Autoconhecimento

Empatia, uma virtude que todos precisam ter

Escrito por Eclecia Rodrigues

Em certo dia, estava tranquila sentada em um banco na praça do parque central; foi quando avistei um idoso com um jornal indo em direção a um banco onde alguns garotos estavam sentados. Aquele senhor ficou parado perto deles na espera de darem o lugar para ele, mas foi em vão. Achei um absurdo! Chamei aquele senhor para sentar em meu lugar! Por incrível que pareça ele não aceitou e sentou-se na grama ao lado do banco em que os garotos estavam.

Fiquei intrigada com aquilo e quando eu ia falar com eles, os garotos tinham ido embora! Então, o senhor se levantou e sentou-se no banco que queria. Acabei comentando sobre o absurdo que tinha acontecido ali com ele. Ele me disse:

– Eles não sabem o que é ser um velho como eu!

Comentei se ele comparecia sempre ao parque porque estava de chinelos. Ele me respondeu:

– Sim! Eu venho todas as manhãs, mas agora você me dá licença por que tenho algo muito importante a fazer!

– Tudo bem! – Retirei-me.

Logo pensei… ele vai ler o jornal, mas sentei no mesmo banco em que estava e comecei a observá-lo. Ele começou a acenar com as mãos e com um sorriso escaldante na frente de um prédio, mas as árvores impediam que eu avistasse para quem era o aceno. Parecia apaixonado, mandava beijos e fazia coração com as mãos. Fui embora e no outro dia lá estava ele fazendo a mesma coisa e não hesitei; perguntei curiosamente:

– Para quem foram estes acenos?

Ele me respondeu:

– Para uma pessoa muito especial!

Então, propôs contar-me sua história. Casou-se com uma linda mulher que era enfermeira e que o salvou da depressão. Ele aponta o dedo em direção ao prédio e diz:

– Ela trabalha naquele hospital! Eu comecei a namorá-la pelos acenos. Venho aqui sempre!

Achei linda a história, mas depois do terceiro dia não o vi mais. De repente, tive a ideia de saber onde ele morava, mas nem sequer sabia seu nome! Então, fui ao hospital buscar algumas informações sobre ele. Chegando lá, perguntei à recepcionista:

– Com licença! Fiz amizade com um senhor e ele ia à praça todos os dias, mas não compareceu mais lá…

– Ah! O Senhor João!?… Olha, ele faleceu!

– Sério? – Fiquei desfalecida no momento, até que a recepcionista resolve me contar toda a história.

Contou-me que, na verdade, sua esposa tinha falecido anos antes, mas que era uma enfermeira aposentada que trabalhava no mesmo hospital. Ele começou a namorá-la pelos acenos e foi assim que venceu a depressão. Ele tem um vínculo muito forte com o hospital! Depois que sua esposa faleceu, ele se acidentou e sua memória ficou prejudicada, mas às vezes ele confundia a enfermeira achando que era sua esposa durante o tratamento.

No início, a enfermeira o ouvia muito; ele falava da sua esposa e ao longo do tempo a situação dele ficou cada vez pior por conta também da Alzheimer recentemente descoberto, mas sempre ficava entristecido quando melhorava dos sintomas… ficava solitário por causa da ausência de sua esposa na janela. Ele acreditava que ela ainda estava viva, sem contar que os problemas de saúde o impediam de fazer o seu ritual de todas as manhãs. Ele se queixava muito disso. Essa cena não saia da mente dele! O senhor se sentia vivo acenando para ela; era a única coisa que restava para ele. Perguntei:

– Então, por que a enfermeira se passava pela esposa aceitando os acenos na janela?

A recepcionista respondeu:

– Sabe por que, minha jovem? A razão é que a enfermeira teve empatia, se colocou no lugar dele! Por isso, ela fazia questão de comparecer todos os dias na janela. Ela sentia uma enorme gratidão em ver a solidão do João esvaindo através do seu belo sorriso na praça! Mas vou te dizer… Alguns meses antes de sua partida, ele disse algo muito lindo para ela.

– O que ele disse?

– Ele disse: “Mesmo morrendo aos poucos…você não sabe o que é ser velho, mas sabe bem o que é ser grata! Você fez uma ação linda pra mim… você tem o que muitos não têm; você tem o que minha esposa tem… empatia e gratidão! O que me deixa vivo é mais do que seus acenos, é sua enorme bondade e sensibilidade de me fazer estar sempre bem”.

Assim eu pensei… Obtive uma grande lição! Empatia é uma riqueza fenomenal, ela é tão rica que nem todos enxergam ou têm.

Olha o que a empatia faz com a gente!? O que adianta termos de tudo se não temos esse lado bom de ajudar e pensar no outro, de se colocar no lugar do outro. Tive a sorte de perceber o que há de bom em mim… Tive a sorte de perceber que não patino no mundo do egoísmo. Tive a chance de crescer como pessoa começando pela bondade de ajudar alguém. Tive a chance de perceber o que é mais belo e humano em mim, o que antes não percebia, porém, questionava.

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Como é bom ser grato quando aprendemos a compartilhar o amor e receber da mesma forma! Como é bom ser grato quando se importamos com o outro sem julgamentos! Como é bom aprender quando se ouve, e quando é por meio das boas ações, melhor ainda! Empatia é uma virtude pra quem sabe que ser um egoísta é ser um zé ninguém! Empatia é uma virtude para aquele que é jovem e que não sabe o que é ser velho, mas sabe muito bem o bem que está fazendo!

Sobre o autor

Eclecia Rodrigues

Sou psicóloga, poeta e apaixonada pelo Existencialismo.

Sou movida pelos encantos que a vida oferece e além de ter muita fé, a arte e a filosofia sempre me atraem. Formada em psicologia, posso dizer que ela é o marco da minha vida. Através do meu aprendizado e experiências, vou tecendo meu mundo daquilo que eu acredito e no que me faz feliz. Assim, o que eu tenho de melhor é o que eu tenho de oferecer! Oferecer caminhos que proporciona mudanças e renovações para aquele que se permite mudar! Acreditando no possível, no melhor que podemos ser!

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