Convivendo

Perdão: Será que somos obrigados a perdoar?

Mulher como venda nos olhos escrita "Sorry"
Escrito por Anne Moon
Você sabe o que é o perdão? Se sim, já precisou perdoar? Já precisou ser perdoado? Não duvido que sim, porque a palavra perdão é muito usada, quer dizer, muito mal-usada e muito mal-interpretada. Existe dois extremos: há as pessoas que nunca pedem perdão e as que sempre pedem perdão.

Há ideias totalmente controversas sobre esse assunto. Uns dizendo que o perdão seria “esquecer”, deixar para lá o que aconteceu; outros dizem que é a ressignificação do seu sentimento em relação a isso.

Ursinho com placa de "sorry".

Um grupo diz que para perdoarmos verdadeiramente devemos “passar um pano”, “uma borracha” na história e nunca mais tocar nesse assunto, o que não é aconselhável. É varrer a poeira e jogar para baixo do tapete. Esquecemos que está lá, mas uma hora aquela sujeira vai se tornando um grande bolo de poeira. Se varrer a casa inteira e jogar toda a poeira para debaixo do tapete, isso faz essa casa ser limpa?

Aparentemente, sim. No início, a poeira foi escondida embaixo do tapete. Até um certo tempo dá para esconder, mas está lá, mesmo ignorando (e não tem como ignorar).

É que nem gravidez: no início dá até para esconder, mas depois de um tempo…

(Mães de plantão, comentem aqui se não é verdade)

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Brincadeiras à parte, quando caímos, tem como ignorar que doeu, que machucou? Claro que não. Você pode não focar nisso, mas está lá.

É a mesma coisa quando passamos por situações desagradáveis e “deixamos para lá”, ou dizemos: “Vou esquecer, aí vai passar”.

Olha, é legal ser otimista, porque isso mostra que você sabe lidar com situações nem tão legais assim, mas… Não, não vai passar, porque você se sentiu ferido com essa situação.

“O tempo cura tudo”

Não. o tempo não cura nada, o tempo é apenas o tempo. Não para, não volta, é linear e progressivo, então é você mesmo que se cura. Se não houver essa cura, nunca haverá o perdão genuíno.

“Mas como nos curamos?”

Limpando essa sujeira que ficou debaixo do tapete. Para fazer isso você tem que entrar em contato com o lixo.

Mãos juntas.

Para haver o perdão propriamente dito, temos que tocar nessas feridas, ir profundo para chegar na raiz e tratar para nos curarmos de tudo isso, para que somente então possamos perdoar. O ressentimento é reviver aquela situação, é trazer aquele sentimento novamente.

O perdão não vai ser possível se você ignorar o que te feriu. Você tem que ir na raiz do problema, deixar aparecer o sentimento negativo que aquilo te trouxe (reprimir sentimentos negativos é perigoso, já falei sobre isso em artigos anteriores), refletir sobre essa situação, racionalizar, analisar, procurar ver por uma outra perspectiva, a perspectiva de ver o que aquilo te trouxe de aprendizado, o que precisa ser trabalhado em nós que trouxe aquela situação. Assim é feita a limpeza. Você se perdoa e perdoa o outro!

Chegamos no ponto desejado: entender que somos coautores da nossa própria vida, então precisamos ter responsabilidade e não nos culparmos em demasia, pois quando nos culpamos nos colocamos no papel de vítima.

“Fui idiota de confiar naquela pessoa”

Uma frase muito comum quando nos culpamos, né? Quantas vezes já não estivemos nesse papel? Pois eu já estive nesse papel. Já confiei em pessoas que depois eu pensei: “Como fui me deixar me enganar por essa pessoa? Como pude confiar?”

Aí nessas horas surge aquela “vozinha do mal”, vindo do seu inconsciente, que fala: “Olha só, não era você que dizia que não confiava de primeira? Agora está aí, igual a um trouxa”.

Existe outro extremo, que é o mais difícil de lidar: o de culpar os outros pelo próprio sofrimento.

Vem novamente a “vozinha do mal” agindo como uma conselheira do caos, falando: “essa pessoa me enganou/me fez mal”. Quem nunca falou isso? Eu me incluo nessa também, porque sou um ser em busca da iluminação. Não é à toa que desde meus 17 anos venho estudando, aprendendo e evoluindo a cada dia. Isso faz parte do meu dharma (melhorar a mim para dar o meu melhor aos outros).

Naquela época fui estudar sobre o perdão, sobre a limpeza geral (alma, corpo e mente) e sobre uma técnica que aprendi e que fui praticando até aquilo se fixar no meu inconsciente: sempre questione a “vozinha do mal”.

Quando ela falava: “Fui enganada!”, “me deixei confiar naquela pessoa!”, “fui idiota em acreditar” ou “não posso confiar em ninguém”, já cortava esses pensamentos dizendo a mim mesma que não tinha sido a pessoa que me enganou e que mentiu, mas que a minha idealização e a minha expectativa, além do apego, não me permitiram ver isso. Não tinha sido idiota de confiar em alguém. Apenas confiei nas pessoas erradas, então minha crença limitante dizia: “Ninguém é confiável”, cocriando essa situação e atraindo essas pessoas e esse tipo de situação para a minha vida.

Não sei se deu para perceber, mas acabei de explicar o que é ter responsabilidade pela própria vida, que é diferente da culpa. Não me culpo nem culpo o outro, pois a responsabilidade sobre minha vida é minha. Não tenho controle sobre as ações e os pensamentos dos outros. Só tenho controle sobre mim mesma e só posso controlar minhas ações a partir de agora.

