Autoconhecimento

Id, ego e superego: as “vozes” dentro de nossas mentes

Mulher se olhando no espelho
Min An / Pexels
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Se você costuma assistir a desenhos animados, já deve ter visto algum episódio em que o personagem precisava tomar uma decisão moral e aí apareceram um anjinho e um diabinho falando ao ouvido dele. O anjinho, sempre ponderado, apontava para a decisão correta. Já o diabinho sempre mandava fazer a escolha errada. E nós nos vemos no lugar do personagem: no meio.

Essas são as representações clássicas de elementos do nosso aparelho psíquico, defendidos pelo pai da psicanálise, Sigmund Freud. Uma delas mostra os nossos impulsos mais primitivos. A segunda é justamente o freio desses impulsos, que estabeleceria as leis morais e regras. E a terceira é aquela parte que fica no meio de tudo, tentando equilibrar os pratos.

A esses elementos, Freud deu os nomes de id, superego e ego, respectivamente. É claro que suas funções, interações e influências vão além dessa analogia com as vozes na nossa cabeça retratadas nos desenhos animados. E nós vamos esclarecer todas essas questões neste artigo. Continue lendo para saber mais!

Quem foi Freud?

Impossível não saber, mesmo que de forma superficial, quem foi Sigmund Freud. Considerado o fundador da psicanálise, Freud foi um neurologista que influenciou consideravelmente a psicologia, inclusive sendo referência para processos realizados até a atualidade.

Graças a ele, ficou popularizado o tratamento psicológico realizado por meio do diálogo entre paciente e médico, a chamada cura pela fala, em que os pacientes eram estimulados a falar sobre traumas enquanto ele fazia as anotações sobre o que ia sendo relatado. A clássica imagem da pessoa deitada no divã e o terapeuta com seu bloco de notas, conhecida até os dias de hoje.

Freud trouxe várias contribuições não só para a psicologia, mas para a ciência, a filosofia, a medicina e, principalmente, para a compreensão do indivíduo. Além da psicanálise e das teorias que abordamos aqui, Freud desenvolveu vários conceitos e várias obras que possibilitaram o avanço da psicologia. Entre seus livros mais difundidos e influentes, estão “A Interpretação dos Sonhos”, “Totem e Tabu”, “Estudos sobre a Histeria” e “Sobre o Narcisismo”.

O que são id, ego e superego?

Freud elaborou um método no qual dividia o aparelho psíquico – ou a psique, que corresponde aos fenômenos que ocorrem em nossa mente – em três elementos, inicialmente denominados inconsciente, pré-consciente e consciente. Mais tarde, ele fez uma revisão sobre esses elementos, desenvolvendo um modelo estrutural, chegando a id, ego e superego.

Homem em meio a folhagem
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Já demos uma pista anteriormente, com o exemplo dos desenhos animados, mas vamos detalhar um pouco mais cada uma dessas estruturas. O id (que significa “isso”, como uma referência àquilo que está em nós, mas ao mesmo tempo não é parte do nosso eu) está relacionado com nossos impulsos orgânicos, nossos desejos inconscientes. É a nossa fonte de prazer, libido. O id é a nossa necessidade de satisfação imediata, não importando as consequências, pois ele é guiado pelo instinto.

O ego se encontra no meio das forças racionais e irracionais, sendo um ponto de equilíbrio entre as outras duas estruturas, permitindo-nos regular ações e reações. Ele age como um mediador para os impulsos do id e para a rigidez do superego. Este último, por sua vez, é o que caracteriza a nossa moralidade, reprimindo os instintos e a irracionalidade. Simplificando: o superego é aquele que bate de frente com o id em todos os aspectos de nossa psique.

Id — isso

Totalmente inconsciente e relacionado aos instintos, impulsos orgânicos e desejos inconscientes, o id representa a busca constante do prazer, pois é a fonte da libido, entendida como a energia psíquica. Desconhece os valores morais e éticos, a lógica e a razão. Tudo é urgente, não espera, não planeja, busca soluções imediatas para situações tensas e estressantes. Não aceita bem frustrações e não se inibe. Não tem contato com a realidade. Impulsivo, cego e antissocial. Não distingue certo e errado, consequências, tempo e espaço. Nele estão também os impulsos sexuais. É aquela voz na nossa cabeça que diz: “Se tem vontade, faça!”.

