Autoconhecimento

Os benefícios de olhar para a sua biografia

Uma mulher de pé em frente ao mar. Ela segura balões de ar.
Song_about_summer / Shutterstock
Escrito por Dulcineia Santos

Uma das coisas mais poderosas que você pode fazer por você mesmo na maturidade, especialmente a partir dos 63 anos, é olhar para a sua biografia. O que foi importante? Que legado você vai deixar? O que foi transformado em força e sabedoria?

Olhar para a sua história é importante para relembrar forças e singularidades que vêm dos obstáculos que superou, das situações que você viveu.

Quando não fazemos isso, ficamos com um olhar voltado apenas para o que não conseguimos fazer, para as limitações do nosso corpo, em vez do que temos para oferecer ao mundo. Essa insatisfação se traduz numa sensação constante de cansaço.

Olhando para a vida você verá pontos estagnados que precisam entrar em movimento, seja por meio do trabalho, do servir ou da arte.

A revisão da biografia é uma das ferramentas que eu uso no meu trabalho como facilitadora de desenvolvimento humano. Vamos ver como fazer isso, e quais são os benefícios que você pode tirar olhando para a sua própria história?

Por onde começar?

Você pode fazer isso apenas olhando pra sua linha da vida e observando-a sob vários aspectos: um que a gente chama de objetivo, que é olhar para os acontecimentos mesmo, numa ordem cronológica: eu nasci, meus irmãos nasceram, fui pra escola… tive filhos etc.

Outra maneira é ver sob um aspecto subjetivo, ou seja, você põe o foco nas pessoas que encontrou – como elas impactaram a sua vida, o que você aprendeu com cada uma, como esses encontros fizeram de você a pessoa que é hoje.

Duas pessoas dançando numa praia.
MMckein de pixabay / Canva

Ainda, você pode fazer desenhos: qual é a imagem que representaria sua infância? Ou qual é a árvore que representa sua família, ou o seu momento atual? Que galhos dessa árvore você quer cortar pra que outros possam crescer mais saudáveis, mais fortes?

Aliás, arte é uma parte importante do processo de revisão da biografia, já que vai colocar você ainda mais em contato com o sentir.

Olhando para os setênios (ciclos de sete anos)

No meu trabalho, o convite que eu faço é que olhemos para nossa história de vida de forma mais sistematizada, sob o olhar da Antroposofia, que é uma filosofia criada por Rudolf Steiner aqui na Suíça há mais de 100 anos. A Antroposofia faz isso considerando os setênios, que são os ciclos de 7 anos.

Biografias interna e externa

Considerando os setênios, existe uma biografia interna e uma externa. A interna é a nossa individualidade e também os impulsos que trazemos conosco e queremos realizar. Já a externa é aquilo que vem de fora, aquilo que a vida exige de nós, nosso papel social, e que pode, inclusive, apagar a nossa individualidade.

Para que os impulsos da biografia interna floresçam, precisamos abrir espaço, e isso se dá por meio do autoconhecimento. Só assim podemos ouvir quais são esses impulsos e, a partir daí, procurar um equilíbrio entre o que vem do nosso coração e o que a vida exige de nós, ou seja, encontrar um equilíbrio entre a biografia interna e a externa.

Por exemplo: vamos supor que você sente que nasceu pra ser musicista. Até estudou um pouco na juventude, mas aí as demandas da vida foram te levando para outra direção: arrumou um emprego, acabou fazendo uma faculdade voltada para a área em que trabalhava, criou uma família etc. Veja como o impulso interno (ser musicista) entrou em conflito com o impulso externo (demandas da vida).

Ao olhar para a sua história, você relembra qual é o seu impulso interno e abre espaço para ele: de repente, agora numa nova fase da vida, seus filhos já estão criados, você está aposentada, ou quer diminuir o ritmo, está se sentindo infeliz no trabalho, e então percebe que pode incorporar a música no seu momento atual novamente.

Descobrindo seu impulso

Gudrun Burkhard, sistematizadora da biografia, diz que cada pessoa traz uma pergunta para sua vida, e que a gente deveria saber qual é, porque ela mais ou menos já diz qual é o impulso. Você sabe qual é a sua pergunta?

Uma mulher asiática apresentando um semblante de dúvida. Situado ao canto superior esquerdo, dois pontos de interrogação.
metamorworks de Getty Images Pro / Canva

A minha é: “Qual é a lição?” Toda a minha vida é voltada para isso. Quando olho para os meus relacionamentos, por exemplo, isso fica muito claro pra mim: enquanto eu não aprendo qual é lição, não saio do loop, não paro de repetir um determinado padrão. Isso me levou a escrever um livro só sobre estas lições, chamado “A Namorada do Dom”. Aliás, essa é outra maneira de olhar para a sua biografia.

