão para dizer “não estou bem”. Permissão para buscar apoio sem medo de parecer incapaz. Permissão para ser humano, antes de ser cargo.
O ponto cego das organizações pode ser corrigido com algo simples, mas que exige coragem: olhar de verdade para quem segura as pontas. Porque até quem conduz também precisa ser cuidado.