Assim, o caráter do id é volátil. É por conta dele que, eventualmente, adotamos comportamentos sem razão e descompensados, nos quais nos perdemos. Ele não considera limites, respeito e empatia. Contudo concentra toda a força do indivíduo para que os desejos aconteçam. Porém ele é inconsequente e gera vulnerabilidade, podendo levar a consequências sérias. É nesse ponto que o equilíbrio se faz essencial. As três partes precisam funcionar juntas para que não haja excessos ou ausências.

É importante destacar que essas três partes se entrelaçam numa variedade de funções e processos dinâmicos do indivíduo. Portanto, mesmo estando no nível inconsciente, o id pode vir à tona, pois há certa flexibilidade e uma movimentação entre os níveis mentais.

Ego — eu

Contrariamente ao id, o ego tem como base o princípio da realidade, sendo esta adquirida no meio sócio-histórico-cultural, pois precisa satisfazer os desejos do id, porém dentro das convenções ou de forma adequada e adaptada. Assim, ele pondera para que não haja constrangimentos, inadequações, violações legais etc. Ainda lida com os impulsos, de modo que a ação seja adequada ao meio no qual o indivíduo está inserido.

Homem enchendo balão com a palavra "ego" escrita
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Porém é o id que possibilita o desenvolvimento do ego. Se no início da vida o indivíduo é mais movido pelos impulsos e pela satisfação das necessidades de prazer, na medida em que toma consciência de sua própria identidade, o ego vai se desenvolvendo e, para permitir que os impulsos sejam eficientes e adequados ao mundo externo, ele introduz a razão, o planejamento e o momento em que o comportamento humano poderá satisfazer os desejos do id com o máximo de prazer e com o mínimo de efeitos negativos.

Assim, o ego é um mediador entre o id e o mundo exterior e obtém energia do próprio id. Ele ainda enfrenta o superego, as variadas memórias e as necessidades físicas do organismo. Ele procura atender e abrandar as exigências constantes do id e a rigidez do superego. Ele possibilita a preservação da saúde, a sanidade e a segurança da psique. Também não é totalmente consciente, uma vez que mecanismos de defesa que o compõem são parte do nível inconsciente.

Além do mais, o ego é responsável pelo lado científico do indivíduo, pela interpretação e pela ação no mundo exterior à mente. É ele que possibilita uma mente atenta, focada e concentrada. Permite ao indivíduo que responda quem ele é, sendo sua personalidade explícita à sociedade. Ele é a voz na cabeça que diz: “Avalie e decida pelo adequado”.

É muito comum as pessoas entenderem o ego como algo egoístico ou voltado a si, egocêntrico. De fato esses termos se relacionam com essa parte do sistema psíquico. Alguns, inclusive, erroneamente acreditam que o ego não deveria existir, pois isso facilitaria a convivência social. Contudo, se ele não existir, não há identidade; o indivíduo não conseguiria diferenciar o que é pertinente a si próprio e o que é o outro ou o que é ele próprio e o que são as coisas, representando um padrão de esquizofrenia.

Entretanto a forma como o ego funciona interfere no comportamento e nos relacionamentos interpessoais. Assim, um ego inflado ou exagerado pode levar o indivíduo a se tornar narcisista, com sentimentos de superioridade, incapacidade de aprender e ouvir suas próprias críticas. Pode ocultar frustrações, traumas e dores, denunciando alguém em condição de sofrimento que ele deseja omitir. Então esse tipo de ego é incapaz de ser espontâneo. Em contrapartida, quando o ego é muito frágil, ele torna o indivíduo submisso, suscetível à exploração e ao bullying, com baixa autoestima e medo de não ser aceito pelo outro ou por um grupo social.

Desse modo, um ego desequilibrado significa uma personalidade mal adaptada e pode resultar em patologia. Se o id, por exemplo, for dominante, o indivíduo será impulsivo e pouco sociável. Se o ego for dominante, ele será apegado demais à realidade, com rigidez e poucas flexibilizações às regras e valores sociais.

