Convivendo

O que está por trás da Transição Capilar

Escrito por Márcia Leite

Transição capilar é uma expressão que está em voga nos últimos tempos. Diversas mulheres optaram por esta situação e buscaram, assim, uma espécie de libertação dos antigos padrões de beleza.

Quero falar especificamente sobre a fase das pessoas que antes lutavam contra a natureza dos fios que vieram ao mundo crespos, através de relaxamentos, alisamentos, escovas progressivas e pranchas alisadoras a quente, onde produtos químicos fortes eram utilizados.

Ainda nesta fase, as pessoas atravessaram meses com os fios, parte modificados, parte naturais, estilizando os cabelos com formas alternativas, como a texturização. É o período em que há um direcionamento do consumo de outros cremes, com formulações diferentes, daquelas tradicionalmente encontradas no mercado de cosméticos, além de óleos vegetais (muitos fazem uma mistura de óleos) e técnicas de estilização, como coquinhos, tranças, rolinhos, tranças de dois, fios moldados nos dedos, bobes e bigudins, até que a paciência desapareça no universo. Imaginem só todas as noites, fazendo qualquer um destes procedimentos no cabelo todo, aquela dor nos ombros de tanto manter os braços para cima, com creme espalhado por todo lado, toalhas encharcadas de água e produtos e óleos, pentes, elásticos, grampos e outros apetrechos mais.

É dia de hidratar, dia de nutrir, dia de queratinizar, dia de lavar, dia disso e daquilo, organizando uma rotina de tratamento semanal, estreitando ainda mais o relacionamento com um elemento tão próximo e tão distante ao mesmo tempo.

Mas todo este sacrifício é sempre movido pela futura sensação de liberdade que cada pessoa conquistará ao final deste processo: fios mais fortes, crescimento de novos fios, diferente textura (mas é aquela mesma que sempre esteve com você) e um novo velho ser diante do espelho. 

Esgotada a paciência, chega o momento de se livrar do passado, quando está na hora de, definitivamente, se romperem os laços com o método químico capilar, e aparecem as novas madeixas, cheias de vida e de cachos grandes, médios, pequenos ou nenhuma das classificações anteriores. Entra na vida uma nova linguagem: classificação dos cachos por números, letras e nomes (ou a ausência deles), outras técnicas de estilização e de definição dos fios, até um novo modo de se lavar e condicionar os cabelos. Quanto aprendizado!

Torna-se necessária a autoafirmação, e também o enfrentamento das críticas das pessoas com quem se convive. Ouve-se, aliás, de críticas até elogios. A cada dia, aquilo que se vê no espelho, que as pessoas falam e o que se sente na intimidade, são importantes para definir se a opção escolhida está em consonância com os resultados obtidos: é o novo ser que surge da velha aparência. É a fase da experimentação: brincos novos, cores diferentes nas roupas, acessórios de cabelo nunca antes pensados ou usados. É um misto de se sentir maravilhosa com o que as pessoas estão pensando sobre essa mudança. É um período de grandes descobertas, elencando vantagens e desvantagens da tal transformação.

Então, entram discussões sobre imposições da sociedade, quando se lê nas redes sociais que alguém foi criticada porque adotou os fios naturais, ou porque não pode representar a beleza do país no exterior, ou porque não pode isso ou aquilo nas relações trabalhistas, como se a estética fosse determinante no caráter ou na postura do ser humano.

E aí, pode-se medir o tamanho da maldade humana, quando se busca ferir a autoestima de alguém que alguns julgam ter mudado seu modo de ser porque se reconheceu e se aceitou de forma mais plena e, assim, colocam barreiras de convivência.

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Mas também, há situações contrárias, onde muitos, mas muitos mesmo, proferem palavras animadoras, dizendo enxergar mudanças positivas, onde a autoconfiança é constantemente irradiada por quem resolver viver simples como nasceu, é e sempre será. E nada paga o fato de ser classificada como bonita em uma sociedade em que a estética segue um padrão definido, onde se esquece que a essência e a forma natural são também muito importantes. É o simplesmente SER.

Sobre o autor

Márcia Leite

Graduada em Farmácia e atualmente estudante da área de Humanas, mostro interesse em diversos temas. Incomodada com questões sociais e que mexem com a convivência e a saúde das pessoas.