Setembro Amarelo

Setembro amarelo: Quebre o preconceito contra o suicídio

Fita amarela enrolada.
irinaqiwi / 123rf
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Não é uma tentativa de chamar atenção. Não é sinônimo de fraqueza. Não é resultado da falta de Deus. Falar sobre suicídio é um verdadeiro tabu na nossa sociedade, ainda mais quando nos deparamos com afirmações como essas que acabamos de colocar aqui. E pasme: não são poucas as pessoas que diminuem a importância de se falar sobre as emoções, não. Há muito mais dedos em riste do que braços estendidos.

Quanto menos falamos sobre o suicídio, mais abrimos espaço para estigmas e preconceitos, mais aumentamos o tamanho do abismo em que se encontram as pessoas que sofrem de patologias mentais. Não ajudamos… pelo contrário, só pioramos a situação delas.

Um avanço silencioso

O suicídio mata mais do que HIV, malária ou câncer de mama. Mata mais do que guerras. É uma das principais causas de morte no planeta e isso é chancelado por um levantamento feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em junho de 2021. De acordo com essas estimativas, só em 2019 mais de 700 mil pessoas deram fim à própria vida. Entre jovens de 15 a 29 anos, o suicídio só ficou atrás das mortes em relação aos acidentes de trânsito, de tuberculose e de violência interpessoal.

Não devemos ignorar o suicídio, precisamos falar abertamente, trazer mais atenção para esse ato, que é considerado uma pandemia. A cada 40 segundos, uma pessoa se mata no mundo. E muito, mas muito mais pessoas tentam se matar. Como a tentativa é um fator de risco, essas pessoas uma hora acabam entrando para a pior das estatísticas.

O mito de que não se deve falar sobre o suicídio acaba por fomentar seu avanço silencioso. Ao contrário do que muitos pensam, conversar sobre o assunto ajuda a aliviar a angústia e a tensão. Muitas vezes, só nos apegamos aos sinais e isso acontece quando as ideias suicidas estão perto de se concretizarem, uma vez que o pensamento quase sempre vem de um histórico de distúrbios mentais, entre eles a depressão, problema para o qual não damos a devida atenção. Dessa forma, tudo vira uma ‘bola de neve’.

A importância do Setembro Amarelo

É por todos esses dados sobre saúde mental e suicídio no país, além da necessidade de se falar, sim, sobre um tema considerado tabu praticamente no mundo inteiro, que existem inciativas que visam às soluções para uma saúde emocional mais preservada.

Entre essas iniciativas, está o Setembro Amarelo, campanha instituída pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina, que versa sobre transtornos mentais, como a depressão e ansiedade, e tem foco nos fatores de risco e na prevenção do suicídio.

Um dos objetivos da campanha é desmistificar a depressão, na tentativa de acabar com os estigmas e preconceitos acerca das doenças mentais, trazendo um olhar mais empático e compreensivo para quem já sofre tanto com os efeitos desses distúrbios.

Homem branco sentado com as mãos no rosto.
Francisco Gonzalez / Unsplash

10 de setembro é oficialmente o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas o Setembro Amarelo não se restringe a um único mês – as ações são tomadas durante todo o ano.

Ouvir e praticar a empatia

Não é fácil para nós, que não somos psiquiatras ou psicólogos, entender ou identificar um comportamento depressivo ou uma intenção suicida – muito embora os sinais possam ser agravados por manifestações verbais ou problemas de conduta poucas semanas antes do ato em si.

É principalmente por não sermos especialistas, entretanto, que devemos estar sempre de ouvidos e braços abertos, praticando a empatia em qualquer situação – desde uma aparente tristeza temporária até sentimentos mais profundos e doloridos. Precisamos nos colocar no lugar do outro e ter a sensibilidade de escutá-lo e acolhê-lo e também incentivá-lo a buscar ajuda profissional.

É por isso que é tão importante que saibamos o que não dizer a uma pessoa que está passando por problemas emocionais e tem pensamentos suicidas. Minimizar a dor do outro é a pior crueldade que podemos praticar. Por mais que muitos de nós não entendamos o porquê de alguém desejar algo como tirar a própria vida, é preciso que sejamos empáticos e evitemos cometer – voluntariamente ou não – atos preconceituosos, que só prejudicam o combate e a prevenção ao suicídio.

Pense: essa pessoa já tem problemas demais, gravíssimos, atormentando a saúde emocional dela, não sejamos mais um elo nessa corrente que a aprisiona e a distancia de uma luz no fim do túnel. Sendo assim, saiba o que você não deve falar para essa pessoa e experimente alternativas que a ajudem a sair desse abismo.

Fique atento aos sinais

Antes de saber como lidar com uma pessoa que tem tendências suicidas, porém, é preciso aprender a reconhecer os sinais de que ela está idealizando esse ato. Não existe uma fórmula ou um “manual” sobre como funciona a mente de alguém que está pensando em tirar a própria vida. Aliás, não existe “manual” para nenhuma pessoa em qualquer que seja o seu estado emocional. Vale a pena, portanto, dar atenção a estes possíveis sinais:

— Ela fala muito sobre a própria morte, demonstrando pessimismo, apatia e falta de esperança no futuro.

— Começa a repetir expressões que indiquem uma vontade de deixar de viver, como “vocês vão ficar melhor sem mim”, “eu queria poder desaparecer para sempre”, “não quero mais viver”, “não acho mais graça em estar viva”, “só queria dormir e nunca mais acordar”, “vou deixar todo mundo em paz, não se preocupem”, entre outras.

