Convivendo Educação

Multiversidade: por mais autenticidade na educação

Escrito por Eu Sem Fronteiras

Multiversidade: um espaço para superar modelos tradicionais de universidade

Quantas vezes você viu suas ideias sendo barradas em sala de aula? Ou, ainda, não serem de acordo com os padrões do local? E se houvesse um espaço que discutisse diversas formas de aprender e dialogar?

Estamos falando da Multiversidade, um espaço para superar os modelos tradicionais de universidade. Se você se interessou pelo assunto, leia a entrevista que fizemos com o Alex Breta, um dos fundadores da Multiversidade. Ele nos conta um pouco mais sobre este trabalho. Acompanhe a entrevista.

Eu sem Fronteiras: Você poderia me falar um pouco de você. Onde mora e o que faz?

Multiversidade: Moro em São Paulo desde 2013, mas sou mineiro de coração. Morei lá desde que nasci. Atualmente, tenho me dedicado à criação da Multiversidade como projeto principal, mas também trabalho com facilitação de processos (consultoria) em organizações e faço formações abertas sobre esse tema junto à Kailo (uma empresa da qual sou associado).

Também estou como um dos curadores de educação do Festival Path, um festival de inovação e criatividade que acontece todo ano aqui em São Paulo, e mantenho minhas investigações “solo” no terreno da aprendizagem autodirigida/educação alternativa no meu blog.

A fim de sustentar esse último trabalho, criei uma campanha de financiamento coletivo recorrente no APOIA.se, de modo que, quem quiser, pode me apoiar financeiramente a partir de 3 reais por mês. Escrevi alguns livros sobre educação, mantenho a página Educação Fora da Caixa no Facebook e também faço palestras e workshops relacionados ao tema.

Alex Breta

Eu sem Fronteiras: Ouvi falar recentemente da Multiversidade. É interessante o tema e o fato de existir uma universidade livre e democrática. Como foi pensada essa questão e quem está por trás dela?

Multiversidade: A Multiversidade está sendo imaginada como uma comunidade de aprendizes autônomos, isto é, um conjunto de pessoas reunidas com o propósito de aprender em liberdade. A ideia de uma universidade livre/democrática não é nova: nossas duas principais inspirações são a Universidade Shure, no Japão, e a Universidade Alternativa, na Romênia.

Hoje, temos uma equipe de cinco pessoas trabalhando no projeto.

Equipe

Eu sem Fronteiras: Poderia falar um pouco sobre o que propõe a Multiversidade?

Multiversidade: Propomos que cada pessoa crie sua própria aprendizagem com o apoio dos outros aprendizes e da nossa equipe de facilitadores e mentores. A partir do dia 9 de março, abriremos inscrições para a primeira turma da Multiversidade. A autonomia é peça-chave, o que significa que a pessoa é soberana nas decisões relativas ao seu aprendizado (não há imposições de qualquer ordem).

No entanto, como aprender de maneira autodirigida nem sempre é fácil, criamos alguns mecanismos e estruturas para apoiar os aprendizes nesse processo. Você encontra uma lista desses mecanismos aqui. Basicamente, o percurso que propomos é guiado por encontros presenciais a cada 15 dias aos sábados e “pulsos” de dois meses cada.

A premissa é que esse ritmo comum vai ajudar as pessoas a se responsabilizar pelo seu aprendizado e manter sua motivação em alta. Além disso, estimularemos os aprendizes a criar comunidades de prática (algo parecido com grupos de estudo), temáticas ou de projeto, inclusive abarcando pessoas de fora da Multiversidade.

Eu sem Fronteiras: Vocês sugerem uma “universidade onde as vozes de todos possam ser escutadas”. Poderia falar um pouco mais a respeito?

Multiversidade: Quando eu estava na faculdade, tive problemas em ser escutado e levado a sério. Tentei propor mudanças no estilo de aula e na grade curricular, mas não houve muito espaço para que uma transformação ocorresse de fato.

Na Multiversidade, o fato de querermos que as vozes de todos sejam escutadas significa duas coisas: primeiro, que reconhecemos e valorizamos a autonomia de cada um, além de entendermos que, somente a partir da motivação intrínseca, a aprendizagem de alguém atinge o ápice; segundo, que a gestão será feita de forma democrática e, para isso, teremos assembleias periódicas para nos escutarmos e decidirmos juntos os rumos da Multiversidade.

Eu sem Fronteiras: Porque vocês acham tão importante a questão da gestão coletiva nas universidades?

Multiversidade: Prefiro utilizar o termo “gestão democrática” já que ele se insere mais facilmente no movimento da educação democrática, uma de nossas principais bases teóricas. É importante porque, como seres humanos, queremos ser ouvidos e influir nos espaços e iniciativas das quais fazemos parte. É um desejo natural da nossa espécie se sentir pertencida a uma comunidade com propósito relevante.

As universidades, tradicionalmente falando, têm se configurado de maneira muito hierárquica, o que implode as possibilidades de liberdade e construção coletiva dos grupos que sobrevivem nesses lugares.

A ciência dogmática e o poder hierarquizante afastam a diversidade dos modos de vida. Na Multiversidade, queremos abrir espaço para essa diversidade e, para tanto, precisamos cultivar a autonomia e a gestão democrática.

Eu sem Fronteiras: De que forma vocês pensam e propõem autoeducação?

Multiversidade: A aprendizagem autodirigida, para nós, é a trajetória autônoma que uma pessoa constrói rumo ao que ela quer descobrir, fazer ou ser. A curiosidade é do humano, todos nós a temos.

Foi graças à curiosidade que elaboramos a linguagem, dominamos o fogo e conquistamos toda sorte de conhecimentos que dispomos hoje. Essas descobertas cruciais da humanidade, no entanto, raramente foram feitas em escolas ou cursos: elas encontram solo fértil para germinar em ambientes propícios à imaginação, à interação e à experimentação.

A autoeducação é uma forma de dar asas às nossas curiosidades de maneira intencional e sistemática, com flexibilidade e consistência. No entanto, muita gente acredita que aprender dessa forma é difícil, pois exige altíssimas doses de automotivação e disciplina, além de ser um caminho solitário e ainda não reconhecido pelas instituições.

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A Multiversidade é um espaço que ajuda as pessoas a superar esses medos, e fazemos isso porque acreditamos que a recompensa no final das contas vale a pena. Ao aprendermos a partir de nossas curiosidades, nos tornamos pessoas mais plenas e felizes e, de quebra, ampliamos nossa chance de contribuir positivamente para o mundo com nossas descobertas.

Entrevista concedida a Angélica Weise da Equipe Eu Sem Fronteiras.

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