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Filosofia no dia a dia

Mulher branca e loira segurando caneca, olhando para janela.
Olena Yakobchuk / 123rf
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Somente quem já teve contato com a filosofia consegue explicar a sensação que ela nos causa; questionar até mesmo o que parece inquestionável expande a nossa consciência de maneiras inimagináveis, porém essa disciplina deixou de ser uma área prioritária para o estudo, o que levantou uma grande polêmica, afinal é a filosofia que nos ensina a pensar de forma crítica.

Embora algumas pessoas defendam que a filosofia é pouco prática, é ela que nos ensina a entender o mundo e a mudar a nossa percepção sobre ele. Com ela podemos aprender a nos relacionar, a consumir, a viver melhor e até mesmo a lidar com a morte, ou seja, a filosofia é essencial para o nosso dia a dia. Sendo assim, como podemos aplicá-la em nosso cotidiano? É sobre isso que vamos conversar neste artigo!

Praticando o ato de filosofar

Para entender exatamente o que é filosofia, precisamos recorrer a alguns significados dessa palavrinha tão complexa. E não ter lugar melhor para entender os significados das palavras do que um dicionário, certo? Então vamos dar uma olhadinha em algumas das principais explicações que o Dicionário de Oxford dá para essa palavra, que vem do grego “philosophĭa”, que significa, se traduzido literalmente, “amor ao saber”.

O filósofo grego Pitágoras foi um dos primeiros a tentar definir a filosofia. Segundo ele, a filosofia é o “amor pela sabedoria, experimentado apenas pelo ser humano consciente de sua própria ignorância”. Sabe aquele prazer que você sente ao finalmente conseguir entender algo que não estava compreendendo ou aquela sensação de que achava que conhecia alguma coisa, mas aí subitamente perceber que não conhecia e que há muito mais por saber sobre aquilo? Isso é filosofia, segundo Pitágoras. Filosofar, portanto, não se trata apenas de dizer, escrever ou ler pensamentos complexos. O simples ato de buscar conhecimento sobre aquilo que ignoramos é filosofar.

Mais um significado para filosofia: “pensamento inicialmente contemplativo, em que o ser humano busca compreender a si mesmo e a realidade circundante, e que determinará […] suas consequências éticas, políticas ou psicológicas”. Ou seja, sempre que paramos, mesmo que da maneira mais breve possível, para pensar a respeito do que vamos fazer, do que deixamos de fazer ou do que podemos fazer a respeito de alguma situação, ou quando refletimos a respeito de alguém, de algo que essa pessoa faz a nós ou algo assim, estamos filosofando.

E um último significado: “[…] especulações teóricas que compartilham com a religião a busca das verdades primeiras e incondicionadas, tais como as relativas à natureza de deus, da alma e do universo […]”. Isto é, sempre que refletimos a respeito do sentido da vida, da possibilidade da existência de um deus, do além-vida, de reencarnações e assim por diante, o que estamos fazendo é filosofia.

Como podemos perceber a partir desses significados que o dicionário traz para a palavra “filosofia”, todo e qualquer exercício de pensamento e de reflexão a respeito da vida, das nossas atitudes, das nossas relações com outras pessoas, do significado da existência e assim por diante nada mais são do que filosofia.

A partir disso podemos concluir que todos nós filosofamos e que fazemos isso numa frequência diária, talvez a todo instante, já que fazemos juízo de valor e analisamos cada coisa que nos acontece ou que vimos ao longo dos nossos dias.

Filosofia: troca de ideias

O único “lugar” que “frequentamos” 24 horas por dia é a nossa mente, portanto estamos em contato incessante com os nossos pensamentos, as nossas opiniões e as nossas conclusões. É quase como se fôssemos os filósofos mais importantes de nossas vidas. Ainda que tenhamos pensamentos e cheguemos a conclusões que analisamos e logo em seguida determinamos que não são verdadeiras, é comum que “concordemos conosco” quase que o tempo todo, já que nossas opiniões, afinal, são fruto da nossa experiência e das observações que fazemos ao longo da vida. O ponto é: aquele que fica restrito unicamente aos seus próprios saberes vai se enxergar como o dono da razão, por passar o tempo todo “concordando consigo”.

Mulher asiática sentada numa escada com mão apoiada no joelho levada à boca.
Anthony Tran / Unsplash

Sabe aquela sensação de ter passado o dia remoendo algo que alguém disse a você ou que você deveria dizer a alguém e, quando você tem a oportunidade de conversar com essa pessoa, percebe que entendeu tudo errado e que perdeu um tempão pensando a respeito dessas mentiras e distorções criadas em sua cabeça? Isso acontece o tempo todo, porque nossa mente tende a pregar como verdade o que, na realidade, são apenas opiniões e impressões pessoais.