Superego — supereu

O superego é o caráter moral da personalidade do indivíduo, responsável por apaziguar o id, ou seja, conter os instintos primitivos com base nos valores morais, históricos e culturais da sociedade em que se vive. Ele compõe a estrutura da personalidade cultural do indivíduo, representando os padrões sociais que ele foi absorvendo no decorrer da vida, ensinados primeiro pela família e depois adquiridos no meio social, que inibem os instintos rudimentares. Inclusive, alguns estudiosos sustentam que o superego atue para aperfeiçoar e civilizar o comportamento do indivíduo, considerando o que seria ideal, e não necessariamente o real. Além disso, segundo Freud, ele começa a ser introjetado a partir dos cinco anos de idade e se forma depois do ego. Ele descende do complexo de Édipo, pois, nele, durante a fase fálica, o indivíduo vai percebendo a autoridade, representada pelo pai, a proibição do incesto, a castração e as regras sociais e de conduta moral, desde as explícitas até as muito tácitas.

À direita, imagem de uma mulher sem os olhos. À esquerda, a parte dos olhos que faltava na imagem.
Geralt / Pixabay / Canva

O superego atua nos três níveis de consciência do indivíduo. Ele é um norteador sobre o que está certo e o que está errado, fornecendo diretrizes para julgamentos, avaliações e críticas. Divide-se em dois subsistemas: o ideal do ego, que determina o bem a ser buscado, e a consciência moral, que estabelece o mal a ser evitado. Ele é a voz na cabeça que diz: “Você não deve fazer isso, pois não é certo”.

Além disso, o superego tem três funções: inibir (com sentimento de culpa ou por punição) qualquer impulso diferente daquele que a consciência moral estabeleceu; forçar o ego a agir de maneira moral; conduzir o indivíduo à perfeição, nos pensamentos, nas palavras ou nos gestos, de acordo com o que estabelece o ideal do ego.

Porém, se estiver em desequilíbrio, quando o id é dominante e o superego muito reduzido, o indivíduo não apresenta remorso ou culpa, portanto não tem consciência moral, o que caracteriza os psicopatas ou sociopatas, como atualizado o termo. Já com um superego dominante ou hiperativo, o indivíduo pode ser extremamente moralista e alienado, incapaz de ceder e excessivamente radical.

Como eles funcionam na prática?

A teoria da personalidade de Freud e seus conceitos sobre o id, o ego e o superego são importantes na medida em que norteiam o entendimento sobre os comportamentos humanos nas diversas circunstâncias do cotidiano, além de serem um dos mais importantes referenciais na identificação e no tratamento de patologias psíquicas.

De qualquer modo, entender como essas vozes nas nossas mentes funcionam no dia a dia pode nos esclarecer o conteúdo exposto anteriormente. Então vamos a um exemplo corriqueiro de como seria o papel do id, do ego e do superego em relação a ele:

Imagine que você esteja em seu carro se dirigindo ao trabalho. Você está na sua mão de direção e na sua faixa, com velocidade dentro do limite permitido, quando, repentinamente, outro veículo o ultrapassa, fechando o seu prosseguimento na via momentaneamente.

O id atuando: você sai em perseguição ao veículo, bloqueia a passagem dele e parte para a discussão com o motorista. Aqui, o que prevalece é o impulso primitivo, a irracionalidade, a desinibição, a solução imediata para uma situação de tensão, sem planejamento. Há o caráter antissocial.

O superego atuando: você entende que as regras de trânsito não foram cumpridas por parte do outro motorista, mas foram seguidas por você. Você é impedido de adotar um comportamento impulsivo, tendo como princípio moral não partir para o revide, o que poderia trazer uma consequência ruim.

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O ego atuando: você lida com a realidade, pois está indo ao trabalho, deseja chegar a tempo, nada aconteceu de fato com você ou com o automóvel e não precisa revidar, porque entende que o outro pode ter se distraído.

Veja que, em equilíbrio, as três partes da psique (mente) geram um comportamento adaptado ao contexto social e adequado à situação e ao momento. Não provoca conflitos internos ou externos. Não são danosos. Contudo, se qualquer uma delas estivesse em primazia, os resultados seriam diferentes, principalmente aqueles relacionados ao id.

Concluindo, as vozes na nossa mente devem estar em sintonia. Elas representam o conteúdo da nossa personalidade e nos fazem ser quem somos. A saúde mental, por sua vez, tanto influencia comportamentos quanto também é influenciada por eles. O autoconhecimento constitui uma ferramenta fundamental para uma vida social mais adequada. Então, muito além desses conceitos, nos quais você pode buscar se aprofundar, conheça e compreenda que a mente é um universo imensamente rico a ser desvendado! Aceite o desafio! Descubra a sua personalidade.

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