Convivendo

A arte de silenciar

Mulher olha para o lado e coloca o dedo indicador sobre os lábios, indicando silêncio
Ion Chiosea / 123RF
Escrito por Carolina Garcia

Estar no intenso vácuo do silêncio, para muitos, pode ser ensurdecedor.

E por que tende a ser tão difícil ficar em paz com a gente mesmo, em comunhão com nossa intuição mais sutil, ouvindo apenas as vozes de dentro?

Pois é. Quando o assunto pede menos interação, menos extroversão e recolhimento, nos parece tarefa árdua, do lado de cá, no Ocidente. Não fomos ensinados a crer no poder das poucas ou nenhuma palavra proferida.

É preciso que estejamos sempre a vomitar qualquer verbo direto ou indireto, bobagens quaisquer de uma bebedeira entre amigos, em mesas de bar. Marcar presença e abrir a boca, por si só, parece bastar.

Mas por que tendemos a crer que o silêncio não traz respostas? Que a sabedoria reside tão somente no ato de falar?

E escutar o que emanamos de nossa alma? Qual o valor que isso tem?

Nossos sinais, nossa intimidade com o olhar, os gestos e plácidas demonstrações?

Muitas vezes, é no silenciar, no palpitar do coração, no arrepiar da pele e no transpirar pelos poros que nos deparamos com as maiores respostas, em que tudo parece fazer mais sentido e trazer a paz, tão necessária.

Homem sentado à beira de cais. Ao fundo, há montanhas.
S Migaj / Pexels

Palavras podem também ser punhais, ou, simplesmente, cristais.

Contudo, não apenas na falta das palavras, a vida se dá.

É preciso cantar, para além de orquestrar.

Não é novidade para ninguém que o corpo fala. E ele diz muito. Muito mais do que nossa boca seria capaz de explicar. Assim como um sentimento grandioso e nobre que temos por alguém. Como defini-lo em palavras? Poesia, talvez? Garanto não ser na quantidade de “eu te amo” que encontraremos a resposta do amor. A resposta está no ato de amar, que, em sua maioria, é silencioso. É como sorrimos, como tocamos o outro, como nos dedicamos, olhamos e escutamos. São todos atos de serenidade e discrição, que dispensam as palavras.

É o mesmo que contemplar uma bela paisagem. Sozinho ou acompanhado, o poder de contemplação será sempre solitário. Assim como o ermitão em sua longa caminhada.

A conexão que cada pessoa tece com o divino é única e de difícil explicação. Quanto menos palavras, mais apuração do sentir e de todas as compreensões do Universo.

Assim como muitos concordam que viajar é umas das maiores aventuras que o ser humano pode experimentar!

De fato, procede. Indo muito mais além, é possível afirmar que a maior viagem que o ser humano pode realizar é para dentro de si mesmo. Quem ousaria discordar?

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E o livro teria então utilidade ímpar para aqueles que conseguem ler nas entrelinhas, na ânsia por descobertas de tudo aquilo que as palavras não foram capazes de dizer. Em tempos de pandemia, em que a maioria diz não poder viajar, atravessar fronteiras… mergulhar numa bela história e poder ir para onde quiser… reflita o quanto pode ser essencial.

É de mãos dadas com alguém, entoando um mantra, fechando os olhos e respirando profundamente, sentado num lindo jardim, sentindo a grama fria, apalpando a terra seca para o plantio e se aninhando por amor, com todos os sentidos abertos (não somente a fala), que a vida acontece.

Abaixo, e por fim, um lindo trecho de um poema de Fernando Pessoa.

Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo.

Sobre o autor

Carolina Garcia

Minha primeira formação foi em publicidade, à qual sou muito grata, pois por meio dela me engajei na escrita, sempre atenta e observadora do comportamento humano. Ao longo desses quase 20 anos, atuei como redatora, fui colunista de comportamento para alguns sites em 2007, criei um projeto bem relevante voltado ao público feminino em 2014 - o Taco de Mulher - e tive o prazer de publicar uma história infantil nesse mesmo ano.

Sou pesquisadora na área da sexualidade há mais de 15 anos. Mas foi apenas em 2015 que decidi fazer uma pós-graduação relativa a essa abordagem. Em 2017, mergulhei fundo (e até hoje não paro de mergulhar) nos estudos astrológicos. Logo comecei a atender pessoas e sentir imensa gratidão por esse trabalho de autoconhecimento milenar tão rico. Sem dúvida, é minha mais potente ferramenta para adentrar o universo particular das pessoas, com mais afeto e empatia. Como astróloga também estudo outras áreas do ocultismo, como tarot e numerologia, integrando todos esses conhecimentos em minhas consultas.

Em 2019, fiz a formação completa de terapia do renascimento, também conhecida como rebirthing, uma técnica de respiração consciente muito eficaz na redução do estresse e no aumento de energia e de bem-estar, que libera toxinas do corpo (por meio da própria respiração), acessa e transforma a fonte de doenças usando a compreensão dos pensamentos subjacentes e sistemas de crenças que atraíram a doença, entre outros tantos fatores. Uma vez que se entende a importância de respirar adequada e conscientemente, tudo muda.

Isso se conecta diretamente com a terapia cognitivo-comportamental, uma área fascinante e necessária para atendimentos em terapia, que venho estudando com afinco ultimamente.

Acredito que um bom profissional, primordialmente, precisa pensar de forma ampla, mais inclusiva e plural, deixando de lado preconceitos ou julgamentos acerca de seus próprios valores e crenças pessoais.

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