A minha sede por conhecimento, por aprender e por compartilhar as “lições” que eu aprendi, como estou fazendo aqui, tem a ver com essa pergunta também.

Força x sabedoria

Quando falamos em biografia, existem duas metades da vida. Aquilo que era força física na primeira metade da vida, vira sabedoria na segunda metade. A ideia é que deixemos de nos identificar com as limitações do corpo, da idade, do trabalho e passemos a ver quais são as possibilidades para o futuro.

Gudrun também diz que, ao fazermos a retrospectiva da vida, podemos “acordar a vontade de mudar o futuro”.

Reencontrando motivação

Para entendermos qual é o nosso impulso individual, primeiro precisamos entender aquilo que é comum a todo mundo (arquetípico). Por exemplo: quais são as características arquetípicas do setênio, ou seja, qual é a tendência de como uma criança de 0-7 viva e sinta este momento? A partir do que serve para todo mundo, começamos a ver aquilo que nos faz singulares, o que é que trouxemos para o mundo que ninguém tem, e aquilo que só pode nascer por meio de nós.

E é isso que vai nos tirando desse desânimo, dessa falta de motivação que as pessoas estão sentindo, porque começamos a nos sentir necessários e ver o que ainda podemos fazer por nós e pela comunidade.

Observando os espelhamentos

Se uma criança não viveu de uma maneira, se ela não viveu uma infância “normal”, como isso vai impactar a maturidade dela? Esses são os chamados espelhamentos: como o setênio de 0-7 impacta no de 56-63?

Uma criança sorrindo. Em plano superior a ela, um adulto beijando-a.
Helena Lopes de Pexels / Canva

Um exemplo sobre os espelhamentos: se você teve uma infância feliz, com “calor”, ou seja, “processo quente”, então você vai ser um adulto mais aberto pra vida. Ou, se você acompanhou bem a questão dos ritmos (observar as festas anuais, as estações do ano), então você aprende a ter mais confiança na vida: sabe que, no outono o alimento vem; que, depois do outono, a terra precisa descansar etc. E quanto à questão do ritmo, quanto mais você ajustá-lo na maturidade, mais energia vai ter, e mais qualidade aquilo em que você colocar a sua energia vai ter também. Caso contrário, começam a aparecer as doenças.

As crises da vida

Quando olhamos para a nossa vida, podemos observar o que aconteceu nela durante os anos de crises: aos 9, 18, 36, 37, 42.

Por exemplo, conto no meu livro que aos 37 eu tive uma inquietação muito grande, um senso de que eu não estava contribuindo, apesar de ter um trabalho estável. Surgiu uma oportunidade, e eu me mudei pra Suíça. Isso aconteceu exatamente no meu segundo nodo lunar (o primeiro é aos 18). No nodo lunar, acontece uma “rotatória” da vida, que é quando precisamos tomar uma decisão sobre o futuro.

Então a “lei”, o arquétipo, que é o nodo lunar, é o mesmo para todo mundo. Mas como isso vai ser mostrar pra cada pessoa é individual, e é isso que faz de você um ser humano único. Quando começar a olhar pra essas coisas que aconteceram, passa a entender qual é o seu impulso, e também qual a sua qualidade única, o que é que você ainda tem para entregar.

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Fica aqui, então, o meu convite para que você revise a sua história, por si mesmo ou, de maneira mais sistematizada, comigo, e que possa acordar o seu impulso interno!

Sobre o autor

Dulcineia Santos

Dulcinéia Santos é consultora de desenvolvimento para a maturidade, praticante certificada da ferramenta MBTI® de tipos psicológicos e coach. É também autora do livro “A Namorada do Dom”, em que conta as lições que aprendeu nos relacionamentos e na sua jornada até a Suíça.

Acredita que a vida é cheia de lições e que se não as aprendemos não passamos pro próximo nível do jogo. Saiu de casa cedo e foi morar no mundo – agora está na Suíça, onde estudou antroposofia por três anos. Gosta de tomar cerveja no boteco enquanto papeia, de aconselhar, da língua portuguesa, de cozinhar, de ficar só e de flexibilidade de horários. É esotérica, mas acha que estamos encarnados para viver as experiências terrenas com o pé no chão – de preferência dançando.

Formações:

Bacharel em línguas aplicadas

Brain Based Coaching Certification
NeuroLeadership Group – Londres

MBTI® – Myers-Briggs Type Indicator – Step I and Step II
Myers-Briggs Foundation – Florida, USA

Antroposofia
Goetheanum – Dornach, Suíça

Terapia Multidimensional
Genebra – Suíça

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