Convivendo

Olhar o dia, ouvir o dia, sentir o dia

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Escrito por Daniella de Paula

De manhã, o relógio toca às 6h. Nos vestimos, calçamos o tênis, escovamos os dentes e começamos nossa caminhada matinal. Podemos fazer isso de modo automático, sair com pressa, com a mente no trabalho e andar pelos mesmos lugares como se eles fossem os mesmos lugares. Podemos encontrar as mesmas pessoas no meio do caminho como se elas fossem as mesmas pessoas. Podemos também continuar com o passo apressado como se nós fôssemos os mesmos. Ou podemos parar e olhar. Parar e olhar o dia, porque ele não é o mesmo.

Caminhamos pela avenida, parque ou rua com um novo olhar. O dia pode estar mais úmido, se olharmos de novo. Talvez algum orvalho no portão ao lado nos lembre disto: o dia é diferente. O orvalho não estava lá ontem pela manhã.

O senhor que também caminha no mesmo horário diz “bom dia” de uma maneira um pouco entristecida. Ele diz “bom dia” todos os dias, mas todos os dias é diferente. Às vezes, está bem, às vezes, não está. Acontece que se nós não mudarmos também o ouvir, parece que ele sempre está dizendo o mesmo bom dia. Perceber uma pequena alteração na voz nos aproxima. Isso porque seja de qual for o lugar de onde ele fala, nós, provavelmente, já estivemos por lá também.

No caminho, se estamos apressados, o vento que bate no rosto também se apressa e perdemos o toque que há nesse encontro. Se estamos caminhando sem companhia, o vento pode nos acompanhar. Basta fazer o convite.

Dentro das casas dos vizinhos, os jardins gritam de alegria se choveu na noite anterior ou se entristecem se estamos em período de seca. Quando apressados, nem mesmo percebemos as quatro estações entremeadas uma na outra.

Perto da padaria, o cheiro de pão ainda permanece no ar. Podemos escolher esse aroma como o perfume dessa manhã, desse dia. Só dessa manhã. Só desse dia. A manhã com cheirinho de pão e tudo que esse aroma pode nos proporcionar: saudade, acolhimento, encontro.

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Em outras manhãs, podemos ter outros perfumes: manjericão do quintal, gotinha de chuva no chão, sabonete da pia, gentileza de alguém que encontramos pelo caminho. Imagina a manhã com cheirinho de gentileza. Qual o aroma teria a gentileza? Hortelã ou alecrim? A manhã está livre para o perfume que dermos a ela.

Basta olhar, ouvir e sentir o dia.

Sobre o autor

Daniella de Paula

Daniella de Paula formada em comunicação e filosofia. Propõe breves reflexões sobre a vida cotidiana.

Email: danidepaulla@gmail.com
Twitter: @acolunista