Autoconhecimento

O sumário de uma vida

Livros aberto, com suas páginas sendo foleadas.
Escrito por Luis Lemos
Todo livro possui sumário. O sumário faz parte da estrutura básica de um livro. É uma espécie de esquema que traz os capítulos e as seções, com seus títulos e numeração de páginas. Com ele, é possível encontrar partes da obra quase diretamente, sem ter de folhear de forma aleatória. Desse modo, o sumário torna muito mais simples a busca dos leitores sobre seus temas de preferência. Você já imaginou se a vida humana também tivesse um sumário? Como seria? Tornaria a nossa vida mais simples? Imagine alguém que está passando por um problema muito sério na vida, como, por exemplo, a perda de um parente, da pessoa amada, de um amigo. Não seria interessante ter esse recurso para pular de página? Se me fosse dada a chance de escrever o sumário de uma vida, ele seria assim: 

CAPÍTULO 1: A EXISTÊNCIA
Silhueta de homem em pé em pedras, na frente do mar, observando o pôr do sol.
Em primeiro lugar, este capítulo iria da página 1 à página 90, idade que considero ideal para morrer, se estiver com saúde, claro! Se estiver doente, com esclerose, com alzheimer, ou outra doença degenerativa, poderia morrer antes dos 90 anos, sem problemas! Em segundo lugar, como compreendemos o tempo de forma linear e não cíclico, devo esclarecer ao leitor menos desavisado na arte do filosofar que existe uma brutal diferença entre existir e viver. Uma breve conferida no Aurélio e encontra-se isto: “ter existência real, durar, permanecer”; “ter vida, estar com vida”. Estas definições esclarecem que existir é o mesmo que passar pela vida sem vivê-la de forma correta e intensa, e que viver significa realizar-se plenamente, sempre desenvolvendo ações que engrandecem o ser humano. Dessa forma, tem razão o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679) quando defende que: “Primeiro viver, depois filosofar”. Assim como o filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980): “A existência precede a essência”. Ou ainda, o filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976): “O homem é um ente que, entendendo-se em seu ser, comporta-se em relação a esse ser”. Também o filósofo francês René Descartes (1559-1650): “Penso, logo existo”. Por fim, todos estes pensadores corroboram com a ideia do arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer (1907-2012), que diz: “É preciso estar vivo para dizer que a vida não presta”. 

CAPÍTULO 2: AMAR E SER AMADO 

Em primeiro lugar, devo dizer que este capítulo iria da página 18 à página 60, o tempo que eu considero ideal para amar.
Antes dos 18 tudo é paixão, e depois dos 60 tudo é saudade! Em segundo lugar, começo falando de luta para em seguida falar de amor, pois amor e luta são quase que sinônimos nessa relação. Ou seja, o impulso natural de todo ser vivo é sobreviver. Uma pedra existe, mas ela não luta para viver, pois é um ser inanimado. Ela simplesmente está aí, o homem não. A existência, como ficou claro no capitulo 1, só ela não lhe basta. O homem quer ir além, e vai além. Ele transcende o puro ato de existir. O amor na vida humana funciona dessa mesma maneira. É preciso dedicação, esforço, vontade, renúncia. Nesse sentido, o amor é insaciável. Tem vida própria. Enquanto hospedeiro do amor, o ser humano precisa superar sua condição de existente. Ou seja, só o amor não lhe basta. Ele quer a pessoa amada. Dessa forma, o ser humano procura dar sentido e significado para todas as coisas, especialmente para a sua própria vida, coisa que os outros animais não o fazem. Dessa forma, o ser humano é o único ser cujo modo de vida abrange a possibilidade de amar, isto porque está em seu horizonte a condição própria de sociabilidade. Nessa perspectiva, o amor torna o ser humano capaz de compreender as próprias atitudes, sejam elas boas ou más, lidando com o sentido das vivências presentes em seu contexto existencial. Por isso, o ser humano ama e é amado. Enfim, o amor é a categoria (filosófica) que melhor define o ser humano. Eu sou amor. Eu sou aquilo que amo. “Deus é amor” (João 4:8)

CAPÍTULO 3: SER FELIZ 
Este capítulo vai até a página atual, ou seja, ele ainda está sendo escrito… No entanto, uma das definições mais interessantes de felicidade para mim é a do filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C), quando diz que: “Felicidade é a ação do espírito que manifesta a virtude”. Portanto, felicidade não é um ponto de chagada, uma conquista…, felicidade é poder pular a página do sumário da vida. E quem pode? 


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Sobre o autor

Luis Lemos

Luís Lemos é filósofo, professor, autor, entre outras obras, de “Jesus e Ajuricaba na Terra das Amazonas – Histórias do Universo Amazônico” e “Filhos da Quarentena – A esperança de viver novamente”.

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