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O ciclo das desculpas trágicas: o vitimismo como mecanismo de evasão

Imagem de um lindo pôr do sol meio rosado e em destaque a silhueta de um homem.
Rakicevic Nenad / Pexels / Canva
Escrito por Fabiano de Abreu

Na era da empatia, é urgente diferenciar dor legítima de narrativas trágicas usadas como fuga. Quando a vitimização se torna padrão, revela-se um mecanismo de defesa e manipulação. Responsabilidade emocional exige verdade, mesmo quando ela dói.

Vivemos numa era em que a empatia ganhou protagonismo e a fragilidade humana passou a ocupar um espaço central nos discursos sociais. No entanto, neste mesmo contexto, emerge um comportamento cada vez mais recorrente e pouco discutido: o uso contínuo de desculpas trágicas para justificar ausências, incumprimentos e responsabilidades não assumidas. A morte de um familiar, uma doença grave, um acidente súbito. Desculpas assim aparecem ciclicamente, quase como padrão, em determinados perfis de comportamento.

Este tipo de narrativa, quando repetida em demasia e sem evidência que a sustente, deixa de ser sinal de sofrimento e passa a ser sintoma de uma fuga organizada. Uma fuga não apenas do compromisso, mas da própria realidade. É a dramatização da vida transformada em estratégia social. Nestes casos, não se trata de mentira comum. Trata-se de um mecanismo de autopreservação emocional, construído com base na vitimização como forma de obter acolhimento, isenção ou tolerância.

Este padrão pode estar ligado a traços de personalidade disfuncionais, como o perfil histriônico, que se caracteriza por uma necessidade constante de atenção e tendência para exagerar emoções. Em outros casos, pode haver indícios de comportamento factício, quando a pessoa simula ou exagera de forma intencional problemas para obter benefícios emocionais ou sociais.

Importa, porém, fazer uma distinção clara. A dor legítima existe. A perda acontece. O sofrimento é parte do humano. O problema não está no uso ocasional de uma explicação verdadeira, mas na transformação da desgraça em argumento sistemático. Quando o enredo da vida de alguém gira constantemente em torno da tragédia, há que questionar o que está por trás dessa construção narrativa. O que se está a evitar? O que se pretende com o enredo de dor?

Ao normalizar este tipo de comportamento, a sociedade contribui para a manutenção de um ciclo pouco saudável. O silêncio diante de desculpas repetidas e incoerentes reforça o padrão. A ausência de questionamento transforma o vitimismo crônico em zona de conforto. É preciso lembrar que empatia não significa aceitar tudo sem reflexão. Há responsabilidade na escuta, tanto quanto há responsabilidade na fala.

Valorizar a honestidade emocional é também valorizar a maturidade psíquica. Nem sempre falhar é um problema. Problema é não reconhecer a falha. Problema é recorrer à tragédia como escudo permanente contra a crítica, contra o esforço e contra o crescimento. Afinal, não é a ausência de dificuldades que constrói o caráter, mas como se lida com elas. E isso começa por dizer a verdade, mesmo quando ela é desconfortável.

Sobre o autor

Fabiano de Abreu

Fabiano de Abreu Rodrigues é um jornalista, psicanalista, neuropsicanalista, empresário, escritor, filósofo, poeta e especialista em neurociência cognitiva e comportamental, neuroplasticidade, psicopedagogia e psicologia positiva.

Pós PhD em Neurociências e biólogo membro das principais sociedades científicas como SFN - Society for Neuroscience nos Estados Unidos, Sigma XI, sociedade científica onde os membros precisam ser convidados e que conta com mais de 200 prêmios Nobel e a RSB - Royal Society of Biology, maior sociedade de biologia sediada no Reuno Unido.

É membro de 10 sociedades de alto QI, entre elas a Mensa, Intertel, ISPE, Triple Nine Society, coordenador Intertel Brazil, diretor internacional da IIS Society e presidente da ISI e ePiq society, todas sociedades restritas para pessoas com alto QI comprovados em testes supervisionados. Criou o primeiro relatório genético que estima a pontuação de QI através de teste de DNA e o projeto GIP - Genetic Intelligence Project com estudos genéticos e psicológicos sobre alto QI com voluntários.

Autor de mais de 50 estudos sobre inteligência, foi voluntário em testes de QI supervisionados, testes genéticos de inteligência e estudo de neuroimagem já que atingiu a pontuação máxima em mais de um teste de QI em mais de um país corroborando com os demais resultados genéticos e de neuroimagem.

Proprietário da agência de comunicação e mídia social MF Press Global, é também um correspondente e colaborador de várias revistas, sites de notícias e jornais de grande repercussão nacional e internacional.

Atualmente detém o prêmio do jornalista que mais criou personagens na história da imprensa brasileira e internacional, reconhecido por grandes nomes do jornalismo em diversos países. Como filósofo, criou um novo conceito que chamou de poemas-filosóficos para escolas do governo de Minas Gerais no Brasil.

Lançou os livros “Viver Pode Não Ser Tão Ruim”, “Como Se Tornar Uma Celebridade”, “7 Pecados Capitais Que a Filosofia Explica” no Brasil, Angola, Paraguai e Portugal. Membro da Mensa, associação de pessoas mais inteligentes do mundo, Fabiano foi constatado com o QI percentil 99, sendo considerado um dos maiores do mundo.

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