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O grito da Terra: memória, resistência e cura

Os punhos de cinco pessoas negras estão levantados no ar. No fundo, há o céu azul.
Pocstock / Canva
Escrito por Bruna Mac The Wall

O que a memória dos corpos pode nos ensinar sobre resistência, cura e justiça? Por que o grito da Terra ecoa em tantas línguas e territórios? Mergulhe nessa reflexão profunda e urgente sobre história, identidade e transformação. Continue a leitura!

“Nas ruas de São Paulo, todo 1º de maio, uma manifestação única reúne corpos, vozes e memórias que se recusam ao esquecimento. O Cordão da Mentira, mais que um ato político, é um ritual de memória viva, onde cada passo ecoa histórias de resistência, cada voz carrega o peso de verdades silenciadas, e cada corpo presente honra aqueles que foram forçadamente desaparecidos. Em 2024, este manifesto transcende suas origens locais para dialogar com movimentos globais de reconhecimento histórico e cura coletiva.”

I. O corpo que lembra

A colonialidade nos atingiu em cheio. Nos atingiu no corpo e na alma. Nos atingiu no tempo e no espaço. A colonialidade arrancou nossos filhos, nossas línguas, nossas memórias. A colonialidade nos arrancou da terra e da história. Nos arrancou da nossa cultura originária, da nossa matriz epistemológica, do nosso direito de existência plena.

Mas resistimos. E é dessa resistência que falamos.

A resistência que brota do território corpo-mulher.

Corpos racializados, indígenas, pretos, periféricos, territórios invadidos, cercados, explorados, mas não vencidos. Corpos que lembram, corpos que guardam.

Porque nossos corpos guardam histórias que não foram contadas, mas que foram vividas. Nossos corpos carregam a memória da dor, do estupro, da tortura. Mas também carregam a memória da luta, do levante, da sabedoria ancestral.

Os corpos das mães que perderam seus filhos para o braço armado do Estado. Os corpos das mulheres que lutaram contra a ditadura e foram violentadas. Os corpos das indígenas estupradas nas aldeias invadidas. Os corpos das negras sequestradas nas senzalas modernas.

São esses corpos que resistem. Que se levantam em marcha, em reza, em dança, em canto. Em grito.

O Cordão da Mentira nasce dessa memória viva e pulsante. Memória encarnada nos corpos que não se curvam. Nos corpos que andam, que performam a justiça, que denunciam o esquecimento imposto. Que recusam a história única contada pelos vencedores.

No Cordão da Mentira, marchamos com nossas mortas e nossos mortos. Marchamos com nossas avós, com nossas mães, com nossas filhas. Marchamos com nossos ancestrais.

Porque nossos passos vêm de longe.

Uma mulher mais madura está protestando em uma rua com um cartaz na mão.
Corinna Kern / Getty Images / Canva

English version:

Coloniality hit us hard.
It struck our bodies and our souls.
It struck our time and our space.
Coloniality took our children, our languages, our memories.
It tore us from the land and from history.
It uprooted us from our original cultures, our epistemic foundations, our right to full existence.

But we resisted. And it is from this resistance that we speak.

Resistance that rises from the territory of the woman-body.

Racialized bodies, Indigenous, Black, peripheral—invaded, fenced, exploited territories, but never conquered.
Bodies that remember, bodies that carry memory.

Because our bodies hold stories that were never told, but were lived.
Our bodies carry the memory of pain, of rape, of torture.
But they also carry the memory of struggle, of uprising, of ancestral wisdom.

The bodies of mothers who lost their children to the armed hand of the State.
The bodies of women who fought the dictatorship and were violated.
The bodies of Indigenous women raped in invaded villages.
The bodies of Black women enslaved in modern-day senzalas.

These are the bodies that resist.
That rise in marches, in prayers, in dances, in songs. In screams.

The Cordão da Mentira is born from this living, pulsing memory.
Memory embodied in bodies that do not bow.
Bodies that walk, that perform justice, that expose the imposed forgetting.
That refuse the single story told by the victors.

In the Cordão da Mentira, we march with our dead.
We march with our grandmothers, our mothers, our daughters.
We march with our ancestors.