A partir disso, podemos concluir que aquele que está realmente interessado em entender alguma coisa, independentemente de qual seja o assunto, precisa conversar com outras pessoas com o objetivo de trocar ideias e compartilhar visões de mundo diferentes, que podem enriquecer as suas ideias e flexibilizar opiniões e pensamentos que você acredita serem verdades absolutas, mas que são apenas a sua opinião a respeito de determinados assuntos.

E é importante dizer que, assim como filosofar é o simples ato de pensar a respeito de alguma coisa, ter uma conversa filosófica com alguém não é apenas algo “grandioso”, como discutir o significado da existência, o sentido da vida, o que é o amor ou algo do tipo. Simples conversas como uma troca de ideias sobre política e ideologia ou para tentar entender por que um amigo, por exemplo, tem determinada fé são, afinal de contas, diálogos filosóficos. Tudo aquilo que o incentiva a buscar ou adquirir algum conhecimento ou o estimule a refletir é, enfim, filosofia.

Como filosofar no dia a dia?

A primeira coisa que você precisa saber é que filosofar é algo natural, é algo que fazemos constantemente, na maior parte das vezes sem nem mesmo perceber, ao fazer um julgamento a respeito de uma pessoa, de uma situação ou de si mesmo. Qualquer reflexão é filosofia. Mas se você deseja se estimular a ter mais momentos de pensamento e de reflexão, preparamos 10 dicas que podem ajudá-lo a filosofar mais e a ter mais momentos consigo mesmo voltados ao pensamento:

Reflita sobre o seu dia

Antes de dormir ou quando acordar, pare e pense no dia que viveu ou no dia anterior. Pense nas palavras que disse a outras pessoas, reflita sobre suas decisões e atitudes e considere até mesmo as coisas que você faz “no automático”. Apesar de parecer pouco, é de pequenos momentos que a vida é feita, então se você consegue encontrar sentido, explicações e diminutas doses de conhecimento em seu cotidiano, estará filosofando diariamente;

Pense sobre grandes questões

Você tem medo da morte? Para onde vamos quando morremos? Qual é o significado do amor para você? O que você acha do sistema capitalista? O que você pensa sobre algo aleatório, como o sistema prisional? Há aplicativos e livros que estimulam esse tipo de questionamento (ex.: app QuestioNDiary, livro “Uma pergunta por dia”) e nos fazem pensar também nas questões maiores. Você não precisa ter certeza a respeito de nenhuma das conclusões às quais vai chegar, porque somente o estímulo a fazer essas reflexões já o enriquecerá intelectualmente;

Escreva seus pensamentos

Organize um horário na semana, por exemplo, e registre pensamentos, opiniões e sentimentos. Pode ser no celular, no computador, escrito à mão… Você decide como é melhor! Será muito interessante ler essas palavras meses ou anos depois, percebendo como mudou e transformou suas opiniões e conclusões;

Estude

Não importa o quê, estude. Um idioma, um instrumento musical, um curso sobre qualquer coisa, uma reportagem, uma revista, um assunto aleatório… Qualquer conhecimento nos estimula a querer mais conhecimento e dá mais significado à vida. Quanto mais você “usar o seu cérebro”, mais vai conhecer, mais vai entender sobre a vida e, consequentemente, mais vai pensar;

Use e abuse da arte

Quantas vezes você não ficou reflexivo depois de assistir a um filme ou a uma série, após ouvir uma música ou quando concluiu a leitura de um livro? Obras de arte abrem nossos olhos e nossa mente para realidades que não são as nossas, exercendo a nossa empatia e a nossa capacidade de enxergar o mundo através dos olhos de outra pessoa. Então entre bastante em contato com a arte e procure pensar sobre o que leu, assistiu ou ouviu logo em seguida;

Converse com pessoas

Ouça o seu pai, a sua mãe, o seu marido, a sua namorada, o seu irmão, a sua amiga, o porteiro do prédio, a sua gerente, o seu colega de trabalho… Ouça as pessoas, porque essa é uma das melhores maneiras de entender pontos de vista que não são seus e que podem até mesmo estar distante da sua vida. Estimule conversas, pergunte a opinião das pessoas e, acima de tudo, ouça com atenção;

Silhuetas de duas pessoas sentadas num banco conversando.
Etienne Boulanger / Unsplash

Seja crítico

Todo mundo está assistindo a uma série, todo mundo está acompanhando um influencer, todo mundo está lendo notícias sobre aquele assunto… Pergunte-se: você está mesmo interessado naquela série ou está querendo assistir somente porque todo mundo está assistindo? Você quer mesmo seguir nas redes sociais aquela subcelebridade ou acompanha porque não quer ficar por fora? Quando você questiona suas atitudes — e também as atitudes das pessoas — começa a criar suas próprias opiniões e sua própria personalidade, então entende por que faz o que faz e o que seria melhor fazer;

