Na verdade, a psicologia traz uma visão diferente, mais próxima da experiência humana e que ajuda a trazer paz e liberdade para quem precisa dissolver uma situação dolorosa em sua vida. O autoconhecimento está na base de qualquer acompanhamento psicológico. Sendo assim, há que se descobrir os motivos que alimentam a mágoa, a história que a pessoa conta para si mesma sobre os fatos, agora interpretados, que provocaram o ressentimento original. Isso feito, coisa que não ocorre instantaneamente, mas demanda de algum tempo de terapia, conforme o caso, a pessoa está pronta para confrontar-se com a verdade. Essa verdade passa pela autoestima e a capacidade de decidir por uma vida melhor e mais saudável.
A partir daí, todo trabalho pessoal que estiver ao alcance do indivíduo deve ser realizado, com amor e firmeza, de modo que a decisão de superar seja lá o que for seja mantida e sustentada. Não importa se trata-se de mágoa por um(a) amigo(a) que deixou de falar conosco sem explicações ou uma inaceitável violência doméstica. É preciso seguir em frente, viver “apesar de”. A sobrevivência emocional é um direito e uma responsabilidade pessoal.
Agora vem a parte difícil… Perdoar tudo isso, mas tudo isso mesmo. Perdoar a situação, as pessoas envolvidas, perdoar a você mesmo. Pois é, ocorre que todo perdão é um autoperdão. Você diante de você mesmo, encarando o fato de ter entrado na situação por conta própria, de ter ignorado os avisos de pessoas queridas, como pai, mãe ou amigos que avisaram sobre a tal pessoa, o tal emprego, a tal atitude que você vinha tomando, os riscos em que estava se colocando. É duro ter que assumir a própria parcela de responsabilidade em algo ruim, mas é o único caminho para uma mudança efetiva.
Um pequeno parêntesis: violência contra crianças, adolescentes e idosos tem que ser repelida por adultos responsáveis e que se importem com eles. Na verdade, isso deveria ser feito por toda a sociedade. Portanto, nesses casos, o perdão apresenta- se como atitude positiva e agregadora para com essas pessoas em estado de vulnerabilidade, sem tratá-las como vítimas, mas, sim, com todo respeito e dignidade para que elas possam superar os fatos dolorosos e seguirem em frente com as suas vidas.
Quanto ao esquecimento da mágoa, diferentemente da religião, para a psicologia, perdoar não significa esquecer. Precisamos lembrar para não cairmos novamente na situação. É necessário elaborar a raiva para que ela não domine a pessoa, deixando-a refém de comportamentos automáticos de conflito e autodestruição. Lembrar para corrigir, não lembrar para remoer. A “remoença” envenena, não permite a escolha por uma atitude saudável. Lembrar corretamente, ou seja, procurando aquilo que pode ser aproveitado como lição de vida, amadurece e fortalece o indivíduo emocionalmente.
Não temos muito controle sobre os fatos da nossa experiência humana, mas temos controle sobre como vamos encará-los e ressignificá-los ao nosso favor. Isso é (sobre)viver.
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