Todo mundo fala sobre a noite escura da alma. Virou termo da moda no mundo espiritual, no coaching, na Internet. As pessoas usam essa expressão para qualquer coisa: perdeu o emprego, terminou relacionamento, está triste, está confuso. “Estou passando pela minha noite escura da alma.”
Não. Provavelmente não está.
A noite escura da alma não é uma fase ruim. Não é depressão. Não é tristeza prolongada. Não é uma crise existencial comum.
É algo muito mais devastador. E muito mais raro do que as pessoas imaginam.
Direto ao ponto
O que as pessoas acham que é
As pessoas romantizam a noite escura da alma. Acham que é aquele momento difícil em que você questiona tudo, chora bastante, faz terapia, lê uns livros de autoajuda e sai do outro lado mais iluminado.
Acham que é perder algo importante e ter que reconstruir. Acham que é enfrentar seus medos, suas sombras, e sair transformado.
Acham que tem fim programado. Que dura alguns meses, no máximo um ano. E depois você volta melhor, mais forte, mais consciente.
Não é isso.
A noite escura da alma não tem romantismo nenhum. Não tem previsão de término. Não há garantia de que você vai sair melhor do outro lado.
É destruição total. E não tem nada de bonito nisso.
O que realmente é
A noite escura da alma é o colapso completo de tudo o que você acreditava. De tudo o que você era. De tudo o que dava sentido à sua vida.
Não é perder um emprego. É perder a crença de que o trabalho te define.
Não é terminar um relacionamento. É perder a crença de que o amor te completa.
Não é questionar sua fé. É perder completamente qualquer conexão com o divino, com o sentido, com qualquer coisa que te segurava.
Você não está triste. Você está vazio. Completamente vazio.
Não tem chão. Não tem teto. Não tem parede. Não tem nada para se segurar.
Tudo o que você construiu desmorona. E não adianta tentar reconstruir porque você nem sabe mais quem você é. Você olha no espelho e não reconhece nada. Não sabe o que quer, o que acredita, para onde vai.
E o pior: você não sente nada. Nem dor. Nem medo. Nem desespero. Só vazio. Um vazio que engole tudo.
As diferenças entre depressão e noite escura da alma
Depressão te paralisa, mas você ainda sabe quem você é. Você está sofrendo, mas sua identidade está intacta.
Na noite escura da alma, você não sabe mais quem você é. Sua identidade foi destruída. Você não está sofrendo. Você simplesmente não existe mais.
Depressão responde a tratamento. Medicação, terapia, mudanças de hábito ajudam.
A noite escura da alma não responde a nada disso. Porque não é uma doença. É um processo espiritual. Um processo onde tudo o que era falso em você precisa morrer para que algo verdadeiro nasça.
Mas, enquanto isso não acontece, você está no limbo. Sem ser quem você era, sem saber quem você vai ser.
Por que acontece
A noite escura da alma acontece quando você viveu tanto tempo desconectado de quem você realmente é que seu sistema interno entra em colapso.
Você construiu uma vida baseada em mentiras. Mentiras que você contou para si mesmo sobre o que te faz feliz, sobre o que você quer, sobre quem você é.
Você seguiu roteiros. Fez o que tinha que fazer. Virou quem esperavam que você fosse. E funcionou por um tempo.
Até que não funciona mais.
Aí vem o colapso. E não tem como evitar.
Você tenta se segurar nas coisas que sempre funcionaram: trabalho, relacionamentos, hobbies, espiritualidade. Mas nada te preenche mais. Nada faz sentido.
E você percebe que tudo era falso. Você era falso.
E agora? Agora você precisa morrer para renascer. Mas ninguém te explica como fazer isso.
O que ninguém te conta
Ninguém te conta que a noite escura da alma pode durar anos. Não meses. Anos.
Ninguém te conta que você vai acordar todos os dias sem vontade de nada. Sem sentir nada. Sem saber para que serve tudo isso.
Ninguém te conta que as pessoas vão te abandonar. Porque ninguém aguenta ficar perto de alguém que está nesse processo. É pesado demais. É assustador demais.
Ninguém te conta que você vai perder tudo. Emprego, relacionamentos, dinheiro, estrutura. Porque você não consegue mais manter nada disso. Você mal consegue sair da cama.
Ninguém te conta que você vai pensar em desistir. Não necessariamente em morrer, mas em desistir de tentar encontrar sentido. Porque parece que não tem.
E ninguém te conta que não tem atalho. Não tem como acelerar. Não tem como pular etapas.
Você só pode atravessar. Um dia de cada vez. Sem saber quando vai acabar.
O que fazer quando você está nela
Não tem muito o que fazer…
Você não pode forçar a saída. Não pode fingir que está bem. Não pode tentar voltar a ser quem você era. Porque quem você era morreu. E não volta.
O que você pode fazer é sobreviver. Dia após dia. Sem expectativa. Sem pressão.
Aceitar que você está nesse lugar. Aceitar que não tem controle. Aceitar que não sabe quando vai acabar.
E confiar. Confiar que alguma coisa vai nascer desse vazio. Que alguma versão verdadeira de você vai emergir quando for a hora.
Mas, enquanto isso não acontece, você só pode estar ali. No escuro. Sem tentar acender a luz.
Porque a luz só volta quando você para de procurar por ela.
O que vem depois
Se você conseguir atravessar, o que vem depois é diferente de tudo.
Você não volta a ser quem era. Você se torna outra pessoa. Uma pessoa que não precisa mais de máscaras, de aprovação, de validação externa.
Você se torna alguém que sabe quem é. De verdade. Não quem deveria ser, não quem todo mundo acha que você é. Quem você realmente é.
Seus relacionamentos mudam. Seu trabalho muda. Suas escolhas mudam.
Porque você não está mais vivendo a vida de alguém. Você está vivendo a sua.
Mas chegar lá exige atravessar o inferno. E não tem como evitar.
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Nem todo mundo passa por isso
E está tudo bem.
A maioria das pessoas vive a vida inteira sem passar pela noite escura da alma. E vivem bem. Têm vidas felizes, plenas, cheias de sentido.
Você não precisa passar por isso para ser completo. Você não precisa se destruir para renascer.
Mas se você está passando, saiba: você não está louco. Você não está errado. Você não está sozinho.
Você está atravessando algo que poucos atravessam. Algo que vai te transformar de formas que você nem imagina.
E, quando acabar, você vai olhar para trás e entender.
Não vai achar bonito. Não vai romantizar. Mas vai entender.
E vai saber que valeu a pena. Porque agora você é você. E nada substitui isso.
