Antigamente, era de se lamentar o fato do brasileiro não gostar de política. Um velho ditado popular dizia que existem três coisas que não se discute: futebol, religião e política. Pelo menos na questão do futebol, as discussões sempre dominaram, principalmente guiadas pelas brincadeiras clubísticas. Já na política, o brasileiro nunca foi muito chegado, mas isso tem mudado de uns tempos para cá. O que deveria ser bom, em tese, na verdade tem uma outra face bastante preocupante.
É ótimo as pessoas mostrarem interesse na política ao defenderem pontos de vista, indicando o que é melhor ou pior para o país. O que preocupa em meio a esses debates é que as opiniões estão sendo confundidas com discursos de ódio. “Eu gosto do Palmeiras porque é o meu time, portanto eu odeio o Corinthians e tudo o que o meu time fizer será melhor indiscutivelmente”. A essência desse tipo de pensamento é do torcedor, pois é movida pela paixão. Na política, esse tipo de discurso vinculado a um candidato ou determinado partido está ficando cada vez mais comum, muito provavelmente graças a internet.
Como disse o historiador Leandro Karnal, são invejáveis aqueles que conseguem vincular todo o mal e a corrupção para um único determinado partido político. Afinal, tirando-o do poder, todos os problemas estarão resolvidos. Baseados nessa ilusão, os discursos de ódio são bradados por todos os cantos, tanto por aqueles que se julgam de direita ou da esquerda ideológica. A autocrítica não existe mais. Busca-se defender com um milhão de argumentos o partido para o qual essas pessoas torcem, ignorando as denúncias de corrupção apontadas pelo próximo e contra-atacando o partido rival com outras irregularidades cometidas. O debate deixa de ser um campo para trocar-se ideias, mas sim para disputa de quem argumenta melhor. Vale mentir, só não vale perder. Concordar com o argumento do outro é como aceitar uma derrota, e isso jamais pode acontecer. Falar de política está cada vez mais igual a falar de futebol, até mesmo nos podres que permeia ambos os campos de interesse.
Engana-se quem pensa que isso está só na política. No trânsito, na escola, em casa, no trabalho e em todos os lugares. As pessoas se odeiam e fazem cada vez menos esforço em tolerar aquilo do outro que as incomoda. Muitas verdades são ditas em formas de brincadeira, como menciona o filósofo Mário Sérgio Cortella em uma de suas palestras: quando uma pessoa diz o que faria se ganhasse na loteria, ela afirma que iria “sumir”. O desejo do sumir, de não ter que lidar com outras pessoas é cada vez mais comum.
As relações humanas estão sendo cada vez mais pautadas por outro dito popular: “olho por olho, dente por dente”. E, para terminar, utilizando mais um grande pensador, Mahatma Gandhi: “olho por olho e dente por dente, assim o mundo terminará cego e careca”.
- Texto escrito por Diego Rennan da Equipe Eu Sem Fronteiras