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É a “Baleia Azul” que mata os jovens?

baleia azul
Por Dr. Paulo Daruiche e Tânia Baptista

Baleia Azul é um nome de um jogo originado em uma rede social da Rússia. Isto aconteceu há mais de um ano, mas o mundo entrou em pânico porque a notícia se renovou – na Inglaterra, o suicídio de jovens foi recentemente associado ao jogo pela imprensa.

O jogo traz uma sequência de 50 tarefas, sendo a última o próprio suicídio do jogador. A imprensa noticiou que centenas de jovens teriam se matado por causa do jogo. Mas o fato é que não se pode associar nenhum caso ao jogo. Diversos canais de notícias na Europa levantaram informações a respeito do jogo, e talvez a informação mais relevante veio da Radio Free Europe, que se fez passar por adolescente querendo jogar este jogo.

Eles conversaram com os moderadores do jogo, que teriam dito não ser possível desistir, mas depois disto não mantiveram mais contato. A equipe do referido órgão conseguiu entrar em contato com diversos adolescentes que entraram no jogo, a maioria por curiosidade, e o mesmo ocorreu com eles: após o contato inicial não houve mais contato com os moderadores. Podemos dizer, sem muita margem de erro, que este jogo é um boato.

Mas o que vale aqui não é se o jogo é verdade ou não. A importância do tema consiste justamente no fato de que ele toca em um ponto muito doloroso para a nossa sociedade, o de que o suicídio de jovens está aumentando no mundo todo, e ninguém sabe o porquê. Isto acontece no Brasil também. O suicídio é a maior causa de morte entre jovens, competindo com os acidentes e causas externas/violentas.

O suicídio é a maior causa de morte entre jovens.

O adolescente está em uma época da vida em que vive transformações e descobertas. A sexualidade, a liberdade para sair de casa, a participação em grupos ou turmas, a formação de opiniões sobre o que vê no mundo, são exemplos da diversidade das experiências desta fase.

Uma educação rígida demais na infância (onde se exige demais da criança) pode trazer consequências na adolescência. Exemplos são o sentimento de menos valia, de incapacidade, de sentir que tudo que faz nunca está bom, ou também o sentimento de perfeição, de sentir que não consegue ser tão belo ou bom como o esperado, de não ser tão bom orador entre os seus, de não ser reconhecido como “O Bom”, não ser popular, etc… Isto gera uma grande angústia.

Por outro lado, uma educação permissiva demais (onde se permite tudo à criança) pode trazer, como consequência, a sensação de que o mundo nunca o satisfaz, pois ele não trabalhou a frustração quando criança.

Famílias que tem uma postura autoritária com o adolescente, não permitindo ideias diferentes, impondo vontades e não mantendo diálogos, tendem a aumentar a sensação de solidão. A solidão é um tema muito presente para o adolescente.

Ele não compreende seu mundo interior, mas sente que a segurança emocional de antes (vinda da família) já não existe mais. A segurança vem agora dos amigos, ou de um líder, de alguém ou algo que lhe traga a verdade do mundo. A sensação de não ser compreendido, de não ser aceito, é constante nessa fase.

A solidão é um tema muito presente para o adolescente.

O adolescente precisa construir um novo olhar sobre o mundo, e para isso tende a negar a opinião vinda da família. Isto pode ser um motivo para aumentar os conflitos e o sentimento de angústia no ambiente doméstico.

A busca por um posicionamento no mundo é fundamental nesta fase. No período dos 14 aos 21 anos (o terceiro setênio da vida), o adolescente está construindo sua identidade (que aparecerá após os 21 anos, na fase adulta), e para isto parte em busca do que é verdadeiro. Estar inserido em uma turma, ou ter um líder, passa a ser fundamental.

Entretanto, a verdade que este jovem procura pode ser qualificada pela angústia, pois nesse contexto, o que vale é a essência, e não os valores morais preconizados pela sociedade. Se alguns jovens passam a buscar a justiça social como verdade, e se inserem em grupos de movimentos sociais tais como partidos políticos, movimentos religiosos, trabalhos voluntários, etc, vemos a energia deles voltada para o outro.

