Autoconhecimento Convivendo

Como o rio

Escrito por Andrea Ralize

O que eu mais queria era entender o limiar entre mim e mim mesma. Olho para frente e vejo tênue luz que separa os outros de mim. Os sentimentos misturados fazem-me confundir o que é meu e o que é do outro.

Isso me faz questionar: será que algo é especificamente de um só? Será mesmo que temos uma identidade? Ou será que somos parte de um todo que se machuca e se mantém com os machucados alheios? Como se nos alimentássemos da dor do outro e, assim, seguíssemos em frente?

Quando olho no espelho e vejo um par de olhos cansados, não me vejo ali. Mas sou eu.

Quando olho no espelho e vejo velhice se aproximando, sinto que me foi roubada uma vida que nunca tive. Fantasiosa vida essa.

Hoje estou assim: questionando o tudo do nada. Aprendi a sentir mais meu corpo. Para isso, tive que me esforçar para não temer o outro. Neste caso, o outro me ajudou, cuidou de minhas feridas, delicadamente amparou-me nos momentos de dúvida, nojo e insegurança. Mas o que faço por ele?

Além do sentimento de angústia que se instalou em seu íntimo, não sei mais o que fiz. Antes de se envolver com minhas dores, ele se sentia mais feliz. Cheguei e roubei a felicidade que restava, já que era alguém que trazia uma história de dores maiores do que eu possa imaginar ou suportar. Mas mesmo assim, suas dores juntaram-se às minhas e conseguimos curar um pouco do que eu trazia…

rio

Mas o que eu queria mesmo, além de não fazê-lo mais sofrer, era entender até onde eu sou eu e o outro é o outro. Ou ainda: até onde o que o outro é influencia no que eu sou. Faz tempo. Faz tempo suficiente para se ter uma resposta. A música toca atrás de mim. A tela se interpõe à minha frente. E eu? Não me vejo, não me sinto, não me refaço.

O que eu mais queria era entender o limiar entre mim e mim mesma. Olho pra frente e vejo tênue esperança de enxergar a verdade. Fixo o olhar, mas as vistas já são cansadas. Tenho, então, uma vaga ideia da realidade. Conformo-me com ela? Procuro lentes de aumento que me ajudem a observar melhor? Desisto de ver a verdade e tiro os sapatos para molhar meus pés no rio?

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Como o rio… como o rio… como o rio…

Sobre o autor

Andrea Ralize

Escorpiana, professora de filosofia, revisora de textos, mãe de três seres de luz, praticante de yoga, estudante de Vedanta e, nas horas vagas, escritora de fragmentos da vida.

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E-mail: acralize@gmail.com