Cheguei a uma idade em que olho para trás com mais frequência do que para frente. E descobri que isso não é melancolia, como alguns pensam. É gratidão. É reconhecimento. É entender que cada momento vivido me trouxe até aqui.
Quando minha filha me propôs escrevermos juntas, achei que seria apenas um projeto literário. Mas virou algo muito maior. Virou um encontro entre duas mulheres de gerações diferentes, olhando para as mesmas coisas e vendo mundos distintos. Ela com seus olhos de quem ainda está construindo. Eu, com os meus, de quem já construiu tanto e agora observa.
Escrever sobre memórias me fez perceber o quanto carrego comigo. O quintal da casa da minha infância. O cheiro do café que minha mãe fazia toda manhã. Os gatos que tive ao longo da vida e como cada um me ensinou algo diferente sobre companhia e despedida. As árvores que plantei e vi crescer. As amigas que fiz e que ainda hoje me ligam para conversar sobre tudo e sobre nada.
Percebi também que muitas dessas lembranças estavam guardadas sem que eu desse a devida atenção a elas. Estavam lá, quietas, esperando que eu parasse para olhar. E quando parei, quando sentei para escrever, elas vieram todas de uma vez. Com cores, cheiros e sensações. Com a nitidez de quem acabou de acontecer.
Dividir essas histórias com minha filha foi um presente. Ver como ela também tinha suas memórias, muitas delas entrelaçadas com as minhas, me emocionou. Porque percebi que, sem querer, fui parte da construção dela, assim como ela foi parte da minha. Que os rituais que criei em casa, o café coado, o jardim cuidado, as conversas à mesa, ficaram marcados nela também.
Isso me fez pensar em como somos feitos de camadas. Camadas de experiências, de pessoas que passaram por nós, de lugares que habitamos, de bichos que amamos, de natureza que nos acolheu. E que essas camadas não desaparecem. Elas ficam, formando quem somos.
Hoje sei que envelhecer pode ser leve quando temos memórias bonitas para revisitar. Quando conseguimos transformar o vivido em aprendizado, em gratidão, em história. Quando dividimos essas histórias com quem amamos e percebemos que elas também tocam outras pessoas.
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