Mas se a angústia é grande, podemos ver um movimento de achar uma verdade que o livre da dor, como as drogas, o consumo desenfreado, a exaltação do corpo, etc. Neste caso, o líder pode ser um traficante, uma celebridade, ou qualquer tipo de jogo que prometa que ele fará parte de um grupo como ele: um jovem que sofre muito.

baleia azul

A busca por um posicionamento no mundo é fundamental nesta fase.

Voltando à baleia azul, quando um adolescente apresenta sinais de transtornos emocionais (por exemplo, depressão), ele está mais propenso a pensar na ideia de suicídio. E há um consenso de que, quanto maior a exposição a este assunto – especialmente se o suicídio é valorizado, visto como um desafio, ou romanceado, isto aumenta a possibilidade de alguém já predisposto passar a considerar mais fortemente o assunto. Os idealizadores (reais ou não) do jogo passam a ser vistos como líderes.

A melhor forma de prevenirmos isto é estar atentos ao comportamento deles. E fazemos isto olhando para eles, conversando, convivendo juntos e nos importando com as coisas deles.

Quando um adolescente traz um assunto, e é tratado com violência ou desprezo (por exemplo, “Lá vem o aborrecente!”, ou “Ô fase chata da vida!”, ou “É importante o que você tem para me dizer? Se não for, não me diz, me deixa fazer o que estou fazendo!”, ou “Você não faz nada direito!”, e por aí vai…), aos poucos ele para de falar.

Quando ele não se sente valorizado, ele deixa de mostrar o que tem feito. Quando não perguntamos como foi o dia na escola, ou no trabalho, ele entende que não é importante. E quando ele se cala, e quando os pais acham que é melhor assim, quando não damos a oportunidade de ele participar e ser valorizado em um grupo, o perigo está muito perto.

Ele pode acabar encontrando quem o valorize fora de casa, ou pode se sentir totalmente desvalorizado, se isto for muito forte e a depressão estiver se instalando, a ideia de suicídio pode ganhar força. Lá no quarto, sem ninguém em casa interessado nele, do seu smartphone (ou TV) acessa ao Netflix e vê a série “13 Reasons Why”, que descreve o suicídio da jovem Hannah, de 17 anos, como uma opção para resolver os problemas da vida que ela encontra no colégio. E, se alguém perguntar, diz que está vendo um seriado na TV…

Perguntar é se importar. É cuidar. É amar. Não é cobrar. É conversar, e ouvir sem preconceitos. Para uma criança pequena, determinamos as condutas, e para o adolescente, negociamos (e negociar é estabelecer um meio termo entre o meu e o seu, meio a meio, na medida do possível). Isso gasta tempo. E a escolha de como gerenciar o nosso tempo é nossa.

Para prevenir este grande problema, não há um caminho único. Mas há uma formula simples para, ao menos, detectarmos precocemente que há algo errado acontecendo. Essa fórmula consiste em passar mais tempo com os nossos filhos.

Usar o tempo conversando, perguntando, levando em festas, buscando, conhecendo os seus amigos (chamar os amigos em casa para comer ainda funciona!), cuidando, mostrando que ele é importante e perceber sinais de alerta… E, se encontrarmos, não ter medo de tocar em assuntos difíceis, pois o silêncio não ajuda muito nestes casos.

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Este artigo não pretende esgotar o tema. Mas fica o alerta: é importante compreender que um jovem com depressão é um sinal de que a família precisa de ajuda.

Todos sofrem, ou foram vítimas de alguma dor. Não tenha medo ou preconceito. Mostre que você se importa, se preciso, buscando ajuda especializada, mas principalmente estando ao seu lado.

Sobre o autor

Physis Saude Integral com Paulo Daruiche e Tania Baptista

Paulo Daruiche - É Médico Homeopata, Mestre em Ciências pela Unifesp e Psicanalista. É praticante e estudioso do Yoga e da Meditação. Iniciado na Tradição Tântrica Nath, tem experiência em mantras e vivências tântricas. Faz atendimentos clínicos individuais.

Tânia Baptista - É Psicanalista, Mestre em Distúrbios da Comunicação pela PUC-SP. Atualmente desenvolvendo-se nos estudos Junguianos e da Comunicação Não Violenta. Faz atendimentos clínicos individuais e de casais.

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