— Ela passa a adotar posturas que colocam sua vida em risco.

— Fala com todos em tom de despedida, como se não fosse mais vê-los. Junto a isso, pode fazer coisas como encerrar conta bancária, elaborar testamento, organizar as coisas, pedir a alguém que tome conta de seus filhos (caso os tenha).

— Passa a se isolar, não interagindo, não respondendo às mensagens ou atendendo às ligações.

— Ela começa a apresentar mudanças bruscas de comportamento ou humor.

— E se, somado a isso, ela já tentou suicídio alguma vez.

Por essa razão, é essencial não deixar chegar a esse ponto. Olhe para as pessoas com mais compaixão, entenda que todos passam por muitas dores e que alguns simplesmente não conseguem superar sozinhos. Não procure culpá-las e, acima de tudo, evite frases como as que separamos aqui. E junto a elas mostramos opções de como você pode abordar a pessoa, apenas tendo a sensibilidade de mudar o teor e o tom de voz. Seja a mão estendida, jamais o dedo apontado.

Mãos brancas femininas segurando flor amarela.
Lina Trochez / Unsplash

“Pense positivo.”

A vida da pessoa está de ponta-cabeça. Ela não tem condições de puxar de dentro de si aquela positividade (muitas vezes tóxica) que tanto nos cobramos. Em vez disso, proponha pensar junto com ela sobre uma solução para aquele momento. Esteja lá por ela e com ela.

“Você quer chamar atenção. Se quisesse morrer, já tinha morrido.”

Essa vale para as pessoas que tentaram tirar sua própria vida, mas o ato não se concretizou por alguma razão. Vale reiterar aqui que quem tenta uma vez pode tentar outras, até conseguir. E uma coisa importante: nem sempre a pessoa quer, de fato, morrer, deixar de existir. É que a angústia é tão grande, tão avassaladora, que essa pessoa não vê alternativa para acabar com a dor. Nesse caso, promova uma escuta ativa, sincera e interessada. Além disso, tente incentivá-la a procurar ajuda profissional. Esteja ao lado dela também quando ela for se consultar. Assim, você mostra que realmente se importa e que leva a sério o problema que ela tem.

“Tem gente pior que você e que nunca pensou em se matar.”

Cada um tem seu grau de sensibilidade diante de um problema. Alguns são mais suscetíveis, tendendo a sofrer muito mais e por muito mais tempo do que outros. Não minimize a dor do outro só porque existem dores que VOCÊ julga maiores. Lembre-se de que a dor que dói em nós, só nós sentimos. Em vez de mostrar quem está pior, procure mostrar o que ela pode ver de bom na vida, mas, por favor, sem positividade tóxica. Mostre a ela que a vida dela importa, que ela é uma pessoa querida e que ela faz a diferença na vida dos outros.

“Não fique assim. Daqui a pouco passa.”

O tempo é um verdadeiro inimigo para quem sente angústia. Podemos sentir que uma aflição é interminável, dependendo do nosso estado emocional. Cinco minutos podem parecer horas. E “daqui a pouco” não é um tempo exato, o que pode causar ainda mais martírio a quem sofre. E outra coisa: a pessoa não está assim porque quer, então não tem como pedirmos a ela que “não fique de tal modo”. Experimente dizer a ela: “O que você está sentindo? Consegue me descrever? Vamos conversar e trazer para fora tudo o que angustia você. Eu quero estar aqui do seu lado pelo tempo que for, até que você se sinta melhor ou consiga aliviar essa aflição”.

“Quem tem problemas de verdade, não tem tempo para essas frescuras.”

Mais uma vez, as nossas dores são experiências subjetivas. Então o que para mim é um problemão, para você pode ser apenas um mero empecilho, e vice-versa. O exercício de empatia não é só se colocar no lugar do outro, porque essa premissa nos leva a pensar que só conseguimos entender o outro se pudermos passar pelo que ele passa e como ele passa. Na verdade, ser empático é muito mais que isso. É saber que cada pessoa tem sua impressão sobre a dor, que pode ser diversa da nossa e devemos respeitar a dor dela, mesmo não sabendo como e o quanto dói.

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Tente perguntar a ela como ela enxerga tal problema e ofereça a sua perspectiva, não para julgar o problema ou a relevância dela, mas para encontrar uma solução para resolvê-lo. E esteja ao lado dela, mostrando que você é parte dessa solução porque essa pessoa importa para você, e demonstre a ela que a ver melhor é só o que você deseja.

Existem essas e muitas outras frases que só ajudam a aumentar a estigmatização do suicídio, reduzindo a imagem do suicida (ou daquele que tenta, seja por depressão, seja por outro motivo) à de uma pessoa fraca, mimada, perdedora… e isso é tudo que NÃO devemos fazer. Devemos enxergar uma pessoa em sofrimento, que está pedindo ajuda de alguma forma. Não temos o direito de julgar. Temos o dever de acolher, ajudar e incentivar a busca pela ajuda profissional.

Que possamos enxergar as pessoas através das lentes dos nossos corações, com respeito, empatia, interesse verdadeiro e o real desejo de ajudá-las. Nós temos as nossas batalhas, mas lembremo-nos de que nós sobrevivemos porque cuidamos uns dos outros. Nós precisamos uns dos outros!

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