Because our steps come from far.

As silhuetas de um grupo de pessoas no chão de uma rua estão no foco da imagem.
U.Ozel.Images / Getty Images Signature / Canva

Die Kolonialität hat uns hart getroffen.
Sie traf unseren Körper und unsere Seele.
Sie traf unsere Zeit und unseren Raum.
Die Kolonialität nahm uns unsere Kinder, unsere Sprachen, unsere Erinnerungen.
Sie riss uns von der Erde und aus der Geschichte.
Sie entriss uns unseren Ursprungskulturen, unserer Wissensmatrix, unserem Recht auf ein erfülltes Dasein.

Doch wir haben Widerstand geleistet. Und davon sprechen wir.

Ein Widerstand, der aus dem Territorium des Frauenkörpers erwächst.

Rassifizierte Körper, indigene, Schwarze, marginalisierte Körper – überfallen, eingezäunt, ausgebeutet, aber nicht besiegt.
Körper, die sich erinnern, Körper, die bewahren.

Denn unsere Körper tragen Geschichten in sich, die nie erzählt, aber gelebt wurden.
Unsere Körper tragen das Gedächtnis des Schmerzes, der Vergewaltigung, der Folter.
Aber sie tragen auch das Gedächtnis des Widerstands, des Aufbegehrens, der Ahnenweisheit.

Die Körper der Mütter, die ihre Kinder an die bewaffnete Hand des Staates verloren.
Die Körper der Frauen, die gegen die Diktatur kämpften und verletzt wurden.
Die Körper indigener Frauen, vergewaltigt in überfallenen Dörfern.
Die Körper Schwarzer Frauen, versklavt in modernen Sklavenhäusern.

Diese Körper leisten Widerstand.
Sie erheben sich im Marsch, im Gebet, im Tanz, im Gesang. Im Schrei.

Der Cordão da Mentira entsteht aus diesem lebendigen, pulsierenden Gedächtnis.
Ein Gedächtnis, das in Körpern verkörpert ist, die sich nicht beugen.
Körper, die gehen, die Gerechtigkeit verkörpern, die das aufgezwungene Vergessen anklagen.
Die sich weigern, die Geschichte der Sieger als einzige anzuerkennen.

Im Cordão da Mentira marschieren wir mit unseren Toten.
Wir marschieren mit unseren Großmüttern, unseren Müttern, unseren Töchtern.
Wir marschieren mit unseren Ahnen.

Denn unsere Schritte kommen von weit her.

II. Cordão da Mentira: um manifesto pela memória

“O Cordão da Mentira nasce da necessidade visceral de confrontar as mentiras oficiais sobre a ditadura militar brasileira (1964-1985). Seu nome carrega uma ironia dolorosa: forma um cordão humano que expõe as mentiras do Estado, desenha no chão os corpos dos desaparecidos, nomeia os mortos que alguns preferem esquecer.

As Mães de Maio são protagonistas desta história. Como seus filhos, arrancados de suas vidas pela violência estatal, elas se recusam a desaparecer. Transformam sua dor em grito, sua ausência em presença política. São guardiãs da memória em um país que insiste em esquecer.

Um grupo grande de pessoas está se manifestando em uma cidade. Há cartazes sendo levantados por elas.
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Na mesma data, índios e índias refletem sobre uma ditadura mais antiga e igualmente perversa: a ditadura cultural que insiste em datar o Brasil a partir de 1500, negando a existência milenar dos povos originários. Abya Yala, nome ancestral deste continente, ressurge como lembrança de um tempo em que as fronteiras não dividiam povos e a terra não era propriedade.

O território que hoje chamamos América Latina – termo que carrega em si as marcas do colonialismo – era um continente integrado, onde diferentes povos se reconheciam como parte de um todo maior. A imposição do termo ‘Latino Americano’ não é apenas uma questão semântica, mas um projeto de poder que continua operando através da linguagem.”

