É engraçado como a gente passa a vida repetindo palavras sem compreender direito o que elas significam, como foram formadas, sua etimologia. Quando observamos um pouco a origem e formação das palavras com seus prefixos, sufixos, radicais e seja lá mais o que for, podemos nos surpreender profundamente.
Gosto dessa análise e, muitas vezes, busco essa origem para compreender exatamente do que estamos falando.
Pois bem, o assunto hoje é trabalho, a palavra trabalho e o significado dele para nós. Em março tive a oportunidade de ver uma palestra que me chamou a atenção para essa análise.
Parece que entre as línguas latinas como português, espanhol e francês, a palavra se origina de “tripalium”, nome dado a um instrumento de tortura usado para animais e pessoas. No italiano, se associa a cansaço. No alemão a palavra se relaciona à escravidão.
Seja em que língua for, o vocábulo “trabalho” está associado a algo cansativo, obrigatório, que demanda muito esforço, servidão; em última análise, uma tortura.
Na mesma palestra, foi sugerido que a palavra trabalho fosse substituída por serviço, ou seja, estar a serviço, servir a um propósito.
Tá, as palavras são bastante próximas, “trabalhar para” ou “servir a” trazem consigo a ideia de algo penoso. E que tal buscarmos um novo olhar das nossas percepções sobre o trabalho e o servir? Talvez possamos diminuir o peso que se atribui às atividades que executamos.
Sabemos que muitas pessoas percebem o trabalho exatamente dessa forma, como um fardo, um peso enorme, porque não encontram nenhum sentido naquilo que estão executando. Também sabemos que isso é uma realidade que cabe aos interesses de muitas empresas e empregadores que, por não compreenderem a importância daqueles que os servem, transformam o trabalhar em algo cada vez mais árduo.
Por outro lado, temos pessoas que têm no trabalho, no servir e em suas atividades, uma verdadeira fonte de energia para a vida. Tanto é fato que muitas pessoas se sentem completamente perdidas, sem ânimo e sem direção quando lhes é cerceada a possibilidade produtiva.
Uma nova era está chegando em nosso planeta, muitas coisas estão mudando vertiginosamente e acredito que essa relação com o trabalho não há de ser poupada nesses novos tempos.
Já temos ouvido falar que daqui a alguns anos, muitas das profissões que conhecemos não existirão e darão espaço para outras novas, que ainda nem imaginamos quais sejam.
Cada vez mais vemos jovens que têm buscado exercer trabalhos que lhes ofereçam não só um salário, mas também a possibilidade de extrair dessa atividade a energia alegre que está muito próxima da gratidão e do amor.
A economia compassiva, por exemplo, está se desenvolvendo cada vez mais para atender à humanidade e transformar o trabalho numa tarefa colaborativa, próspera, que atenda a todos os que participam da cadeia produtiva e não apenas os que detêm o capital.
Pessoalmente, acredito nessa mudança, numa visão mais amorosa do trabalhar e do servir, mudando a concepção pesada que, até hoje, essas palavras nos trazem, e, quem sabe, daqui a um tempo possamos abrir o dicionário e encontrar a seguinte explicação: trabalho: atividade que se exerce por amor, para servir a todos e ao Todo.
Sua tarefa é descobrir o seu trabalho e, então, com todo o coração, dedicar-se a ele.” (Buda)
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