Em tempos de aceleração e superficialidade, ouvir quem pensa profundamente é um gesto de resistência. Nesta entrevista especial, você é convidado a conhecer Evandro Luiz Ghedin, filósofo que, vindo do interior do Paraná para a Amazônia, construiu um percurso intelectual marcado pela paixão pelo pensamento e pela educação. Leia e inspire-se com a história de quem acredita que a Filosofia é uma forma de habitar o mundo com consciência, crítica e humanidade.
Quem é você? Poderia nos contar um pouco sobre sua trajetória de vida?
Sou Evandro Luiz Ghedin, natural do Paraná, migrei para Roraima aos 19 anos. Depois, aos 24, migrei para Manaus para ingressar no Curso de Filosofia no CENESCH. Depois, fiz Licenciatura em Filosofia na Universidade Católica de Brasília em 1995. Especializei-me em Antropologia na Amazônia pela UFAM e Filosofia e Existência pela UCDB. Fiz mestrado em Educação na Ufam, doutorado em Filosofia da Educação na USP e pós-doutorado em Didática.
Quais eventos ou influências o levaram a se interessar pela Filosofia e a seguir esse caminho intelectual? Houve algum momento decisivo, leitura marcante ou figura inspiradora?
Meu interesse pela Filosofia nasceu antes da Filosofia, pois ainda muito jovem, por volta dos 16 anos, ficava me perguntando: por que no lugar do nada há o pensamento? Por que e como se forma o pensamento em nós? De um certo modo, posso dizer que estas questões sempre me mobilizaram em todo meu trabalho. Fiz muitas leituras ainda na juventude e antes de entrar no curso de Filosofia, procurando respostas a estas questões. Lembro da leitura de obras de Nietzsche, Sartre e outros autores. No entanto, como morava no interior, sempre tive pouco acesso ao acervo da cultura universal. O que me abriu horizontes quando ingressei na Filosofia. Sempre fui fascinado pelo conhecimento e suas múltiplas possibilidades.
Você possui livros publicados? Se sim, poderia nos contar quais são e do que tratam?
Foi da minha experiência com a Especialização em Filosofia e Existência que nasceu meu primeiro livro: “A Filosofia e o Filosofar”. Que faz essa relação entre o processo de pensamento, enquanto método, e o seu produto, a Filosofia. Nesta obra, apresento o processo histórico da Filosofia e alguns temas relevantes. Tal obra nasceu com a preocupação e o objetivo de constituir-se material básico para quem está iniciando seus estudos na Filosofia e surge no contexto do retorno da Filosofia ao Ensino Médio, bandeira que defendemos e lutamos nacionalmente para que se tornasse um direito de todos ao filosofar. Além deste, publiquei “O Ensino de Filosofia no Ensino Médio”, “Questões de Métodos da Pesquisa em Educação”, “Estágio com Pesquisa” entre outros 32 livros.
Em sua opinião, qual é o maior desafio enfrentado por quem escolhe a Filosofia como profissão ou modo de vida? Quais caminhos possíveis existem para enfrentar esse desafio?
A Filosofia, enquanto conhecimento sistemático, é um desafio para qualquer ser humano. No entanto, um deslumbre infinito de possibilidades. Profissionalmente é um desafio, especialmente porque vivemos em uma sociedade utilitarista, onde o conhecimento que mais vale é aquele subserviente à economia de mercado neoliberal e a ciência acaba por constituir-se como técnica. Neste modelo, a Filosofia tem pouco lugar, pois sua natureza crítica implica a formação de um ser humano integral e não o domínio de técnicas para submeter a natureza e subverter a condição humana, submetendo-a à subserviência dócil ao mercado.
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Que mensagem você gostaria de compartilhar com quem está lendo sua história, especialmente com aqueles que ainda não tiveram contato com a Filosofia?
Penso que sem a Filosofia, enquanto processo e produto da condição humana, o mundo não seria o que é, pois, os mais significativos avanços que fez a humanidade, antes de se tornarem ciência, técnica, produto e processo, nasceram na Filosofia, que se constitui a nossa maior referência para dizer, apesar de todos os limites, quem realmente somos enquanto humanos que habitam este planeta, com todas as reservas.