Autoconhecimento Reflexões do editor

Reflexões do livro “Cartas a um jovem poeta”

Pessoa envelopando uma carta
Ron Lach / Pexels
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Pense em algo que você ama fazer e imagine que alguém procurasse você em busca de conselhos para começar a fazer essa mesma atividade ou para se aperfeiçoar nela. Foi assim que o aspirante a escritor Franz Kappus entrou em contato com o renomado escritor tcheco Rainer Maria Rilke no início dos anos 1900.

Nas cartas que eles trocaram e que foram compiladas e publicadas no livro “Cartas a um jovem poeta”, Rilke dá diversos conselhos a Kappus, e são conselhos pouco ligados à escrita e mais relacionados à experiência da vida. Então todos nós, escritores ou não, podemos nos aproveitar deles e fazer reflexões a respeito da nossa existência.

Confira a seguir alguns trechos dessa bela obra e reflita conosco a respeito do amor, da solidão, da vida e de muitos outros assuntos essenciais em nossa caminhada:

Perguntas e respostas

“Não busque por enquanto respostas que não lhe podem ser dadas, porque não as poderia viver. Viva por enquanto as perguntas. Talvez depois, aos poucos, sem que o perceba, num dia longínquo, consiga viver as respostas.”

Muitas vezes, nossa ansiedade de viver alguma coisa ou de descobrir alguma coisa nos impede de perceber que pode ser um tempo de reflexão e de pensamento, não de viver algo novo ou de finalmente chegar a alguma conclusão ou desvendar algo. Para que possamos ter respostas, é preciso, antes de mais nada, ter as perguntas, certo? Portanto viver o tempo das perguntas é tão essencial quanto viver o tempo das respostas!

Mulher respirando fundo
Karolina Grabowska / Pexels

Deixe a vida acontecer

“Desejo que encontre bastante paciência em si para suportar e bastante simplicidade para crer; que confie cada vez mais no que é difícil, entre outras coisas na sua solidão. No restante deixe a vida acontecer. Acredite-me: a vida tem razão em todos os casos.”

A vida, apesar de seus tantos estímulos e acontecimentos, é mais simples do que costumamos imaginar que seja. Segundo Rilke, se tivermos paciência, simplicidade e força para viver as coisas que são difíceis, todo o resto nos virá no próprio desenrolar da vida. Mas o verdadeiro ensinamento aqui está no final: muitas vezes, debatemos com a vida como se nós soubéssemos o que é melhor para nós, mas verdade é que a vida sempre tem razão, não importa qual seja o assunto.

Uma dúvida em qualidade

“Toda dúvida pode se tornar uma qualidade se a educarmos…”

Quando você pensa na palavra dúvida, é de se imaginar que a associe a algo ruim, que tira o sono, atrapalha e incomoda, mas toda dúvida, quando aprendemos a lidar com ela e encontramos uma solução para ela, pode se tornar algo que engrandece o nosso caráter e amadurece quem somos. Ninguém vive sem dúvidas, então aprenda a lidar com as suas para viver melhor.

Dificuldades da vida

“É bom ser solitário, pois a solidão é difícil; o fato de uma coisa ser difícil tem de ser mais um motivo para fazê-la. Amar também é bom: pois o amor é difícil.”

Na ânsia de ser feliz, ânsia que somos ensinados a ter, aprendemos que dificuldades nos impedem de alcançar a plenitude que todos dizem que devemos ter, mas a verdade é que aquilo que é difícil é que nos ensina as melhores lições e nos coloca em contato direto com o amadurecimento. Quando aprendemos a lidar com a solidão e o amor, por exemplo, evoluímos e crescemos muito enquanto pessoas.

Mulher sentada em cima de uma rocha
Arthur Brognoli / Pexels

Por necessidade

“Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade.”

Em tempos nos quais muita gente escolhe o que fazer e o que lançar no mundo com o objetivo de ser admirado tanto na vida real quando na vida virtual, fazer alguma coisa por amor ou por necessidade se tornou raridade. Ainda que esse trecho fale sobre arte, poderíamos usá-lo em relação a outros temas: o que parece mais sincero a você, um amor que nasceu por carência ou porque precisava mesmo nascer, com naturalidade?

São bons?

“E se, desse ato de se voltar para dentro de si, desse aprofundamento em seu próprio mundo, resultarem versos, o senhor não pensará em perguntar a alguém se são bons versos.”

Tudo o que nasce naturalmente de nós é bonito e verdadeiro, então deveria ser admirado, independentemente de poder ser classificado como bom e ruim. Quando passamos a criticar e a julgar nossas qualidades como positivas ou negativas, paramos de ver que a verdade é que elas não dizem se somos boas ou más pessoas, mas que somos seres humanos, que estamos vivos!

Solidão necessária

“O que é necessário é apenas o seguinte: solidão, uma grande solidão interior. Entrar em si mesmo e não encontrar ninguém durante horas, é preciso conseguir isso.”

Criança sentada em um banco sob uma árvore
Jeswin Thomas / Pexels

Atualmente, sobretudo por causa da possibilidade de conexões ininterruptas que a internet oferece, estar sozinho virou uma coisa rara e até considerada esquisita. Mas a verdade é que passamos a maior parte das nossas vidas apenas conosco, então encontrar paz em nossa própria presença é algo mais do que necessário, porque estaremos em harmonia com a pessoa mais importante de nossas vidas: nós mesmos.

Por que excluir?

“Por que o senhor pretende excluir de sua vida qualquer inquietude, qualquer dor, qualquer melancolia, sem saber o que essas circunstâncias trazem ao senhor?”

Dores, inquietudes e melancolias podem gerar em nós sentimentos com os quais temos dificuldade de lidar, mas é necessário que naturalizemos a ideia de que essas sensações fazem parte da vida, então não devemos fugir delas, mas, em vez disso, aprender com elas tudo o que puderem trazer para nós para que possamos amadurecer e crescer em nossa jornada de autoconhecimento.

“Pergunte a si mesmo na hora mais tranquila de sua noite: ‘Sou mesmo forçado a escrever?’. Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples ‘sou’, então construa a sua vida de acordo com esta necessidade.”

Esse é um trecho em que o autor fala sobre escrever, mas pergunte a si mesmo: o que é importante o suficiente na sua vida a ponto de você não se imaginar sem isso? Encontre essa resposta, mesmo que demore anos, e, quando encontrá-la, passe a dedicar uma boa parte da sua vida a ela, porque é o que faz a sua vida ter sentido e importância — para si mesmo, acima de tudo.

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Dê razão sempre a si mesmo

“Dê razão sempre a si mesmo e a seu sentimento, diante de qualquer discussão, debate e introdução; se o senhor estiver errado, o crescimento natural de sua vida íntima o levará lentamente, com o tempo, a outros conhecimentos.”

Dar razão sempre a si não significa não escutar os outros ou permanecer fechado para ideias que venham de fora de você. Significa, acima de tudo, aprender a dar ouvidos à sua intuição e aos seus sentimentos em vez de buscar validação externa ou opiniões de fora de si para tomar suas decisões mais importantes.

“Cartas a um jovem poeta”, mais do que literatura, é um compilado de ensinamentos sobre a vida que podem nos fazer refletir sobre nossa caminhada e sobre como lidamos com a existência. Que tal encontrar um tempinho para se dedicar a essa leitura surpreendente e bastante agradável?

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