Elainne Ourives disse uma vez que tudo, TUDO o que nos acontece é para o nosso melhor e para o nosso aprendizado. Analisando essa situação, vi que naquele momento havia aspectos em mim que precisavam ser trabalhados e que o universo precisou me colocar nessas situações para que eu despertasse minha consciência e evoluísse.

Outro assunto também citado pela Ourives recentemente, que me fez também refletir, é sobre como nós temos ignorância e cegueira de não ver como o universo trabalha. A treinadora quântica também mencionou casos de pessoas que afirmaram que as coisas tinham piorado. Em um, havia uma mulher dizendo que visualizou e cocriou com o universo ter reciprocidade de se sentir amada, cuidada, segura, desejada, mas acabou se separando.

Veja só. Ela estava esperando reciprocidade vinda de alguém que não podia oferecer isso, afinal oferecemos ao outro somente o que temos. Se o outro não tem amor, está na hora de refletirmos sobre o porquê de aquela pessoa ter aparecido em nossas vidas, de aquela situação ter ocorrido, o que nos falta ver e aprender que ainda não vimos e aprendemos.

Isso é ter responsabilidade pela própria vida, pois só assim podemos perdoar e fazer a nossa reação sobre aquela situação ser ressignificada. Voltamos àquele momento, portanto, e ressignificamos aquilo.

Perdão é isso: se liberar dessa carga que só nos limita, liberar o outro desse karma que pode estagnar, soltar essa pessoa que está presa a você. Aí que é o momento de não se falar mais nisso e de não vibrar, para que não se torne um ciclo repetitivo.

Calma! Minha intenção ao falar isso é para te ajudar a tomar controle da sua mente consciente para, desse modo, controlar o inconsciente. Depois de fazer essa limpeza, essa situação tem que ser abandonada, como abandonamos uma casa que está literalmente caindo. No começo pode ter só uma rachadura, uma viga que cai, mas a qualquer hora ela pode desabar contigo dentro.

Ou seja, se não deixarmos as situações do passado onde devem estar – NO PASSADO -, esse sentimento e a situação vão te ruir aos poucos, até destruir por completo em seu emocional, o seu psicológico e até o seu espiritual, seja lá qual for sua crença.

Perdoar é ressignificar e se libertar. Agora, se você me pergunta se deve ou não conviver novamente com os envolvidos na situação, aí vai de acordo com a sua escolha. Mas antes de tomar essa decisão, se pergunte: “Faz sentido ter essa pessoa na minha vida?” e “Ela vai me auxiliar na minha evolução?”.

Mulher segurando tablet na altura do rosto.

O perdão é primeiramente para si mesmo, para se libertar, fechar ciclos, abrir novos. Eu sei que é difícil perdoar. Eu mesma demorei para perdoar algumas pessoas e tem umas com quem não convivo mais ou cumprimento, converso, trato com educação, mas quando analisei a situação, concluí, usando meus princípios e valores, que não fazia mais sentido tê-las em minha vida. Tem umas que demorei a conseguir perdoar, que foi um trabalho mais intenso para que eu perdoasse.

Sabe o que fiz para conseguir perdoar? Usei o hooponopono. É uma técnica maravilhosa em que você coloca alguém em mente, o que aconteceu entre vocês, e repete as seguintes frases: “Sinto muito, me perdoe, eu te amo, eu agradeço”. É um mantra maravilhoso que uso sempre que preciso perdoar alguém.

“Sinto muito, me perdoe”, assim você se perdoa, perdoa sua história, o que aconteceu e perdoa os envolvidos. “Eu te amo, eu agradeço” é para demonstrar amor por si mesmo, honrar sua história, o aprendizado e, por meio do amor, perdoar os envolvidos e honrar também essa pessoa, que foi um caminho para a sua evolução.

A ideia desse artigo me veio um dia em que me surgiu esse questionamento sobre o que seria o perdão. Fui pegando opiniões divergentes e, em uma conversa com o meu pai, lancei as perguntas: “O que seria o perdão?”, “Como saber se realmente perdoou a pessoa?”, “Perdoar é esquecer e agir como se nada tivesse acontecido?”.

Ele me deu uma resposta que me fez muito sentido. Se a pessoa pisa no seu pé, machucando-o, tem consciência disso e finge que não o fez e o repete, o melhor a se fazer é se afastar, pois se a pessoa não tem respeito por você, não há sentido em mantê-la em sua vida. Algumas pessoas são transitórias na vida e nem todos vão se manter ao seu lado pelo resto da vida.

Simplesmente adorei essa definição de perdão. Tudo é ciclo, alguns envolvidos estarão contigo em novos ciclos, outros, não. Quando eu falo que não existe essa de amigos para sempre nem amor eterno, como mostram nos filmes, é porque a realidade é diferente. Amigos vêm e vão, conhecemos pessoas novas (é maravilhoso conhecer pessoas) e o amor, no sentido humano da palavra, é uma construção contínua, a maior forma de expressão divina. O amor é altruísta e leve. Quando estamos no estado de compaixão e de amor é quando expressamos o divino em nós. Só assim podemos perdoar. O perdão é para nós, para nos libertarmos. Quando nos libertamos, libertamos os outros.

Sobre o autor

Anne Moon

Anne Moon é uma escritora graduada em letras que nasceu e mora em São Paulo com seus pais e com o irmão mais velho. Desde criança adora escrever e contar histórias. Antes dos 10 anos já havia escrito duas histórias de ficção e uma biografia, e aos 14 anos começou a escrever o primeiro volume, “The Rise of the Fallen”, da série de livros “Dark Wings”

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