Estas são apenas algumas das muitas indagações atuais que vi em muita gente que conversei por aí, nos últimos meses. Inclusive em mim.
Estamos vendo no mundo a imagem perfeita de nosso espaço interno e aí surgem dois momentos: o primeiro, no qual sentimos tamanho empoderamento por estarmos nos reconhecendo finalmente como “reais”. E o segundo, que é o momento que assusta um pouco e faz refletir sobre esse “eu” que carregamos anos a fio um pouco escondido nos padrões de normalidade e aceitação do mundo.
E esse chamado atual, afinal, o que nos pede?
O chamado atual pede a visão honesta do ser. Não existe mais espaço para deixar os nossos poluentes internos guardados. É preciso purificá-los, senti-los e entendê-los, não mais ignorá-los. Não existe também tempo para postergar nossa cooperação, nossa união rumo à harmonia e ao fortalecimento do amor.
Por muito tempo, o autoconhecimento tem buscado resgatar o lado positivo do ser, mas agora, há um novo desafio a todo exercício que a proposta de se autoconhecer traz: o de enxergar a matéria-prima que nos compõe. Seja ela refinada e leve, seja ela confusa e densa.
É claro que o crescimento maior se dá ao que empreendemos atenção, por isso que é dito para focar no positivo, mas existem sementes fortes que, mesmo com o ignorar, existem e persistem, ainda que escondidas. Uma hora acabam emergindo e rompendo a casca… E como não foram cuidadas antes, bagunçam todo o trabalho feito anteriormente focado só na parte boa.
Parece cruel, mas é verdadeiro: não dá para entender-se pleno quando ocultamos incômodos. É certo que não precisamos nos abraçar com os incômodos do ser, mas precisamos aceitar que eles existem e precisamos realizar uma ação cuidadosa com eles. Precisamos aceitar que temos, sim, as nossas sombras.
A rachadura tem história
Quando há uma rachadura, uma falha, algo aconteceu. Há uma história, uma cena, existem pessoas envolvidas e tudo isso compôs um capítulo da vida. Tal capítulo criou em nós um modo de pensar, sentir e agir, ou seja, tal capítulo nos levou de um estado a outro. É inegavelmente um capítulo de nossa jornada, uma página do livro.
É comum ouvirmos: “Esqueça o passado, é para frente que se anda!”, mas é incomum ouvirmos: “Compreenda o seu passado, aceite-o, retire dele algo bom e caminhe consciente!”.
A rachadura, quando preenchida com entendimento e suavidade, acaba se tornando um dos mestres de nossa travessia. A rachadura apenas disfarçada com o cinza de uma massa e sem muito capricho se torna a vilã de toda a história.
O lado de dentro é o único lado?
O lado de dentro é o lado mais importante e determinante até, mas não é o único! Se usado para esconderijo, o lado de dentro acaba sendo a própria cela que nos priva da vida. Essa não é a ideia, o propósito que o verdadeiro exercício de autoconhecimento deve proporcionar.
Reconhecer o lado de dentro é notável e imprescindível, mas sem esquecer que o mundo precisa de participação, de ação, de iniciativas e, muitas vezes, de posturas novas.
O lado de dentro não pode ser o lado da apatia. O silêncio não pode ser aquele que nos tira o papel de cidadãos, de participantes e de ajudantes do bem, do contrário, o chamado é ignorado sob o disfarce de estabilidade. Quando calamos ao chamado, aos pedidos de ajuda, não estamos sendo honestos com a vida, com o nosso bonito e real propósito da vida.
Ter a visão honesta do lado de dentro implica em ver realmente a faísca que nos convida a iluminar caminhos, jamais fugir deles ou deixar outros perdidos e sem luz.
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