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O que é positividade tóxica?

Mulher jovem feliz isolada sobre fundo amarelo, mostrando os polegares para cima gesto.
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Escrito por Eu Sem Fronteiras

“Levanta a cabeça!”, “Não fique assim, não, coloque um sorriso no rosto”, “Por que está triste? Você tem/conquistou isso aqui”… Você já deve ter ouvido ou até mesmo falado algumas dessas frases. Sabia que, apesar de terem um tom aparentemente positivo, elas, na verdade, podem ser bastante prejudiciais para a saúde mental de quem ouve?

Esse tipo de afirmação/pergunta é o que alguns psicólogos chamam de positividade tóxica. Você já ouviu essa expressão? Sabe do que se trata? Preparamos um artigo explicando esse conceito e justificando por que ele pode ser tão maléfico em nosso dia a dia.

O que é positividade tóxica?

Não há uma definição exata para o que é positividade tóxica, visto que é um conceito novo. Mas, de maneira resumida, podemos dizer que se trata de uma visão de mundo que não permite sentimentos negativos, como tristeza, decepção, frustração, entre outros. As frases de positividade tóxica sempre têm o sentido de negar à pessoa que ouve a “oportunidade” de estar triste, como se tivéssemos que estar sempre felizes e satisfeitos.

“Evitar o sofrimento é uma forma de sofrimento”, escreveu o escritor americano Mark Manson, autor do best-seller “A Arte Sutil de Ligar o Foda-Se”. E ele tem razão, já que nossas emoções existem para ser expressadas. Caso contrário, se forem “represadas”, podem “estourar” em algum momento. Ou seja, se você está triste, ignore a “regra” de não poder estar se sentindo assim, e esteja — a vida permite e os sentimentos ditos negativos podem, no fim das contas, nos fazer bem e promover crescimento.

Positividade tóxica ou otimismo?

Muita gente confunde otimismo com positividade tóxica, mas a verdade é que são coisas bem distintas, especialmente no ponto exato da maneira como essas duas posturas encaram a tristeza.

Aquele que age com positividade tóxica nega os sentimentos negativos, age como se eles não existissem, como se a felicidade e a alegria fossem os únicos estados positivos. O otimista, por sua vez, reconhece a situação negativa, mas acredita que vai ser possível sair dela ou que há mais pontos positivos do que negativos, no fim de contas.

Homem segurando um cartão de visita com um sorriso feliz
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Portanto dizer a alguém: “Vai ficar tudo bem” depende muito de como você está abordando os sentimentos dessa pessoa. Você a ouviu falar sobre o que a incomoda? Permitiu que ela se expressasse e desse voz aos sentimentos negativos? E, além disso, “justificou” sua afirmação otimista ou apenas disse um “vai ficar tudo bem” vazio, sem nenhum argumento que a ajude a pensar e sentir mais positividade, mas positividade com conteúdo?

Como a positividade tóxica nos afeta?

Vivemos numa sociedade que não dá espaço para a fraqueza. Sentir-se triste, desolado, desmotivado, frustrado é dar espaço a sentimentos negativos — e não tem nada de errado nisso! Ninguém é feliz ou triste o tempo todo. Então deveria ser normal termos espaço para manifestar as emoções negativas que às vezes se abatem sobre nós.

A “repressão” dos sentimentos negativos começa em nós mesmos, muitas vezes, isto é, sem interferência externa. Quando nos sentimos mal, automaticamente nos sentimos culpados, como se não tivéssemos o direito de estar sentindo algo negativo — é a positividade tóxica enraizada bem fundo em cada um de nós, impedindo que possamos dar espaço à tristeza, por exemplo.

Ilustração de rostos tristes com um rosto feliz no meio
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Além disso, machuca ainda mais quando criamos coragem de expor aquilo que estamos sentindo ou pensando, mas ouvimos a pessoa com quem conversamos diminuir aquilo pelo que estamos passando e fazendo afirmações superficiais, como “Não fica assim, não”, “Isso vai passar” ou “Vai ficar tudo”, não oferecendo absolutamente nenhuma ajuda que não seja uma frase vazia e aparentemente positiva.

