Autoconhecimento

Como os filtros das redes sociais mexem com a nossa autoestima

Mulher de olhos fechado segurando espelho ao lado de seu rosto
Polina Kovaleva / Pexels
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Quem não quer, literalmente, sair bem na foto, não é mesmo? Especialmente nos dias de hoje, com redes sociais que alimentamos com fotos dos nossos rostos, nosso corpo e nosso dia a dia.

O problema é que tanta exposição acaba causando insatisfação com o próprio corpo e o próprio rosto — comparações são inevitáveis nas redes… Os vilões são muitos quando o tema é esse, mas um vem sendo bastante discutido hoje em dia: os filtros do Instagram. Como eles fazem mal para nós e para a nossa autoestima?

Plástica gratuita?

A verdade é que os filtros que afinam o nariz e as bochechas, aumentam o tamanho dos lábios, o formato das sobrancelhas, e por aí vai. Realizam uma vontade que todas as gerações tiveram: corrigir suas pequenas “falhas”. Se, antes, isso só era possível por meio de caríssimas cirurgias plásticas, hoje é feito de graça nos apps.

O problema é que, de tanto usar os filtros na hora de postar selfies nos Stories e no feed do Instagram, a imagem que vemos no espelho, o nosso rosto real mesmo, vai nos deixando cada vez mais insatisfeitos, porque o ideal se torna o irreal do filtro das redes sociais.

De pouco em pouco, vamos criando em nossa mente uma versão distorcida do nosso rosto e — por que não? — de quem somos, criando o que a Psicologia chama de dismorfia corporal.

O que é dismorfia corporal?

A dismorfia corporal é um transtorno psicológico que causa uma preocupação excessiva com a beleza, especialmente com o peso e com o rosto, fazendo com que a pessoa supervalorize pequenas imperfeições ou mesmo características comuns, impactando fortemente sua autoestima.

Mulher se maquiando e olhando para o espelho em sua mão
Polina Tankilevitch / Pexels

A dismorfia corporal existe há décadas, mas é consenso entre os profissionais de saúde mental que as coisas têm se agravado nos tempos em que vivemos, especialmente por causa dessa comparação entre rosto da vida real versus rosto alterado pelos filtros das redes sociais.

Quantidade absurda

Se você acha que esse é um problema pequeno, que atinge algumas poucas pessoas, está muito enganado. Uma pesquisa feita pela marca de cosméticos Dove, publicada em dezembro de 2020, mostrou que 84% das adolescentes brasileiras (de 13 anos em diante) já haviam usado filtros ou apps de edição de fotos para mudar sua imagem.

Entre essas garotas, 78% afirmaram que tentaram mudar ou ocultar imperfeições no rosto e no corpo antes de publicar uma foto nas redes sociais.

O outro é perfeito?

Esse é um problema tão grave que, mesmo as pessoas que não usam os filtros em seus próprios rostos e fotos acabam sofrendo com isso no mundo das redes sociais. Nessa mesma pesquisa da Dove, 35% das adolescentes relataram que se sentem “menos bonitas” ao verem fotos de influenciadoras digitais e celebridades nas redes sociais.

Mulher se olhando no espelho
Ivan Oboleninov / Pexels

Ou seja, até mesmo aquele que “escapa” dos filtros em suas fotos sofre porque está todo mundo usando, então a impressão é que todas as mulheres são bonitas, “menos eu”.

Impacto direto

Quer mais uma prova de como esses filtros fazem muito mal para a autoestima das pessoas, a longo prazo? Essa mesma pesquisa mostrou que 60% das jovens que passam entre 10 e 30 minutos editando suas fotos antes de publicá-las afirmaram ter baixa autoestima.

Esse percentual cai para somente 9% entre aquelas que não editam suas fotos. Isso só mostra que, quanto mais tempo uma pessoa passa editando suas fotos, em vez de se sentir mais bonita e atraente, acaba se sentindo o oposto.

Uma indústria enorme

Ainda que todos estejamos “expostos” a esse impacto em nossa autoestima que o mundo virtual tem, as mulheres são historicamente mais afetadas por um problema como esse. Historicamente porque as indústrias cosmética e da moda faturam bilhões há décadas promovendo insatisfação das mulheres com seu próprio corpo.

Para se ter uma noção de quão grande são essas indústrias, basta saber que o Brasil é o líder mundial no ranking de países com mais jovens que fazem cirurgias plásticas.

Nos últimos 10 anos, segundo reportagem publicada no site do jornal da USP, o número de cirurgias plásticas em jovens brasileiros cresceu 140%. Em 2016, por exemplo, quase 1,5 milhão de plásticas foram realizadas – e olha que esse número desconsidera pequenas intervenções, como as chamadas harmonizações faciais.

Harmonização?

Harmonização facial é uma expressão que vem se popularizando nos últimos anos, especialmente nas notícias de celebridades e influencers nas redes sociais. Quando paramos para analisar o próprio nome desse procedimento, já identificamos muita coisa que pode fazer mal.

Homem se  olhando no espelho
Min An / Pexels

Se algo precisa ser harmonizado é porque está desarmonizado, certo? A naturalização desse tipo de cirurgia nos faz pensar cada vez mais que nossas características naturais não são harmônicas, que harmônico é o padrão das modelos das redes sociais.

Mas por que faz mal para a autoestima?

Ainda tem dúvidas de por que os filtros das redes sociais e dos apps fazem mal para a nossa autoestima? Confira alguns pontos.

Expectativa versus realidade

Ainda que tentem nos ensinar que não devemos ter expectativas em relação a nada na vida, a verdade é que seria impossível viver assim, porque é automática a nossa criação de expectativas com base no que vemos do e no mundo.

Quando você fica exposto demais aos filtros, sua expectativa é ter um rosto “perfeito” como aquele, o que pode frustrar.

Desarmonia

Como falando anteriormente, aos poucos vai se enraizando em nós a ideia de que nosso natural – as características com as quais nascemos – está em desarmonia, então seria preciso harmonizar.

Três mulheres sorrindo uma ao lado da outra
Radomir Jordanovic / Pexels

Isso é cruel porque faz com que aceitemos cada vez menos quem somos e também porque viramos escravos da moda do momento. E quando o formato do rosto da moda atual for outro? Volta todo mundo pra mesa de cirurgia?

Tempo demais nas redes

Uma pesquisa publicada pela Universidade de Stanford, dos Estados Unidos, em 2018, mostrou um dado alarmante. Entre as mil jovens entrevistadas para o estudo, 62% afirmaram que seus momentos de mais baixa autoestima são aqueles em que passam mais tempo nas redes sociais.

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E como combater isso?

Não há muito para onde correr: o negócio é se aceitar! É claro que se você tem algum problema físico que traz constrangimento e mal-estar para a sua rotina, pode ser bom procurar uma cirurgia estética.

Mas, para quem não passa por isso, aceitar a realidade como ela e a sua própria beleza como ela existe no mundo é essencial para encontrar um lugar de paz e tranquilidade em meio aos muitos estímulos trazidos pelas redes sociais.

Agora que você já tem ideia do tamanho do impacto que os filtros das redes sociais podem ter em nossas vidas, que tal tomar mais cuidado com eles para não acabar se preocupando mais do que deveria com aquelas características que te tornam único?

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