Leia/ouça pensadores

Ainda que todos possam fazer filosofia, há algumas pessoas que dedicam sua vida a estudar e tentar compreender a existência ou questões muito específicas da vida. Se você é cristão e se propuser a ouvir com atenção o Dalai Lama, líder do budismo no mundo, por exemplo, certamente vai absorver alguma lição, assim como qualquer pessoa que entrar em contato com a obra de grandes pensadores e filósofos, como Platão, Nietzsche, Foucault etc. Quando ouvimos alguém que estudou bastante sobre o que está falando, muitas vezes compreendemos quanto sabemos pouco sobre aquilo, o que expande o nosso conhecimento e alarga a nossa humildade de entender que temos muito a conhecer;

Faça atividades que nunca fez

Você já assistiu a um filme israelense? Já jogou tênis? Já andou de patins? Já visitou aquele canto escondido na sua cidade? Quando entramos em contato com experiências nunca vividas, adquirimos um tipo de conhecimento que não está nos livros, mas nos sentimentos humanos. Estar aberto a viver novas experiências o fará refletir sobre a sua rotina, sobre a sua vida e sobre o sentido dela, então esteja sempre aberto a conhecer e explorar novidades;

Mantenha a mente aberta

Mulher branca com a mão nos cabelos coloridos e expressão pensativa.
Sharon McCutcheon / Unsplash

Sempre que acreditar que tem razão a respeito de alguma coisa, questione-se. Sempre. A sua religião é a única verdadeira? O seu parceiro estava errado naquela discussão? Você ficou ofendido com algo que te disseram? Reflita sobre tudo o que acha verdadeiro e mantenha a mente aberta para o contraditório. Como disse o famoso filósofo grego Sócrates: “Só sei que nada sei”, ou seja, quando reconhecemos nossa ignorância e nosso desconhecimento a respeito de tanta coisa, naturalmente nos abrimos a explorar o inexplorado.

Inspire-se em grandes filósofos

A filosofia é um campo legítimo de saber das ciências humanas, mas para filosofarmos diariamente, precisamos também conhecer e valorizar o conteúdo científico produzido pelos filósofos profissionais, então que tal conhecer 6 grandes filósofos para embasar o seu estudo e reflexão? Acompanhe a lista a seguir!

Hannah Arendt

Filósofa e pensadora alemã, Hannah Arendt presenciou a dureza do totalitarismo em sua vida. Talvez seja por isso que sua maior obra se chame “As origens do totalitarismo”. Outros livros como “A Condição Humana”, “Eichmann em Jerusalém, e “Entre o Passado e o Futuro” também marcam a carreira de Arendt, e todos eles também trazem temas como o extremismo.

Santo Agostinho

Santo Agostinho foi uma figura importante nos primeiros anos do cristianismo e seus pensamentos intrigavam até a Igreja. Em vida, Agostinho escreveu sobre o tempo e como todos sabem o que é, mas ninguém consegue descrevê-lo. Além disso, ele também escreveu sobre o bem e o mal, concluindo que Deus é o supremo bem e a distância de Deus seria o mal. Mas sua obra é extensa e maravilhosa, impossível de ser resumida em poucas linhas, portanto vale a pesquisa mais aprofundada sobre quem foi esse filósofo.

Simone de Beauvoir

Conhecida por sua obra “O Segundo Sexo”, Beauvoir foi uma escritora, filósofa, intelectual, ativista e professora francesa, considerada uma das maiores teóricas do feminismo moderno. Por rejeitar os modelos, hierarquias e valores, a filósofa produziu diversos livros relacionados à filosofia, política e sociologia.

Immanuel Kant

Immanuel Kant foi uma personalidade influente e membro da Real Academia de Ciências de Berlim. Ele escreveu algumas das principais obras filosóficas da Modernidade, como a “Crítica da Razão Pura”, porém o filósofo se destacou principalmente por analisar o modo como poderíamos agir tendo em vista um princípio universal que não cause danos aos outros, preocupando-se em examinar os limites do homem.

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Platão

Talvez um dos nomes mais conhecidos da filosofia, Platão foi o criador do Mito da Caverna, pois para ele o homem vivia preso em um mundo de sombras, sem conseguir ver a realidade. Com diálogos que ainda se encaixam na atualidade, o filósofo refletia principalmente sobre política e idealismo.

Aristóteles

Outro nome famoso, Aristóteles é considerado o fundador da ética. O filósofo defendia que os sentidos devem ser o ponto de partida para a filosofia. Para ele, a busca pelo conhecimento é mais eficaz quando observamos e fazemos experimentações daquilo que estamos tentando compreender e a sua principal obra se chama “Ética a Nicômaco”.

Enfim, a filosofia parece algo distante de nossas vidas, uma coisa feita somente por intelectuais e estudiosos, mas a verdade é que todos filosofamos — todos os dias! Quando você se estimula a pensar e a refletir sobre a sua existência, alarga os horizontes da sua mente e se coloca à disposição da vida para descobrir aquilo que ainda não sabe.

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