No dia 1 de maio, participei do Cordão da Mentira, um evento que me fez refletir sobre a história e a luta das mulheres, indígenas e negros no Brasil. A observação da resistência existencial de pessoas que acreditam em sua real história e lutam pelo sangue que foi derramado em eventos como a ditadura no Brasil me fez questionar como podemos ressarcir a culpa coletiva nacional pelas nossas atrocidades históricas.

A conexão com a Aliança Karib e as mulheres indígenas me fez entender a importância da ancestralidade e da resistência. A história do continente americano é marcada pela colonização e pela imposição de culturas, o que resultou na perda de identidade e na opressão de povos ancestrais.

O grito das Mães de Maio no Cordão da Mentira é um chamado à reflexão sobre a nossa história e a nossa responsabilidade em criar um futuro mais justo. A livre informação e comunicação do mundo nos remete a essa reflexão coletiva, para enfim prestar contas do nosso redemoinho histórico.

III. De Abya Yala ao mundo

“A resistência que nasce no Brasil encontra eco em movimentos globais. Na Alemanha, observa-se um movimento cultural de reconhecimento histórico que não busca apenas expiar culpas, mas construir pontes de compreensão mútua. Este diálogo emerge não como uma tentativa de redenção unilateral, mas como parte de um processo coletivo de amadurecimento da consciência histórica.

A capoeira, arte-luta nascida da resistência afro-brasileira, hoje se torna uma linguagem universal de libertação. Seus movimentos carregam histórias de opressão e liberdade, seus cantos falam de dor e esperança em uma língua que todos os corpos podem entender.

Um homem está fazendo capoeira na frente do seu grupo ou comunidade.
Shamanneri neri / Pexels / Canva

O testemunho de uma mulher indígena, compartilhado durante um encontro da Aliança Karib em 2024, ilustra como o passado colonial segue vivo no presente: ‘Ainda hoje, quando ando na cidade, sinto no corpo o medo ancestral das mulheres de minha aldeia. É um medo que atravessa gerações, que está inscrito em nossa memória celular.’ Seu relato nos lembra que a descolonização não é um evento do passado, mas um processo contínuo e necessário.”

Com a crítica à narrativa colonial (“descobrimento”, Abya Yala vs. Américas), a imposição cultural e até mesmo a linguagem que perpetua essas estruturas de poder (“Latino Americano”, “currículo”). A metáfora da evolução da humanidade (infância para adolescência/maturidade) serve como um fio condutor para chamar a uma transformação urgente.

A homenagem é as mulheres, mas o cordão da mentira se expande muito mais entre a mentira da “descoberta” versus a realidade de Abya Yala e a existência pré-colonial, a mentira de uma identidade imposta (“Latino Americano”) versus a diversidade real, a mentira de um progresso linear que ignora a violência e a exploração (ditadura cultural, exploração econômica).
“Latino”? Não. Somos a Terra que Grita, uma reflexão brasileira sobre identidade e poder.

A Europa começou um processo de “ressarcimento” cultural, oferecendo benefícios a nós como perdão histórico. Enquanto isso, o Brasil e seus atuais governantes clamam por Anistia Cultural. Mas como podemos de fato ressarcir a culpa coletiva nacional pelas nossas atrocidades históricas?

A crise ambiental, as matas, a história perdida e ferida que existe em todos nós, a cura do mundo vem da mulher… É hora de fortalecer o amadurecimento coletivo espiritual e criar alternativas justas e sólidas para a comunidade de mulheres no mundo.

Abya Yala resiste, descolonizando a memória a partir do Brasil, a maturidade urgente, como lições ancestrais, práticas, consciência indígena para curar a nós mesmos e ao Planeta Terra, reconhecidas e exaltadas como seres evoluídos, por exemplo, transmutando conotações negativas do passado. O feminino que cura o mundo, da dor “brasileira” à esperança coletiva, quando éramos uma Terra, e ou somos uma espécie.

Diversas cestas feitas à mão por indígenas do Brasil estão no foco da imagem.
Filipefrazao / Getty Images Signature / Canva

A reflexão sobre a história e a luta das mulheres, indígenas e negros no Brasil não é apenas uma questão nacional, mas também internacional. Recentemente, observei um movimento alemão de cunho cultural que se mostra sentido pela história do Brasil, e isso me fez questionar como as questões culturais e históricas podem transcender fronteiras. Para além da Anistia, o grito ancestral Ecoando Pelo Mundo.

