Empoderamento Feminino

A importância do feminismo negro

Mulher negra protestando com mega fone
Drazen Zigic / Shutterstock
Escrito por Eu Sem Fronteiras

O feminismo negro é um movimento que tem como objetivo lutar pelos direitos das mulheres negras, considerando o fato de que elas sofrem mais de um tipo de discriminação ao mesmo tempo. Além disso, ele é uma alternativa ao feminismo hegemônico.

Ao estudar a história do feminismo, é possível perceber que as mulheres negras sempre tiveram uma realidade diferente das mulheres brancas. Um exemplo disso foram os movimentos sufragistas, ocorridos no final do século XIX e no século XX.

Enquanto as mulheres brancas realizavam esses movimentos, que visavam alcançar a participação das mulheres na política por meio do direito de votarem e de serem votadas, a escravidão ainda era uma realidade para as mulheres negras.

De acordo com a filósofa estadunidense Angela Davis, nesse período, as mulheres negras eram exploradas e tinham uma realidade muito parecida com as dos homens negros por conta da escravidão.

Além disso, ainda segundo Angela Davis, o movimento foi pensado por mulheres brancas que eram ricas. Logo, as mulheres brancas que eram pobres também eram excluídas.

Nesse contexto, o feminismo negro começa a ter uma ascensão a partir da década de 1970 nos Estados Unidos, por conta da produção intelectual realizada sobre o tema. Já no Brasil, ele surge na década de 1980.

Qual a razão do nome feminismo negro?

Como dito anteriormente, as mulheres negras sempre tiveram uma realidade diferente e, por isso, causas diferentes.

Em 1851, a abolicionista e a ativista dos direitos das mulheres afro-americana, Sojourner Truth, realizou o discurso “E eu não sou uma mulher?”, no qual abordou a maneira na qual, por ser uma mulher negra, não era vista como uma mulher.

Em sua fala, ela chegou a exemplificar que um homem fala sobre ser cavalheiro e ajudar as mulheres a subirem em uma carruagem, mas que ninguém faz isso com ela.

Mais tarde, em 1989, a professora e pesquisadora Kimberlé Crenshaw criou o termo “interseccionalidade”, que tem como base a ideia de que as pessoas que fazem parte de um grupo de minoria podem sofrer mais de um tipo de preconceito ao mesmo tempo.

Portanto, uma mulher branca pode sofrer misoginia; uma mulher branca lésbica sofre, ao mesmo tempo, a misoginia e a homofobia. Enquanto isso, uma mulher negra sofre com a misoginia e o racismo.

Mulher negra de braços cruzados e com feição séria no meio de protestos políticos na rua
Jacob Lund / Shutterstock

O conceito desenvolvido por Kimberlé tem como objetivo demonstrar como as mulheres negras são duplamente discriminadas.

Tanto a ideia de Soujouner como a de Kimberlé demonstram como as mulheres negras ainda são vistas e discriminadas nos dias atuais, pois, por diversas vezes, são consideradas pessoas fortes demais. Além disso, elas sofrem preconceitos tão velados que o racismo e o machismo acabam se misturando.

Dessa forma, as mulheres negras passam por situações muito difíceis e peculiares. Elas recebem menos pelo próprio trabalho, têm uma tendência maior a enfrentarem péssimas condições enquanto exercem suas funções, sofrem com a sexualização de seus corpos, com a violência policial e, até mesmo, com a violência médica.

Portanto, o feminismo negro visa combater, ao mesmo tempo, a discriminação de gênero e de raça.

Como posso me aliar ao feminismo negro?

O feminismo negro continua em ascensão e tem sido um assunto bastante falado por várias mulheres negras que são influentes no Brasil e no mundo. Entretanto, ele também tem sido abordado por mulheres comuns, que fazem parte do nosso cotidiano, como amigas, familiares e conhecidas.