A positividade tóxica, portanto, é uma das piores armadilhas nas quais podemos cair. Especialmente porque, como explicado, muitas vezes ela vem de nós mesmos, quando calamos a nossa voz e passamos a pensar que não podemos levar em consideração nossos sentimentos e nossas emoções. E toda vez que eles acabam “escapando”, traduzem-se em culpa e mal-estar.

Que possamos, cada vez mais, ter em mente que se sentir mal e ter dias ou fases ruins é comum. Eu tenho, você tem, todos vão ter alguma vez na vida. Que a tristeza não seja motivo de medo, culpa ou vergonha para ninguém!

A importância de também viver os sentimentos ruins

Por sermos criados nesta sociedade que impõe a busca pela felicidade como o único caminho possível e que instala em nós essa culpa nos momentos em que reconhecemos para nós ou para alguém que estamos tristes, vemos a tristeza e os sentimentos ruins como coisas que devem ser evitadas a todo custo ou que nem deveriam estar sendo sentidas — o que nos faz perder um potencial gigantesco que as emoções negativas têm.

Pense em todas as mudanças positivas que você promoveu em sua vida: elas partiram de algum incômodo, certo? Pense nas lições que você aprendeu e nos erros que deixou de cometer por causa delas: isso só foi possível porque você passou por situações negativas, acolheu-se e aprendeu, certo?

Um homem feliz ao lado da sua versão triste
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Enfim, podemos dar exemplos infinitos para mostrar que não devemos fugir dos sentimentos negativos, mas sim vivê-los, assim como vivemos os positivos. A vida não acontece somente quando estamos felizes e positivos. Os momentos ruins fazem parte dela e, apesar de não podermos adotar uma postura de aceitar a tristeza e nos conformar com ela, tampouco podemos negar sua existência e tentar “correr” para sair logo da situação em que nos encontramos.

“A paleta de cores emocionais engloba emoções desreguladas, como tristeza, frustração, raiva, ansiedade ou inveja. Não podemos ignorar que, como seres humanos, temos aquela gama de emoções que têm uma utilidade e que nos dão informações sobre o que acontece no nosso meio e no nosso corpo”, explica o psicólogo Antonio Rodellar, especialista em transtornos de ansiedade em entrevista ao UOL. Ou seja, não ignore sua tristeza. Seja acolhedor para aprender com ela!

Dê tempo ao tempo, seja paciente consigo e aprenda o que for possível com situações, pensamentos e emoções ruins. Pense: o mundo já é naturalmente cruel demais com você, então seja um porto seguro para si mesmo, não alguém que te faz ainda mais mal.

Pessoas tóxicas

Nem sempre é possível evitar o convívio com pessoas que negam a você o direito de estar triste e fazem essas afirmações cheias de positividade tóxica. Mas, se você perceber que existe uma relação assim na sua vida, corte laços com essa pessoa, que provavelmente não quer o seu bem. Se não for possível cortar laços – ou se você não quiser fazer isso –, tenha uma conversa franca com essa pessoa e diga que você se expressa para ela em busca de ajuda e conforto, não de ainda mais desconforto por estar triste.

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E, por fim, será que você não tem sido uma pessoa tóxica para si mesmo? Tem se permitido sentir o que há de negativo dentro de você? Tem se acolhido ou tem produzido ainda mais culpa, desconforto e tristeza em si mesmo? Lembre-se de que você é a pessoa mais importante da sua vida… Ninguém pode cuidar tão bem de você quando você mesmo.

Essas são as principais características e consequências dessa postura conhecida como positividade tóxica. Percebeu como ela pode ser bastante maléfica para o nosso bem-estar e a nossa qualidade de vida? Fique atento para evitar relações que tenham essa característica e seja bastante acolhedor consigo mesmo!

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