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Como descobrir e lidar com o autismo

Peças de madeira formando a palavra "autism" e os números "123".
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Escrito por Eu Sem Fronteiras

De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais, o transtorno do espectro do autismo (TEA) consiste em um distúrbio neurológico que se caracteriza pelo comprometimento da interação social, da comunicação verbal e não verbal e de um comportamento restrito e repetitivo. Existem inúmeros subtipos desse transtorno, que apresentam diversos graus de comprometimento, que variam de casos de pessoas independentes (que nem sequer sabem que são autistas) até comorbidades (doenças e condições associadas). Por essa razão, usa-se o termo “espectro”.

Quantos são os autistas?

É difícil estimar a quantidade de crianças com autismo no Brasil e no mundo, e muito disso se deve à dificuldade de se obter um diagnóstico, tendo em vista a necessidade de se realizar uma complexidade de exames. Em 2017, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) estimava que, para cada 160 crianças, uma é diagnosticada dentro do espectro. Já estimativas globais da Organização das Nações Unidas (ONU) indicam que 1% da população é autista, o que logicamente levaria a um total aproximado de 2 milhões de autistas no Brasil, mas trata-se apenas de estimativas.

Imagem de um criança sentada no chão olhando para o quadro negro. Ela usa uma blusa azul marinho com capuz e ao lado dela está um ursinho de pelúcia.
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Segundo a revista “Autismo”, em uma publicação de 2019, não há números oficiais porque o Brasil não tem estudos de prevalência de autismo. Ainda segundo a revista, em 2011 foi feito um estudo-piloto, na cidade de Atibaia (SP), pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, que revelou 1 autista para cada 367 crianças, sendo que essa pesquisa foi realizada em um bairro com 20 mil habitantes. É pouco para se desenhar alguma perspectiva sobre dados nacionais ou mundiais, mas é importante no sentido de se pensar em políticas públicas e no mapeamento dos autistas em cada área.

Causas do autismo

Ainda se sabe pouco sobre as causas do autismo, mas cada vez mais elas apontam para a genética. Um estudo publicado em 2019 na revista médica JAMA Psychiatry indicou que os fatores genéticos são os mais expressivos para determinar as causas (entre 97% e 99%, sendo 81% hereditários). Fatores ambientais também podem estar associados, mas ainda há controvérsias.

Sinais

Os primeiros sinais do autismo geralmente aparecem até os dois anos de idade e variam de criança para criança. No entanto os mais importantes a se observarem são: dificuldade de interagir socialmente, atraso no desenvolvimento da fala e comportamentos repetitivos. Esses sinais em geral se desenvolvem de forma gradativa, mas algumas crianças podem apresentar um ritmo normal no desenvolvimento, regredindo posteriormente.

Outros sinais também devem ser considerados. Fique atento se a criança:

– não consegue manter contato visual por mais de 2 segundos;
– isola-se ou não demonstra interesse por outras crianças;
– alinha objetos;
– não atende quando é chamada pelo nome;
– não tem capacidade ou interesse por imitar;
– não brinca de forma convencional com algum brinquedo;
– não fala nem faz gestos para mostrar alguma coisa;
– sente-se desconfortável em sair da rotina, podendo até entrar em crise;
– tem interesse restrito ou hiperfoco (interesse obsessivo por algum objeto ou assunto específico);
– repete frases ou palavras mecanicamente (ecolalia).

Imagem de um garoto olhando e apontando para o seu carrinho de brinquedo amarelo. Atrás dele, está a sua mãe colocando as mãos sobre os ombros.
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O ideal, nesse caso, é buscar um médico especialista para acompanhar a evolução desses sinais o quanto antes, além de “fechar” o diagnóstico até os 3 anos de idade.

Abril Azul

Com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre o autismo e também de combater o preconceito e a estigmatização foi proposta a campanha Abril Azul, em 2007. Dentro desse contexto, o dia 2 de abril é o considerado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, estabelecido pela ONU no fim daquele mesmo ano.

A mobilização de todas as pessoas envolvidas com a realidade do autismo – pais, responsáveis, cuidadores e profissionais de saúde – deu início a uma série de iniciativas para promover uma melhor qualidade de vida para os portadores. Entre elas, foram criados os símbolos ligados aos transtornos desse espectro. Os quatro principais são:

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1 – Cor azul

Simboliza a maior incidência de casos no sexo masculino. Segundo várias pesquisas ao longo dos anos, a proporção é de 4 meninos afetados para 1 menina. E esses dados são corroborados pelas estatísticas de órgãos de saúde, como o CDC (Center of Diseases Control), dos EUA, e o National Autism Spectrum Disorder Surveillance System (NASS), do Canadá. Por isso se deu a escolha da cor, pois a prevalência do autismo é no sexo masculino.

No Dia Mundial de Conscientização do Autismo, a cor azul ilumina uma série de monumentos no mundo inteiro, como o Cristo Redentor, na cidade do Rio de Janeiro.

2 – Quebra-cabeça

Indica a complexidade dos distúrbios que compõem o espectro do autismo. Esse símbolo foi usado pela primeira vez em 1963. O quebra-cabeça também é usado para passar a ideia de que as pessoas autistas são difíceis de compreender (tais quais um quebra-cabeça).

3 – Fita de conscientização

Imagem de uma criança jogando e montando um quebra-cabeça. Ela está sentada de frente com uma mulher que está observando-a. A mesa é branca e sobre ela tem os jogos infantis e um relógio de parede colorido.
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Essa fita é um símbolo muito comum também em outras causas. No caso do TEA, é a fita do quebra-cabeça, com peças em cores diferentes, representando a diversidade de pessoas e de famílias que convivem com o autismo. Também é usada para identificar locais nos quais essas pessoas são bem-vindas.

4 – Logotipo da neurodiversidade

É um sinal de infinito nas cores do arco-íris. Simboliza a diversidade de expressões dentro do espectro do autismo.

O que o futuro reserva?

Ainda há muito que se estudar sobre o autismo. Apesar da dificuldade de se chegar a um diagnóstico (muitas vezes impreciso) e de encontrar tratamento, principalmente na rede pública de saúde, há avanços na área tanto na questão científica quanto no olhar da sociedade para a questão.

Imagem de uma criança afrodescendente sentada em um sofá de couro branco. Ela segura em seu colo um ursinho de pelúcia bege.
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É claro que ainda existe o estigma para quem é diagnosticado, além da batalha travada por seus responsáveis, que enfrentam não só o preconceito e a intolerância, mas também a falta de orientação. A população, porém, melhorou e está acontecendo uma onda de sensibilidade e uma busca de entendimento do transtorno.

E isso é de extrema importância não só para aprendermos a lidar com o autismo, que não é uma doença (que fique bem claro), mas também para que tenhamos a capacidade de lidar com as diferenças usando o respeito, a compreensão e a empatia acima de tudo, já que somos todos diferentes, sim, então merecemos respeito e amor.

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