A capoeira, uma expressão cultural brasileira que tem raízes africanas e indígenas, é um exemplo de como a cultura pode ser usada para promover a reflexão e a compreensão sobre a história e a cultura brasileira. Além disso, a capoeira pode ser uma ponte cultural entre o Brasil e outros países, incluindo a Alemanha.

A história de uma índia que conheci, que ainda se sente afetada pelas atitudes de homens e pela memória do passado, é um exemplo poderoso da forma como o passado pode continuar a afetar as pessoas hoje em dia. Essa história me fez refletir sobre a importância de reconhecer e respeitar a memória e a experiência das comunidades indígenas e negras no Brasil.

É hora de fortalecer o amadurecimento coletivo espiritual e criar alternativas justas e sólidas para a comunidade de mulheres no mundo. Isso inclui reconhecer e respeitar a memória e a experiência das comunidades indígenas e negras, e promover a reflexão e a compreensão sobre a história e a cultura brasileira.

Não há futuro sem memória, um manifesto brasileiro pela Evolução Humana, onde a história sangra, em meados da adolescência coletiva da sociedade, a consciência e informação envergonham e põem em ação quem tem uma plena digestão dos fatos, a fim de mobilizar a própria espécie.

Duas irmãs indígenas estão no foco da imagem. A irmã mais velha segura a irmã criança no colo, a qual sorri.
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O que há com essa Terra, o “Coração do Mundo Pátria do Evangelho” segundo Chico Xavier, cita em seu livro: “os portugueses influentes consideram o perigo da independência brasileira. A mais preciosa gema que se engastara à coroa da Casa de Bragança estava prestes a desprender-se para sempre. Todas as providências contrárias à pretensão dos brasileiros são adotadas imediatamente. Um período agitado surge na política da época, entre os polos antagônicos do absolutismo e da democracia. (No limiar da independência)”. “Todo o Rio de Janeiro se enche de esperança e de alegria. Mas, as tropas fiéis a Lisboa resolvem normalizar a situação, ameaçando abrir luta com os brasileiros, a fim de se fazer cumprir as ordens da Coroa. Jorge de Avilez, comandante da divisão, faz constar, imediatamente, os seus propósitos e, a 11 de janeiro, as tropas portuguesas ocupam o Morro do Castelo, que ficava a cavaleiro da cidade. Ameaçado de bombardeio, o povo carioca reúne as multidões de milicianos, incorpora-os às tropas brasileiras e se posta contra o inimigo no Campo de Santana. O perigo iminente faz tremer o coração fraterno da cidade. Não fosse o auxílio do Alto, todos os propósitos de paz se teriam malogrado numa pavorosa maré de ruína e de sangue. Ismael acode ao apelo das mães desveladas e sofredoras e, com o seu coração angélico e santificado, penetra as fortificações de Avilez e lhe faz sentir o caráter odioso das suas ameaças à população. A verdade é que, sem um tiro, o chefe português obedeceu, com humildade, à intimação do Príncipe D. Pedro, capitulando a 13 de janeiro e retirando-se com suas tropas para outra margem da Guanabara, até que pudesse regressar com elas para Lisboa. Os patriotas, daí por diante, já não pensam noutra coisa que não seja a organização política do Brasil.(Independência)”.

Constelações da dor, sementes da cura, uma jornada brasileira sem fronteiras, terra de miscigenação, onde somos fadados a nos reconhecer como um, misturas de raças, políticas, religiões, culturas, costumes, terra e história que se digere em si, e em consciência se retorna ao eixo, em uma só, a busca pelo ouro, pela terra boa, pelo Brasil, pela mulher brasileira, pela sabedoria, pela cura, pelo retorno que vem dela, mulher. A sabedoria ancestral dos povos originários, como os de Abya Yala, oferece perspectivas cruciais sobre a integração com a natureza, uma sabedoria da qual toda a humanidade necessita urgentemente.

