Educação

A influência do habitat na formação da identidade infantil

Muito se fala que o ser humano é resultado do meio em que vive, mas muito se rebate que não, que cada um nasce com seus valores, e baseado nisso, busquei tecnicamente descobrir o que de fato acontece com nossas crianças.

Este artigo resulta de um trabalho de pós-gradução na área de artes e destina-se a discutir, analisar e refletir sobre os níveis do desenho infantil de acordo com o habitat de cada criança. Para isso foi desenvolvido uma experiência com cerca de 40 alunos, 20 de cada escola, onde cada uma dessas estavam localizadas em locais distantes uma da outra.

Ambas pertencentes à rede municipal de ensino da cidade de São Bernardo do Campo. Experiência essa que se destinará a refletir sobre a influência do meio cultural  no desenho de cada criança.

Atualmente convivemos com as mais variadas ideias sobre ambiente, tendo em vista que os mais diversos veículos de comunicação divulgam suas próprias concepções, muitas vezes afirmando-as como verdades absolutas, pois (…) não existe um consenso sobre meio ambiente na comunidade científica em geral.

Supomos que o mesmo deve ocorrer fora dela. (Reigota: 1995, p.14) Apesar disso, ainda há uma noção quase predominante de ambiente como natureza “pura”, excluindo-se aí o homem como parte integrante do ecossistema (Sauvé, 2003). É importante que se  traga à tona essa discussão como forma de despertar uma análise crítica da realidade ambiental e cultural, pois a mesma é tratada com sensacionalismo pela mídia, que é manipulada pelos grandes meios de comunicação.

Segundo Bamford
(2006), citado por Hernandez (2007, p. 42),
a educação das artes é uma atividade de aprendizagem sustentável e
sistemática centrada nas habilidades, maneiras de pensar e apresentar
cada uma das formas artísticas – dança, artes visuais, música teatro – que
produzem um impacto em termos de melhorar as atitudes em relação à
escola e à aprendizagem, que fomenta a identidade cultural e o sentido de
satisfação pessoal de sentir-se bem. A educação pelas artes utiliza
pedagogias criativas e artísticas para ensinar todo o currículo, fomenta a
melhora acadêmica, reduz o abandono escolar e promove transferência
positiva.

Este texto refere-se à análise da influência do lugar em que moramos na formação da identidade da criança. A ideia dessa experiência surgiu devido à percepção dos desenhos das crianças realizados durante aulas de arte. Após observar o resultado das atividades, vi que o resultado era sempre bem diferente de uma escola para outra. Comecei então a observar um pouco mais a fundo e com mais atenção todas as atividades que solicitava aos educandos.

Essa experiência inicia-se na cidade de São Bernardo do Campo, cidade localizada na região metropolitana de São Paulo e com um milhão de habitantes. Devido a sua grande extensão territorial, mais de 400 km quadrados, temos comunidades de todos os níveis sociais.

Escolhi então duas escolas localizadas em comunidades distantes uma da outra para a minha experiência. A primeira (denominada aqui como escola A) é uma escola com cerca de 700 alunos formada por prédios populares próximos à divisa com a cidade de Diadema, a segunda (denominada aqui como escola B) é uma escola com cerca de 850 alunos, localizada em um bairro central de São Bernardo do Campo longe de comunidade e de periferia.

Objetivos:

A experiência apresenta um objetivo: Identificar a expressão de meio ambiente de duas turmas de alunos de escolas públicas, levando em conta todos os tipos de representação por eles estabelecidos.

Metodologia:

O presente trabalho foi desenvolvido a partir de oficina criativa intitulada: “O lugar que moramos” que objetiva analisar e discutir… ( ) respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os das classes populares, chega a ela (a escola) socialmente construída na prática comunitária (Freire: 1996 p.30).

As turmas com as quais o trabalho foi desenvolvido possuem cerca de 40 crianças com idade entre 07 e 09 anos. Na atividade foi solicitada igualmente nas duas escolas (A e B) a mesma proposta: em uma folha margeada e com legenda atrás vocês deverão fazer o desenho com o título “o lugar que moramos”.

Antes do início da atividade real, foram levantados vários pontos possíveis para a realização desse desenho tais como: sua rua é asfaltada ou de paralelepípedos, existem pontos de ônibus ou de táxi nela, encontramos mercados, sacolões, banca de jornal, faixa de pedestre.

Toda essa construção veio com a participação das crianças nas duas escolas. Surge então o tema violência, segurança e tranquilidade. A maioria das crianças da escola A (comunidade) comentaram sobre sua realidade, entre elas: assalto a familiares, roubo de carros e pessoas fumando na pracinha da rua.

Palavras essas vindas delas mesmas, contando às vezes com grande realidade e rigor os detalhes vividos pela família. As crianças da escola B (central) pouco falam de insegurança e contam sobre as brincadeiras na rua, informam sim de bailes e música alta no clube que há no bairro, porém reclamando apenas do incomodo sonoro. Após todo o levantamento inicia-se a atividade e surgem os desenhos.

Resultado:

As crianças da escola A (comunidade) fizeram seus desenhos relatando a casa, geralmente com uma família muito numerosa ali alocada, sua rua e seus problemas. Na maioria dos desenhos foi notada a falta de cor ou geralmente apenas a cor do grafite, porém nunca com a ausência da casa e de um chão.