Por isso existem diversas formas de apoiar e ser aliado do feminismo negro. São elas:

• Compreendendo a relevância do movimento;

• Estudando o feminismo negro e buscando sempre aprender mais sobre o tema;

• Entendendo que existem estereótipos sobre as mulheres negras que foram construídos ao longo do tempo e que é preciso superá-los;

• Não permitindo que esses estereótipos continuem sendo alimentados, ou seja, impondo-se contra comentários misóginos e racistas, mesmo que sejam de amigos ou de familiares;

• Dialogando com mulheres negras e ouvindo suas experiências;

• Consumindo conteúdo produzido por mulheres negras.

A partir de livros, artigos, músicas, filmes, podcasts e até mesmo posts em redes sociais produzidos por essas mulheres, é possível conhecer os pontos de vista e as experiências delas. Além disso, compartilhar esse conteúdo é uma forma de apoiar os trabalhos dessas mulheres e, ao mesmo tempo, conscientizar outras pessoas sobre o tema.

“Quem tem medo do feminismo negro?”

Um livro escrito por uma autora negra e que aborda o tema é “Quem tem medo do feminismo negro?”, da filósofa brasileira Djamila Ribeiro, lançado pela Companhia das Letras em 2018.

A obra é composta por um texto autobiográfico da autora, que conta suas experiências pessoais de infância e adolescência enquanto também fala sobre o silenciamento e a discriminação.

Além disso, o livro também traz textos escritos por Djamila, que foram publicados entre os anos de 2014 e 2017, no blog da revista CartaCapital e que abordam o racismo.

“Quem tem medo do feminismo negro?” é perfeito para estudar o tema, já que, além de ser fácil de ler, tendo apenas 120 páginas, fala sobre casos de discriminação racial e de gênero bem conhecidos, como o da jornalista Maju Coutinho.

Cinco mulheres negras com cartazes com frases feministas protestando na rua
Sunshine Seeds / Shutterstock

Feministas negras

Além de Djamila Ribeiro, outras mulheres negras e brasileiras têm se empenhado em propagar o motivo da relevância do movimento. Existem feministas negras em diversas áreas, como na academia, na política, na música e na televisão. São elas:

Sueli Carneiro

Na academia, a filósofa, escritora e ativista Sueli Carneiro tem pesquisado e publicado diversos trabalhos importantes para o feminismo negro. Ela também é doutora em Educação e diretora do Geledés – Instituto da Mulher Negra e pesquisa sobre o racismo e a violência de gênero.

Erica Malunguinho

Já na política, a deputada estadual eleita em 2018, Erica Malunguinho, tem se destacado. Ela também é educadora e artista plástica e foi a primeira mulher trans eleita em São Paulo. Além disso, Erica também é ativista do movimento negro e trans.

Ludmilla

No mundo da música, a cantora e compositora Ludmilla é uma das personalidades que representam o feminismo negro, além de ser bissexual. Ela começou a fazer sucesso em 2012, a partir de uma música lançada no YouTube.

Mesmo após ter uma carreira bem-sucedida, Ludmilla foi discriminada por ser negra. No entanto foi a primeira cantora negra a receber o troféu de “Melhor Cantora” do Prêmio Multishow.

Taís Araújo

Outra personalidade muito famosa e que, mesmo com uma carreira de sucesso, já foi vítima de comentários racistas é a atriz Taís Araújo. Ela já falou em diversas entrevistas sobre os casos de racismo que sofreu, inclusive ao lado do marido, Lázaro Ramos. Taís estreou na TV em 1995 e já fez vários papéis de destaque nas telenovelas da Rede Globo.

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Além disso, em 2021, ela foi considerada uma das 100 Pessoas Mais Influentes de Descendência Africana, em uma premiação promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Portanto, agora você já sabe o que significa o feminismo negro, como ele surgiu, porque existe e qual é a relevância desse movimento. A partir desse momento, é preciso compartilhar o que você aprendeu sobre o tema para que outras pessoas compreendam que o feminismo negro é essencial para desconstruir estereótipos e ideias preconceituosas e entendam que o machismo e o racismo precisam ser combatidos.

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