Nessa busca por uma maturidade coletiva, observamos diferentes movimentos ao redor do globo. Há, por exemplo, um crescente interesse em partes da Europa, como na Alemanha, por um diálogo cultural mais profundo com histórias como a do Brasil, talvez um reflexo da própria jornada dessas nações com suas memórias e um anseio por conexões mais autênticas. Isso contrasta com a necessidade, que se impõe a todos, mas talvez de forma mais evidente a culturas de grande influência global como a norte-americana, de reavaliar criticamente termos e práticas herdadas (‘Latino Americano’, modelos econômicos extrativistas) que ainda ecoam lógicas de dominação passadas. Não se trata de apontar dedos, mas de reconhecer que a transição para uma consciência planetária mais madura exige essa autoanálise de todos. E é aqui que a sabedoria ancestral dos povos originários de Abya Yala se revela não como um relicário do passado, mas como um farol essencial. Sua compreensão da interconexão com a Terra e seus modelos de comunidade oferecem caminhos para além das divisões políticas ou religiosas, unindo-nos no desafio comum da sustentabilidade e no reconhecimento de nossa humanidade compartilhada.

IV. O feminino como cura

Duas mulheres indígenas estão no foco da imagem. Elas andam dentro da floresta e olham para cima.
Bill Salazar / Pexels / Canva

Um presente ao mundo:
ela — mulher,
ela — história,
ela — origem.

Nas curvas da Terra, o ventre da criação.
Na raiz da árvore, a sabedoria ancestral.
Na corrente do rio, a memória que escapa,
mas não se perde.

Gaia respira.
Mãe do tempo, mãe do ciclo.
De Maio, de sempre, de todas.
Que chora florestas arrancadas,
como filhos levados sem volta.
Que guarda sementes em silêncio,
esperando a hora certa de florir.

Não há quem a vença.
Não há trono acima do seu.
Ela é soberania e pulsação.
É a mulher que resiste
ao aço, ao fogo, ao esquecimento.
Que sangra com a Terra,
mas também dança com o Sol.

Se unimos nossas vozes,
é por ela.
Se caminhamos juntos,
é por ela.
Mulher-Natureza,
essência do retorno,
eco do futuro.

Que ela seja exaltada.
Que ela seja lembrada.
Acima de tudo.
Acima de todos.
Mãe. Mulher. Terra.

Um grupo com três mulheres negras e jovens estão no foco da imagem. Elas olham entre si e posam para a foto.
Irandelson Salgueiro / The Irandelson Salgueiro Collection / Canva

Mother of All (English version)
A gift to the world:
she — woman,
she — history,
she — origin.

In the curves of the Earth, the womb of creation.
In the roots of trees, ancestral wisdom.
In the river’s flow, memories that slip away,
but are never lost.

Gaia breathes.
Mother of time, mother of the cycle.
Of May, of always, of all.
She weeps for forests torn away,
like children taken with no return.
She keeps seeds in silence,
waiting for the right time to bloom.

No one defeats her.
No throne stands above hers.
She is sovereignty and pulse.
She is the woman who resists
steel, fire, and forgetting.
She bleeds with the Earth,
but also dances with the Sun.

If we raise our voices,
it is for her.
If we walk together,
it is for her.
Woman-Nature,
essence of return,
echo of the future.

May she be exalted.
May she be remembered.
Above all.
Above everyone.
Mother. Woman. Earth.

Um grupo de mulheres jovens e adolescentes marcha em uma manifestação pelas mulheres.
Sangiao photography / Canva

Mutter von allem (Deutsche Version)
Ein Geschenk an die Welt:
sie — Frau,
sie — Geschichte,
sie — Ursprung.

In den Kurven der Erde, der Schoß der Schöpfung.
In den Wurzeln der Bäume, die Weisheit der Ahnen.
Im Fluss des Wassers, Erinnerungen, die entgleiten,
doch nie verloren sind.

Gaia atmet.
Mutter der Zeit, Mutter des Kreises.
Des Mai, für immer, für alle.
Sie weint um geraubte Wälder,
wie Kinder ohne Wiederkehr.
Sie bewahrt Samen im Schweigen,
wartet auf die Stunde des Blühens.

