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Quem cuida também precisa se cuidar!

Escrito por Giselli Duarte

No silêncio de quem cuida, muitas vezes habita o esquecimento de si. Entre escutas e presenças, apaga-se aos poucos o próprio pavio. O cuidado que sustenta não nasce do excesso, mas da verdade íntima. Existir, antes de servir, é também cuidar de si — com pausa, com alma, com honestidade.

Existe algo curioso, quase silencioso, no ofício de quem escolhe trabalhar com cuidado, acolhimento e transformação. De quem decide ouvir o outro, sustentar espaços, orientar caminhos e acolher dores.

É um paradoxo sutil, mas absolutamente real: esquecer-se de si exatamente no momento em que se dedica ao outro.

A rotina de quem atua no desenvolvimento humano é muitas vezes uma contradição em movimento. No discurso estão presentes palavras que sustentam a vida: autocuidado, presença, escuta, pausa, equilíbrio. Mas, no cotidiano, a prática nem sempre acompanha aquilo que a boca pronuncia e que o coração reconhece como verdade.

Não acontece por negligência ou por desatenção, mas porque é muito fácil deslizar para um lugar onde a própria escuta desaparece. E talvez o mais importante seja perceber que esse movimento não ocorre abruptamente. Ele não chega batendo à porta nem invade a casa de repente. Ele se infiltra pelas frestas, pelos pequenos esquecimentos, pelos sutis “hoje não dá”. Pela falsa ideia de que é só mais uma semana intensa, mais um ciclo exigente, e depois “eu volto para mim”.

Mas o retorno não chega. Ou chega tarde demais, ou chega quebrado.

É como se, aos poucos, a prática de escuta fosse direcionada exclusivamente ao outro, enquanto o espaço interno do terapeuta se reduz silenciosamente. Isso não acontece por falta de técnica, de formação ou de consciência. Acontece justamente por ser o ponto cego do próprio ofício.

Ninguém acende uma vela sem consumir algo de si nesse processo. A diferença é que algumas pessoas percebem quando o pavio está curto, enquanto outras seguem queimando até não restar nada.

Há ainda um detalhe importante que não pode ser ignorado: o campo percebe, o cliente sente. Pode não nomear, pode não compreender exatamente, mas sente. Porque presença não pode ser improvisada.

Imagem de duas mulheres conversando em uma sessão de terapia, sendo uma a paciente e a outra a terapeuta que está fazendo anotações em seu caderno.
SHVETS production / Pexels / Canva

Existe uma sustentação invisível no trabalho terapêutico que não vem de currículo, de especialização ou de horas contabilizadas de atendimento. Vem do que você faz por você mesmo, nos momentos em que ninguém está olhando.

O terapeuta que não se cuida, não se escuta, não se observa, passa a operar, sem perceber, em um campo onde há mais discurso que verdade. E não há intervenção técnica capaz de sustentar essa condição por muito tempo.

Isso não envolve desempenho ou performance espiritualizada, mas honestidade. É lembrar que, antes de ser quem cuida, você é alguém que sente, que também adoece, se confunde, precisa parar, olhar para dentro e se sustentar.

Não há trabalho que perdure ou missão que se mantenha se quem os realiza não encontra formas saudáveis de receber o mesmo cuidado que oferece.

Cuidar de si não é recompensa por um bom trabalho, é parte essencial dele. Quem esquece disso, cedo ou tarde, paga uma conta cara.

Quem cuida também precisa, acima de tudo, lembrar-se de que existe. Existir não é só atender ao outro. É incluir a si no cuidado que se oferece ao mundo.

Sobre o autor

Giselli Duarte

Nunca fui alguém que se contenta em observar a vida passar. A inquietação sempre pulsou em mim, guiando-me a atravessar caminhos diversos, por vezes improváveis, mas sempre significativos. Não se tratava de buscar respostas rápidas, mas de me deixar ser moldada pelas perguntas.

Meu primeiro contato com o trabalho foi aos 14 anos. Não era apenas sobre ganhar meu próprio dinheiro, mas sobre entender como o mundo se movia, como as relações de troca iam além de cifras. Com o tempo, percebi que meu lugar não seria apenas cumprir horários, mas criar algo próprio. Assim, aos 21, nasceu meu primeiro negócio, registrado formalmente. Desde então, empreender tornou-se tanto profissão quanto paixão.

Mas, por trás dessa trajetória profissional, sempre existiu uma busca interior que muitas vezes precisei calar para priorizar o mundo exterior. Foi somente quando o cansaço me alcançou na forma de burnout que entendi que não podia mais ignorar a necessidade de olhar para dentro. Yoga e meditação não foram apenas escapes, mas verdadeiras reconexões com uma parte de mim que havia sido negligenciada.

Foi nesse espaço de silêncio que descobri o quanto a curiosidade que sempre me guiou podia ser dirigida também para dentro. Formei-me em Hatha Yoga, dentre outras terapias integrativas, e comecei a dividir o que aprendi com outras pessoas, conduzindo práticas e compartilhando reflexões em plataformas como Insight Timer e Aura Health. Ensinar, percebi, é uma das formas mais puras de aprender.

A escrita foi um desdobramento natural desse processo. Sempre acreditei que as palavras possuem a capacidade de transformar não só quem as lê, mas também quem as escreve. Meus livros, No Caminho do Autoconhecimento e Lado B, são registros de uma caminhada que não se encerra, mas que encontra sentido na partilha. Participar de antologias poéticas também me mostrou a força do coletivo, de somar vozes em algo maior.

Cada curso que fiz, cada desafio que enfrentei, trouxe peças para um mosaico em constante formação. Marketing, design, gestão estratégica – cada aprendizado me preparou para algo que, na época, eu ainda não conseguia nomear. Hoje, entendo que tudo se conecta.

Minha missão não é ensinar verdades absolutas, mas oferecer ferramentas para que cada pessoa possa encontrar suas próprias respostas. Seja através da meditação, da escrita ou de uma simples conversa, acredito que o autoconhecimento é um processo contínuo, sem fim, mas cheio de significado.

E você, o que tem feito para ouvir as perguntas que habitam em você? Talvez nelas esteja o próximo passo para um novo horizonte.

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Meditação para quem não sabe meditar

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