Já as crianças da escola B (central) desenharam a casa, o jardim, a rua seus problemas, porém muito menores que o local A e sempre muito colorido. Em todos os desenhos via se a presença de cores, a imagem do sol sorrindo, nuvens e flores na rua. ( ) consciência é sempre consciência de alguma coisa, de um objeto, é intencional (Lyotard, 1954; Hurssel, 1958).

Partindo desse pressuposto vemos que os alunos se apropriam do conceito de meio ambiente de maneiras variadas, levando em conta suas próprias representações sociais. O meio sócio cultural promove influências nos desenhos infantis. A criança relata, descreve, desenha e expressa o que vê e o que vive. Transcrevendo para o papel tudo o que vivencia e assim formando sua identidade.

Todas as informações que as crianças passam para seu desenho ficam intrínsecas no subconsciente ajudando assim na identidade do indivíduo. Caso essas informações não sejam positivas infelizmente teremos pessoas com caráter duvidoso.

Conclui-se que os desenhos feitos pelos alunos tanto da escola A como da escola B representam a concepção de meio ambiente a partir do senso comum deles mesmos, pois… ( ) as representações coletivas se associam a um tipo de conhecimento que, podendo eventualmente possuir um aspecto de cientificidade, se pauta pela compreensão descompromissada do real, situando-o fora de um padrão inflexível de formulação do saber.

(Reigota: 1995, p.67). Podemos perceber que a noção de meio ambiente é muito mais um fator cultural (Branco, 1997), uma representação social do que necessariamente um conceito, uma vez que cada aluno construiu sua visão particular de meio ambiente.

Outro fator que influencia muito para o desenvolvimento e expressão dos educandos é o meio em que vivem, além do meio físico e cultural. Ao possuírem uma família estruturada, a criança cresce e amadurece em seu tempo, sem eliminar, atrasar ou adiantar etapas.

Fator indispensável para que ocorra um resultado positivo em relação aos estudos e comportamento do aluno. Todo educando deve estar saudável físico e mentalmente. Os pais dos alunos que possuem condições financeiras um pouco melhores presenteiam seus filhos com livros e os incentivam a assistir programas educativos e culturais (escola B).

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Os alunos de classe média baixa (escola A), não possuem condições de acesso a materiais com fins pedagógicos, e geralmente, seus pais não se importam muito com esse desenvolvimento, querendo apenas a aprovação no fim do ano letivo.


Bibliographic

  1. Vygotsky, uma perspectiva histórica cultural da educação. Rego, Teresa Cristina Petrópolis RJ. Vozes 2012
  2. PERRENOUD, P. A pedagogia na escola das diferenças: Fragmentos de uma sociologia de fracasso. Porto Alegre: Artmed, 2001. 210 p
  3. Barbosa, Ana Mae, Inquietações e mudanças no ensino da arte- 7 edição – São Paulo: Cortez, 2012.

Citações

  1. SAUVÉ, Lucie. Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável: Uma Análise Complexa.
  2. HURSSEL, Edmund. A Ideia da Fenomenologia. 2ª ed. Edições 70, Ltda. Lisboa; Portugal. 1958.
  3. FERREIRO, E. O ato de ler evolui. Nova Escola, São Paulo, v. 16, n. 143, jun.,/jul. 2001. Fala Mestre. P. 13-15
  4. REIGOTA, Marcos. Meio Ambiente e Representação Social. São Paulo: Cortez, 1995 (questões de nossa época, v. 41).

Referências

  1. ESTUDO COMPARATIVO DE NÍVEIS DE ALFABETIZAÇÃO NO CONTEXTO EDUCACIONAL E SOCIAL Íris Satie Odo de Oliveira¹, Jasmine Nucci da Silva², Lorena Figueira Prudente de Aquino³, Shaiene Alcaires do Nascimento Lima⁴, Profª. Msc. Maria Angélica Gomes Maia (Orientadora) mamaia@univap.br 1-4 Universidade do Vale do Paraíba/FEA, Rua Tertuliano Delphim Jr., 181
  2. CONCEPÇÕES DE AMBIENTE DE ALUNOS DE UMA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL DE BELÉM Alex Tadeu Monteiro Pina; Ana Cristina Rangel da Luz (IC) Milena Ferreira Rego Barros (PG) Priscyla Cristinny Santiago Lucicléia Pereira da Silva (PG) Grupo de Pesquisas e Estudos em Educação Ambiental/GPEEA-NPADC-UFPA.

Imagem crédito: ploosy / Shutterstock.com

Sobre o autor

Lilian Hypolito Monges

Professora formada em Artes Plásticas pela faculdade de Belas Artes de São Paulo, com pós-graduação em Arte Educação e Especialização em Arte Publicitária e Ilustração pela Escola Panamericana de Arte.

Trabalha com crianças, jovens e adolescentes há mais de 20 anos, estimulando a criatividade baseado nas quatro bases da arte: visual, dança, teatro e musica, procurando envolver e desenvolver o potencial de cada aluno, o que propicia um maior envolvimento do aluno com a matéria.

Possui conhecimentos específicos sobre brinquedos lúdicos, arte terapia, artesanatos (em madeira, texturização, customização, decoupage, etc.).

Professora de ensino fundamental II em rede particular

Tutora em Graduação de Artes Visuais

E-mail: lilianhypolitomonges@gmail.com
Celular/Whatsapp: 11 96436-5608