Autoconhecimento Psicoterapia

Felicidade: Onde vende?

Somos constantemente influenciados por inúmeras demonstrações, sugestões, modelos do que seria a felicidade, do que a traria até você. Temos livros de autoajuda, palestras motivacionais, modelos de pessoas que atingiram o “sucesso”, expostos o tempo todo diante de você, na televisão, nos filmes, na mídia em geral, e até mesmo nas escolas e universidades.

“Faça isso que você terá sucesso, e consequentemente, será feliz”, “olha, esse pode ser você no futuro”, dizem. É como uma fórmula matemática a seguir, e se você conseguir resolver essa equação conseguirá chegar ao mesmo resultado final. O ponto de interrogação que fica, no entanto, é: como podemos ser tão singulares e ao mesmo tempo sermos direcionados a viver vidas tão similares? Que liberdade há nisso? Por que temos então tantas pessoas insatisfeitas?

Será que todos nós almejamos ter essa carreira de sucesso, onde o sucesso constantemente é associado a status, poder e dinheiro? Como ficam aqueles que não se enquadram nessa proposta? Sentem-se frustrados, e muitas vezes, fracassados. E por quê? Será que eles já pararam para refletir se realmente gostariam de ser esse outro que vendido como ideal de sucesso e felicidade? Será que gostariam de pagar o preço? Será que já não estão felizes onde estão, exercendo suas funções, ou será que não gostariam de abandonar essa estrada que levaria a esse lugar cheio de prestígio, para poder exercer outro trabalho, outra função? Será que essa pessoa quer status, poder e tanto dinheiro? Será que outra pessoa, não tem como seu modelo pessoal de sucesso, exercer seu trabalho de maneira ética? Outro não pode ser feliz colaborando com a sociedade, em um trabalho pouco valorizado socialmente? Existe um modelo?

Será que todos desejam casar-se, ter filhos, e constituir família dentro dos padrões comuns? Como fica aquele, ou aquela, que não quis ter um companheiro (a), mas teve em seus irmãos, seus amigos, sua família? Será mesmo que essa pessoa é solitária e infeliz? Será que só existe um único modelo de família a seguir? Como ficam todas as outras famílias? São todas infelizes?

Será que todas as mulheres desejam ter a mesma aparência, o mesmo corpo, como é vendido exaustivamente? Vendem o corpo de modelos como exemplo de saúde. E aquela mulher que se exercita, se alimenta bem, cuida do seu corpo, da sua mente, e não tem esse corpo? Seria ela menos saudável? Será que uma médica, uma engenheira, uma assistente social, uma dona de casa têm mesmo que ter como modelo de felicidade o corpo de uma top model, que tem esse corpo porque justamente trabalha em função dele? Ela fez essa escolha, as outras não, então por que teriam que ser todas iguais?

Será que você precisa ter uma casa grande e bonita, um belo carro, roupas da moda, status no seu trabalho, riqueza, aparelhos celulares de última geração para poder sentar em uma mesa com seus amigos e familiares e se mostrar feliz e satisfeito? Precisa postar todas as suas viagens, presentes, festas nas redes sociais para validar todas as suas experiências? Vive-las já não é o suficiente?

Homem tentando comprar a felicidade
Falara / Shutterstock.com

A felicidade dessa forma parece cada vez mais associada a um objeto de consumo, um produto a ser comprado, um padrão a seguir. É como se as pessoas estivessem cada vez mais pressionadas a cumprir metas de felicidade sem jamais questionar-se o que tem de seu nesses modelos. Como se jamais tivessem tempo de revisitar os seus desejos, suas singularidades. É uma felicidade que escraviza.

Você trocou no seu carro, postou no facebook, depois fez sua viagem internacional, também postou, deu uma grande festa, estava lá no instagram, todos os detalhes, mas você continua sentindo um vazio.

E quem não consegue cumprir todos esses modelos, todas essas metas? Como se sente essa pessoa?

Ela já não sabe mais o seu lugar no mundo, desconhece seus desejos, pois está constantemente pressionada a exercer papeis que lhe são imputados, por isso a sensação de nadar, nadar, e muitas vezes, chegar a lugar nenhum.

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Sobra pouco espaço para cada um ser quem é, para poder se deparar com seu desejo, compreendê-lo e se comprometer verdadeiramente com ele.

É preciso abdicar de muitos desses modelos externos para nos responsabilizarmos com o que é verdadeiramente nosso, e abdicar sempre gera angústia, uma angústia com a qual não queremos nos deparar, e angústia nunca é bem aceita socialmente. Angústia não cai bem a uma pessoa “feliz” certo? Por isso as pessoas sofrem caladas, se mostram felizes no facebook, para os amigos, e se recusam a procurar terapia. Mas permanecer somente cumprindo essas metas sociais e confundindo-as com felicidade é garantia de angústia sem fim.

A felicidade não é um produto para agradar às massas, não adianta tratá-la como tal. A felicidade está mais para um ato de ousadia.

Sobre o autor

Danielle Navas Munoz

Graduada em Psicologia pela Universidade Metodista de São Paulo. Especialista em Psicopedagogia, pela mesma instituição. Especialista em Psicanálise pela Faculdade de Medicina do ABC. Oito anos de experiência em Psicologia Clínica, e seis anos atuando como Psicóloga Educacional.

Consultórios: Rua das Giestas, 1280 – Vila Bela, São Paulo/ Rua Francisco Pugliesi, 162A - Jd. Rizzo, São Paulo
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