Saúde Integral

Prótese de joelho: Quando realizar a cirurgia?

Escrito por João Hollanda
Eventualmente, recebemos no consultório pacientes desolados após serem informados, em uma consulta médica, que têm uma artrose avançada no quadril ou joelho e que a única solução para resolução do problema é a colocação de uma prótese. Afinal, a prótese é de fato necessária? Existe restrição em função de idade avançada? Existe risco de rejeição? E o mais importante: ela melhorará a minha dor?

As respostas a todas estas questões devem ficar muito claras ao paciente que esteja considerando a colocação da prótese, afinal, a melhor pessoa para determinar se chegou ou não o momento de realizar a cirurgia não é o médico, mas sim o próprio paciente e seus familiares. Vamos analisar aqui como o paciente deve encarar cada uma destas questões.

A prótese é realmente necessária?

A dor no paciente com artrose é bastante variável. Algumas pessoas com desgaste avançado são capazes de manter uma rotina de atividades físicas bastante intensa com razoável conforto, inclusive em atividades de impacto, como a corrida ou o futebol. Já outras com artrose bem mais leve sentem uma dor incapacitante mesmo em atividades domiciliares relativamente leves.

Desta forma, é importante que a pessoa se certifique de que todas as possibilidades de tratamento não cirúrgico tenham se esgotado, mesmo em casos de artrose avançada. Enquanto a dor permita que o paciente mantenha uma rotina de atividades relativamente normal e com razoável conforto na maior parte dos dias, o tratamento não cirúrgico é a melhor opção.

A balança pende mais para o lado da cirurgia no momento em que as atividades profissionais, domésticas ou recreativas são comprometidas em função da dor no joelho ou quadril, e as outras opções de tratamento já tenham se demonstrado ineficazes, afinal, nada é pior para a saúde geral do paciente do que o sedentarismo.

Qual a preocupação em relação à idade?

A prótese de joelho é uma cirurgia destinada a pessoas idosas, de forma que é mais preocupante fazer a cirurgia em um paciente de 45 anos do que em outro de 80. Isso não significa, porém, que a idade avançada não deva ser considerada ao se pesar o custo-benefício de realizar a cirurgia.

A prótese não deixa de ser uma cirurgia de grande porte, que envolve certos riscos. Mais do que a idade cronológica, é importante que se avalie a saúde geral do paciente e, principalmente, a função cardiovascular. Durante a avaliação pré-operatória, o médico pode recomendar contra a realização da prótese caso se verifique que o risco é demasiadamente elevado.

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Existe risco de rejeição?

O problema principal da prótese não é a rejeição, mas sim a infecção – que pode exigir em alguns casos a retirada da prótese. Esta é de fato a complicação que mais preocupa os cirurgiões.

A infecção acomete entre 1 e 3% dos pacientes que colocam a prótese, e ainda que isso represente a minoria dos pacientes, o risco existe e não é desprezível. A infecção pode exigir um tratamento prolongado inclusive com a necessidade de cirurgias adicionais, por isso o paciente deve estar ciente do risco e preparado para o tratamento.

Qual a expectativa de melhora da dor?

A cirurgia para a colocação de prótese no joelho tem como objetivos principais a melhora da dor, do arco de movimento, da estabilidade e, por fim, da capacidade funcional para participação nas atividades do dia-a-dia, do trabalho e recreativas. 80% dos pacientes notam melhora significativa da dor e entre 80 e 85% deles se dizem satisfeitos com a cirurgia realizada.

Ainda assim, é importante que se entenda que a cirurgia não deixa o joelho normal. De acordo com um estudo realizado com pacientes dois anos após a cirurgia, 85% deles acreditavam que ficariam completamente sem dor, o que ocorreu em apenas 43% dos casos; e 52% pensavam que não haveria limitação funcional para as atividades usuais, enquanto isso se concretizou em apenas 20% dos casos.

Com as informações acima, buscamos oferecer aos pacientes parâmetros que devem ser considerados ao se decidir pela realização ou não da prótese. A decisão, porém, cabe muito mais ao paciente e seus familiares do que ao médico-cirurgião.

A decisão não deve ser precipitada e tomada no desespero de uma crise de dor: a dor da artrose é oscilante, de forma que o comportamento da dor ao longo dos últimos seis meses é mais importante do que a dor no momento da consulta.

O Dr João Hollanda é médico ortopedista especialista em cirurgia do joelho e traumatologia esportiva. Trabalha atualmente como médico da seleção Brasileira de Futebol Feminino. Mais informações em www.ortopedistadojoelho.com.br

Sobre o autor

João Hollanda

Médico ortopedista pela Santa Casa de São Paulo.
Especialista em cirurgia do joelho.
Médico da seleção brasileira de futebol feminino.