Niemand besiegt sie.
Kein Thron steht über ihrem.
Sie ist Souveränität und Puls.
Sie ist die Frau, die widersteht
dem Stahl, dem Feuer, dem Vergessen.
Sie blutet mit der Erde,
doch sie tanzt auch mit der Sonne.

Wenn wir unsere Stimmen erheben,
dann für sie.
Wenn wir gemeinsam gehen,
dann für sie.
Frau-Natur,
Wesen der Rückkehr,
Echo der Zukunft.

Möge sie erhoben werden.
Möge sie erinnert werden.
Über allem.
Über allen.
Mutter. Frau. Erde.

História:

  • Cordão da Mentira:
    “O Cordão da Mentira, manifestação que ocorre anualmente em São Paulo no dia 1º de maio, nasceu como um ato de resistência e memória. Seu nome faz referência às mentiras oficiais sobre a ditadura militar brasileira (1964-1985), período em que milhares de pessoas foram torturadas, mortas ou desaparecidas pelo Estado.”
  • Sobre as Mães de Maio:
    “As Mães de Maio são mulheres que perderam seus filhos para a violência do Estado. Como as Madres de Plaza de Mayo na Argentina, elas transformaram sua dor em luta, mantendo viva a memória de seus mortos e exigindo justiça.”
  • Transição para o internacional:
    “A resistência que nasce no Brasil ecoa globalmente. Na Alemanha, observa-se um movimento de reconhecimento e diálogo com essa história, não como uma tentativa de redenção, mas como parte de um processo coletivo de amadurecimento da consciência histórica.”
  • Aliança Karib:
    Articulação de povos indígenas que busca fortalecer a memória e resistência ancestral.
  • Abya Yala:
    Nome dado ao continente americano pelos povos Kuna, significando “Terra madura” ou “Terra viva”.

Notas de tradução:

Cordão da Mentira → Chain of Lies / Kette der Lügen
Mães de Maio → Mothers of May / Mütter des Mai
Abya Yala → manter original nas três versões

Este texto nasce de uma vivência no Cordão da Mentira de 2024, entrelaçada com reflexões do encontro da Aliança Karib e diálogos com movimentos internacionais de reconhecimento histórico. É um convite à reflexão sobre como a memória, especialmente aquela guardada nos corpos femininos e territórios ancestrais, pode ser caminho para uma cura coletiva que transcende fronteiras nacionais e temporais.

Em um momento em que a humanidade se encontra entre a adolescência e a maturidade de sua consciência coletiva, as vozes das Mães de Maio, das mulheres indígenas, das guardiãs da memória, apontam caminhos para um futuro onde a verdade não precise ser defendida por cordões humanos, onde a vida seja mais forte que qualquer mentira.

Sobre o autor

Bruna Mac The Wall

Graduada em Hotelaria e Turismo pela Anhembi Morumbi, especializada em Lazer e Bem- Estar, Pós Graduada em Naturopatia pela Humaniversidade, com cursos de extensão em Terapias Vibracionais Bioenergéticas EMF e Sound Healing.

O autoconhecimento pela troca de energia no trabalho com outro ser humano, de fato faz nossa sabedoria expandir, a medida que nos colocamos como observadores quânticos onde a resposta para tudo está em todas as coisas ao nosso redor.

A proposta de escrever e expandir é uma forma de tornar aspirações e experiências disponíveis a outros seres humanos que estão dispostos a compartilhar também a medida que estão abertos a novos insights e conhecimento, possibilitando essa troca.

Atuo com atendimentos individuais com massoterapia ( Shiatsu, Thai Massagem , Ayurvedica, Thiyur, Detox ) , acupuntura ( com e sem agulhas) , consultas Florais e Fitoterápicas, sessões individuais e coletivas de Sound Healing, Bioenergética, Yoga, Meditação, eventos de Bem - Estar em espaços e empresas, Retiros Detox Zen.

Atuo também com consultoria de Spas e Resorts , Social Mídia, Foto/ Vídeo/ DJ.

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